Campo de produção da Petrosynergy em Alagoas: as pequenas empresas esperam a regulamentação do setor (Cadu Primola/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 23 de novembro de 2012 às 16h39.
São Paulo - Desde a descoberta das gigantescas reservas do pré-sal em 2007, a Petrobras e as grandes multinacionais em operação no país só pensam no desafio de tirar essa riqueza do fundo do mar. Enquanto isso, a produção de óleo e gás em terra — onde tudo começou, com a criação da estatal em 1953 — fica relegada a segundo plano.
Desde 2003, a exploração terrestre vem perdendo espaço — no ano passado, representou somente 9% da produção brasileira, ante 15% em 2002. No momento em que a Petrobras tira o pé dos campos em terra, pequenas empresas, a maior parte delas de capital nacional e mais conhecidas como as nanicas do setor do petróleo, fazem barulho para aumentar a exploração de um segmento considerado promissor por elas — cerca de 90% das bacias terrestres no Brasil não tiveram seu potencial de produção investigado.
Especialistas em revitalizar campos maduros (aqueles que já receberam a atenção da Petrobras) e explorar campos marginais (que produzem menos de 500 barris diários), as nanicas fazem um trabalho de formiguinha. Juntas, extraem 3 000 barris por dia em 39 campos terrestres, a maior parte na Região Nordeste.
Se a Petrobras saísse do caminho, elas argumentam, essa contribuição poderia ser muito maior. Atualmente, a Petrobras concentra mais de 90% das áreas em terra, mas não prioriza essa produção por causa da baixa produtividade. São 28 concessões terrestres em estágio exploratório e 216 em produção.
“O Brasil tem poucas operadoras pequenas em terra porque a Petrobras ainda mantém muitas áreas que não fazem mais sentido para sua escala atual. Se fossem relicitadas ou exploradas por parceiros, poderiam transformar o setor”, afirma Marco Aurélio Tavares, especialista da consultoria Gas Energy.
Estima-se que a revitalização da exploração terrestre atrairia empresas estrangeiras e aumentaria, em alguns anos, o número de nanicas das atuais 19 para algumas centenas. O cálculo toma como parâmetro a realidade americana. Nos Estados Unidos, mais de 30 000 pequenas operadoras tiram de poços terrestres quase 40% da produção nacional de óleo e gás.
Desde o fim do monopólio do petróleo, em 1997, a Agência Nacional do Petróleo realizou apenas três licitações de campos marginais devolvidos pela Petrobras. A última, apelidada de “rodadinha” por ser restrita às concessionárias independentes (que só produzem, não comercializam nem refinam), ocorreu em 2006. Participaram 47 empresas.
Desde então, as pequenas sofrem com a falta de perspectiva de ampliar o negócio. “Há dinheiro e interesse, mas, sem leilões há seis anos, os investimentos estão represados”, diz Alessandro Novaes, presidente da W. Petróleo, que produz 200 barris por dia no interior da Bahia.
Algumas nanicas viraram alvo de multinacionais em busca de uma porta de entrada para o mercado brasileiro. É o caso da Alvopetro, comprada no final de 2011 pela canadense Fortress Energy por 40 milhões de dólares. “Se não houvesse tanto desestímulo, os sócios não teriam vendido”, diz Carlos Eduardo de Freitas, presidente da companhia.
A promessa do governo de realizar em 2013 a 11a rodada de licitações, com metade dos 174 blocos em terra, renovou a esperança dos pequenos produtores, mas ainda não satisfaz. Eles querem novas “rodadinhas” e contratos de concessão adaptados às condições das pequenas, que atualmente cumprem exigências financeiras e tributárias idênticas às das grandes.
Uma regulamentação para o segmento foi aprovada em 2010 e aguarda sanção presidencial. “Essa demora prejudica o país, que perde a chance de explorar suas riquezas”, diz Sergio Paez, presidente da Petrosynergy, que investiu mais de 100 milhões de reais na aquisição de blocos terrestres. “A presidente da Petrobras, Graça Foster, já disse que não tem dinheiro para fazer tudo. Precisamos de uma decisão do governo para nos deixar investir.”
Dada a vastidão das reservas marítimas, o retorno na exploração terrestre é muito baixo, mas o investimento, argumentam as nanicas, também é menor. O custo de perfuração de um poço de 2 000 metros em terra é 3 milhões de dólares. Vencer a mesma profundidade no mar pode custar mais de 50 milhões de dólares.
No caso do pré-sal, esse valor é ainda maior. “É natural que a Petrobras concentre esforços no pré-sal. Dono de hipermercado não vai cuidar de quitanda. Mas nós podemos fazer isso”, diz Novaes, da W. Petróleo. A julgar pelos últimos comunicados da Petrobras, a tese do varejo não vai prosperar.
A empresa já deixou claro que pretende disputar novos blocos terrestres na 11a rodada da ANP. Por todos esses sinais, é mais provável que o elefante permaneça firme em terra — e no caminho das formigas.