(Cristiano Mariz/Exame)
Da Redação
Publicado em 10 de agosto de 2017 às 06h00.
Última atualização em 11 de agosto de 2017 às 12h13.
Mais uma vez, o agronegócio evitou um tombo maior da economia brasileira. Enquanto o produto interno bruto do país caiu 3,6% no ano passado, o PIB do agronegócio — aí incluídas não somente a produção “dentro da porteira” mas também as atividades desenvolvidas fora das fazendas, como a fabricação de insumos e o processamento industrial das matérias-primas fornecidas pelo campo — teve alta de 4,5%.
Mas foi um ano sem o mesmo brilho de outras épocas, em consequência da quebra da safra por problemas climáticos. A safra de milho encolheu 26%, a produção de cana-de-açúcar caiu 3% e a de soja diminuiu 2%.
Com tudo isso, as 400 maiores empresas de agronegócio do Brasil tiveram uma receita líquida de 220 bilhões de dólares em 2016, um recuo de 2,8% em relação ao ano anterior. Os lucros dessas empresas somaram 3,8 bilhões de dólares, pouco mais que o dobro do valor obtido em 2015 — sinal de que muitas companhias tiveram êxito em seus esforços de cortar os custos.
Cabe observar, contudo, que as dez empresas de agronegócio com maiores lucros no ano somaram um resultado positivo de 3,7 bilhões de dólares — portanto, o saldo positivo do ano passado se deveu a um número reduzido de empresas. As três companhias que mais lucraram no ano — Klabin, Suzano e Fibria, todas do setor de madeira e celulose — tiveram, juntas, mais de 2 bilhões de dólares de lucro.
No balanço geral, entre as 400 maiores companhias de agronegócio do Brasil, 272 fecharam 2016 com lucro e 84 tiveram prejuízo (as demais 44 não informaram os resultados). Nas páginas a seguir, conheça as empresas que, num ano em que o país andou para trás, conseguiram se destacar em 11 setores.
AÇÚCAR E ÁLCOOL | A melhor: COPRODIA
Os preços do açúcar e do etanol estiveram acima da média histórica em 2016, e isso foi bem aproveitado pela Coprodia, cooperativa de produtores de cana de Campo Novo do Parecis, em Mato Grosso. A empresa alcançou um lucro de 42 milhões de dólares, quase o dobro do valor obtido no ano anterior. A Coprodia reúne 47 cooperados e tem 35 000 hectares de cana plantados. “Hoje estamos moendo em torno de 2,8 milhões de toneladas de cana por safra, produzindo 180 milhões de litros de etanol anidro e hidratado”, diz Luis Carlos Loro, presidente da Coprodia. Esse volume é suficiente para suprir o consumo de etanol em todo o Brasil por dois dias.
ADUBOS E DEFENSIVOS | A melhor: ADUFÉRTIL
Em um negócio dependente de importação de matéria-prima, a Adufértil, fabricante de fertilizantes de Jundiaí, no interior paulista, não se protegia contra a variação cambial e sofreu perdas expressivas com a alta do dólar em 2015. No ano passado, a empresa mudou de estratégia. “Implementamos uma política financeira voltada para a manutenção da liquidez e para reduzir os efeitos da variação cambial”, diz Daniel Lopes, diretor financeiro da empresa. Deu certo. A Adufértil faturou 156 milhões de dólares e lucrou quase 11 milhões de dólares — revertendo o prejuízo de 7 milhões de dólares de 2015. Para os acionistas, isso gerou um retorno de 67% sobre o patrimônio líquido.
ALGODÃO E GRÃOS | A melhor: BROTO LEGAL
A crise econômica está, de certa forma, dando um empurrãozinho nos negócios da Broto Legal, empresa que atua no beneficiamento de arroz e feijão. “Muita gente deixou de gastar em restaurante e começou a comprar produtos básicos para fazer as refeições em casa”, diz Hugo Fujisawa, diretor da companhia. Nem mesmo a alta do feijão — a saca, que hoje custa 170 reais, chegou a ser vendida por 550 reais em maio de 2016 — atrapalhou a empresa. “Não perdemos negócio. Podemos baixar um pouco o preço do feijão e compensar subindo o preço do arroz”, diz Fujisawa. Em 2016, a Broto Legal faturou 134 milhões de dólares, 44% mais do que no ano anterior.
AVES E SUÍNOS | A melhor: C. VALE
A C. Vale, cooperativa agroindustrial de Palotina, no Paraná, tem um complexo avícola com capacidade para abater 600 000 frangos por dia. Sua produção é exportada para mais de 70 países. “O frango é responsável pela maior parte de nossa receita industrial, mas a rentabilidade em 2016 caiu devido à alta do custo do milho e da soja, que são componentes das rações”, diz Alfredo Lang, presidente da C. Vale. A sorte é que a cooperativa tem uma atuação bem diversificada, e negócios como a produção de grãos e leite e a comercialização de insumos ajudaram a C. Vale a fechar o ano com uma receita de 2,1 bilhões de dólares, valor 14% superior ao do ano anterior.
CAFÉ | A melhor: CACIQUE
A paranaense Cacique, maior exportadora brasileira de café solúvel, bateu seu recorde- de vendas ao mercado externo em 2016 com o embarque de 30 000 toneladas, 17% mais do que no ano anterior. Com isso, faturou 342 milhões de dólares e lucrou 42 milhões — quatro vezes o valor obtido em 2015. Se tudo correr bem, a Cacique deverá se concentrar ainda mais na exportação de café solúvel, seu principal negócio. Em janeiro, a holandesa JDE, dona do café Pilão, anunciou ter chegado a um acordo para comprar as marcas da Cacique vendidas no Brasil, como Café Pelé e Graníssimo. O negócio ainda depende da aprovação do Cade, o órgão de defesa da concorrência.
LEITE E DERIVADOS | A melhor: LEITESOL
Com uma baixa na oferta de leite, os preços pagos pelos laticínios aos produtores subiram mais de 20% no ano passado. Mesmo assim, a Leitesol, fabricante de leite em pó e derivados, faturou 96 milhões de dólares em 2016, um crescimento de 24% em relação ao ano anterior. O segredo? A Leitesol driblou a falta de matéria-prima trazendo mais leite em pó da Argentina, onde fica a sede do grupo Mastellone, controlador do laticínio do interior paulista desde 1996. “Investimos 2 milhões de dólares em novas máquinas para nossa fábrica em Bragança Paulista”, diz Sebastián Luis Maraggi, presidente da Leitesol, sobre o mais recente aporte de recursos argentinos no Brasil.
MADEIRA E CELULOSE | A melhor: KLABIN
Uma das mais antigas empresas em atividade no Brasil — foi fundada em 1899 —, a Klabin, maior produtora de papéis do país, considera o ano de 2016 um divisor de águas em sua história. Foi o ano em que ela inaugurou seu maior empreendimento, o Projeto Puma, como batizou a fábrica de celulose em Ortigueira, no Paraná. Fruto de um investimento de 8,5 bilhões de reais, a nova unidade industrial praticamente dobrou a capacidade de produção de celulose da Klabin. Com a ajuda da fábrica, a empresa obteve no ano passado uma receita de 2,2 bilhões de dólares, 15% mais do que em 2015. O lucro somou 886 milhões de dólares — o maior do agronegócio no ano.
MÁQUINAS, EQUIPAMENTOS E FERRAMENTAS | A melhor: JACTO
A Jacto vem buscando modernizar sua linha de implementos agrícolas. Em 2016, por exemplo, lançou pulverizadores dentro do conceito de internet das coisas, conectando os aparelhos à rede mundial de computadores. “Esse conceito transforma o uso dos produtos e permite um nível de gestão até então não imaginado”, diz Fernando Gonçalves Neto, presidente da Jacto. De seu escritório, o produtor pode monitorar o desempenho dos pulverizadores, colhendo dados que o ajudarão a definir o uso mais eficiente das máquinas. Com inovações como essa, a Jacto garantiu uma receita de 330 milhões de dólares e um lucro de 15 milhões no ano passado.
ÓLEOS, FARINHAS E CONSERVAS | A melhor: MOINHO ANACONDA
Cautela foi a palavra de ordem do Moinho Anaconda em 2016. A empresa paulista, especializada em farinhas customizadas — feitas de acordo com a especificação do cliente —, não fez nenhum lançamento no ano passado. A estratégia para manter o volume habitual de comercialização foi rastrear novos clientes. “Alcançamos a marca de 8 000 clientes e, embora o tíquete médio tenha caído em razão da queda do consumo, conseguimos um bom resultado”, diz Valnei Vargas, presidente do Moinho Anaconda. No fim, a empresa obteve uma receita de 206 milhões de dólares, 2% mais do que no ano anterior, e lucrou 37 milhões de dólares.
REVENDA DE MÁQUINAS E INSUMOS | A melhor: M.A. MÁQUINAS
O setor de máquinas agrícolas não começou bem o ano de 2016. As incertezas com a crise política levaram muitos produtores a adiar as compras. Mas a situação melhorou com a alta de produtos básicos, como soja e milho, a partir da metade do ano. Foi o suficiente para salvar o ano da M.A. Máquinas Agrícolas, concessionária da marca americana John Deere, com 11 lojas no Paraná. A empresa faturou 132 milhões de dólares e lucrou 10,5 milhões de dólares, com um retorno de 14% sobre o patrimônio, a maior taxa do setor. “Nosso carro-chefe foi a área de colheitadeiras, na qual tivemos um aumento de 18% nas vendas”, diz Marcos Antônio Giombelli, diretor da companhia.
TÊXTIL | A melhor: VICUNHA
O consumo de roupas no Brasil caiu 6% no ano passado, de acordo com a Iemi, empresa de pesquisa de inteligência de mercado. Mas, graças à sua estratégia de diversificação e expansão na América Latina, a Vicunha conseguiu aumentar o volume de vendas em 7% e faturou 379 milhões de dólares em 2016. Além disso, a empresa bateu seu recorde de produção: 170 milhões de metros de tecidos. E quer mais. “Nos últimos dez anos, investimos mais de 850 milhões de reais e neste ano estão previstos mais de 150 milhões reais. Metade desse valor será destinada ao aumento da capacidade produtiva”, diz Ricardo Steinbruch, sócio e presidente da Vicunha.