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Para aliviar o estresse da quarentena e com o impulso das redes sociais, a ioga vira a atividade do momento

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Ivan Padilla

Ivan Padilla

Publicado em 21 de maio de 2020 às 05h15.

Última atualização em 12 de fevereiro de 2021 às 13h00.

“Você conhece o Down Dog?” Um amigo me fez essa pergunta no início de abril. Não, eu não conhecia. Depois de pesquisar, vi que se trata de mais um entre as dezenas de aplicativos de ioga na App Store — e o mais bem avaliado, com 4,9 pontos de 5. Com versão em português, cada sessão permite uma série de customizações. Pode-se escolher, por exemplo, o tempo de duração da prática, de 7 a 90 minutos; entre cinco níveis de experiência, de iniciante a avançado; 11 modalidades, como flow rápido, restaurativo e gentil; 17 tipos de ênfase, de flexibilidade a equilíbrio em pé, passando por força no core e no glúteo. Até a música pode variar, de piano e cordas a Amy Winehouse. São mais de 50.000 combinações. Uma aula é sempre diferente da outra.

Outros aplicativos, como Yoga para Iniciantes, Asana Rebel e Pocket Yoga, têm registrado crescimento de acesso e milhares de novos downloads a cada mês. Um dos mais populares, o Nike Training Club, teve um aumento de quase dez vezes na frequência de treinos de ioga na primeira semana de quarentena, em março. De lá para cá, a base de novos usuários cresce três dígitos semana após semana, em relação a 2019. “O número abrange todos os treinos disponíveis dentro do app, mas, considerando que temos mais de 15 treinos de ioga, podemos afirmar que a modalidade ocupa boa parte desse recorte”, afirma Gustavo Viana, diretor de marketing da Nike do Brasil.

Neste momento de quarentena em razão da pandemia do coronavírus, a procura pela atividade nos canais digitais só tem crescido, por uma combinação de fatores. Estamos com mais tempo disponível, a prática não requer equipamentos além de um tapete de borracha sintética e o momento pede novas reflexões. “As pessoas têm procurado se manter ativas, fisicamente e principalmente mentalmente, e descobriram na ioga a combinação perfeita”, diz Viana. Para o instrutor Pedro Kupfer, o medo da doença e a incerteza da crise estão nos levando a uma busca por autoconhecimento. “A ioga é um porto de fuga quando a pressão aumenta e uma arma poderosa para desmontar o mecanismo do estresse”, afirma.

Nascido no Uruguai, Kupfer viveu durante mais de três décadas no Brasil, entre São Paulo e Florianópolis, e tornou-se um dos professores mais respeitados no país. Há sete anos morando em Portugal, ele aproveitou o momento de quarentena para investir nas aulas online. Comprou equipamentos, construiu um estúdio em casa e montou uma grade em seu canal no YouTube. “Antes, atendia 20, 30 pessoas por sessão. Agora, são mais de 150”, afirma. “Minhas aulas eram mais voltadas para brasileiros, mas hoje tenho alunos da Namíbia, do Havaí, da Bélgica. Meu alcance quintuplicou, em todos os sentidos. A ioga fica muito mais acessível com os meios digitais.”

A ioga vem se popularizando nos países ocidentais, no Brasil inclusive, há pelo menos duas décadas. Mas os meios digitais agora estão dando um novo impulso à prática. Esse boom também pode ser medido pela procura por roupas e acessórios, como tapetes e blocos de apoio. As vendas dessa categoria cresceram 281% entre o início de janeiro e a primeira semana de maio no Brasil, segundo uma pesquisa global realizada pela Criteo, empresa de tecnologia voltada para profissionais de marketing. Foram analisados dados de nove sites que comercializam produtos para ioga. O mesmo índice foi levantado em dez outros países. Todos — Alemanha, Itália, Espanha, Reino Unido, Estados Unidos, Japão, Coreia do Sul, Holanda, Rússia e Austrália — registraram crescimento, mas em percentual menor do que o mercado brasileiro.

Uma das marcas especializadas na categoria é a Yogini. Com as sete lojas em São Paulo fechadas, a venda online de tapetes e peças como calças de viscose de bambu quadruplicou, de 25 para 100 unidades diárias, em relação aos dias anteriores ao decreto da quarentena. A Decathlon, multinacional com 30 lojas no Brasil, registrou um crescimento de venda ainda maior, de dez vezes, em relação ao período pré-pandemia. O produto mais procurado, o tapete, representa mais de 50% das vendas.

É fácil encontrar analogias entre a prática e o dia a dia da sociedade contemporânea. Em uma postura, não se pode estar nem totalmente confortável nem completamente desconfortável, sob risco de acomodação ou estagnação. Como em outras atividades solitárias, você é seu próprio gestor e administra sua entrega, num equilíbrio delicado entre limite e motivação. Para posturas de equilíbrio, os pés devem estar firmes — uma base sólida é o ponto de partida para a expansão. É preciso sempre dosar força com flexibilidade. A respiração, fundamental, dita o ritmo, dá energia e clareia os pensamentos.

Quanto a mim, praticante bissexto com passagem esporádica por mais de uma dezena de centros e escolas de ioga, baixei o Down Dog, aproveitando a promoção de um mês de teste gratuito. Peguei ritmo, passei a praticar diariamente e fiz uma assinatura. Pretendo nunca mais parar. Mas só garanto até o fim da quarentena.

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