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Andrew Mason, do Groupon, foi bilionário por pouco tempo

O fundador do Groupon foi bilionário por exatos 18 dias — mais uma evidência de que o oba-oba em torno das novas empresas de internet era um baita exagero

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Da Redação

Publicado em 14 de dezembro de 2011 às 09h33.

São Paulo - O americano Andrew Mason, fundador do site de compras coletivas Groupon, foi bilionário por 18 dias. No início de novembro, sua empresa fez uma das aberturas de capital mais aguardadas do ano. A demanda pelas ações superou a oferta em mais de dez vezes, e os papéis subiram 30% só no primeiro pregão.

Com apenas dois anos de vida, o Groupon passou a valer mais que a Xerox. Não é à toa que Mason estivesse sorrindo de orelha a orelha: sua fatia na companhia chegou a 1,2 bilhão de dólares. Mas o entusiasmo parou por aí. As ações do Groupon começaram a cair no dia seguinte ao IPO e, pouco depois, foram abaixo do preço da estreia.

No fim de novembro, a desvalorização chegou a 30%. Feitas as contas, Mason perdeu cerca de 300 milhões de dólares. O Groupon é um caso entre muitos. Das 31 empresas de internet que abriram o capital neste ano, 21 valem hoje menos do que no IPO.

Como em filmes de terror que seguem roteiro mais ou menos parecido, quase todas essas ações subiram muito na estreia, mas, dias mais tarde, os investidores simplesmente desistiram delas.

Apesar de o sobe e desce ter características de enlouquecer qualquer investidor, não há o menor sinal de que o fenômeno vá ser interrompido. Pelo contrário, até. As empresas de tecnologia levantaram quase 40 bilhões de dólares em aberturas de capital desde 2010.

Foi o setor que mais levou empresas à bolsa nos últimos três anos. Esse fenômeno é global. Apenas 12 das 31 companhias de internet que fizeram IPO neste ano são americanas. As outras são chinesas, russas e neozelandesas.

Até agora, a maior desvalorização foi a do RenRen, o Facebook chinês, que perdeu 80% de valor de mercado desde que estreou na bolsa de Nova York, em maio.

Há uma fila de empresas dispostas a entrar nesse clu­be. A Zynga, que faz jogos para redes sociais, pretende levantar cerca de 1 bilhão de dólares no início de 2012.

Es­pe­ra-se que o Facebook faça um IPO de 10 bi­lhões de dólares no primeiro semestre do ano que vem — se confirmado, será o quarto maior da história da bolsa americana e dará à companhia um valor de mercado de 100 bi­lhões de dólares, maior que os de Pepsico e Visa. No início deste ano, o Facebook foi avaliado em 50 bilhões de dólares pelo banco americano Goldman Sachs.


Por definição, empresas de alta tecnologia que chegam à bolsa são particularmente propícias à especulação. É fácil, por exemplo, calcular o valor de uma varejista que pretende abrir o capital.

Pega-se um parâmetro qualquer — a geração de caixa ou o valor de seus ativos — e, feitas as comparações com empresas semelhantes que já estão na bolsa, o mercado chega num preço que dificilmente surpreenderá alguém. Com empresas de tecnologia, a coisa é diferente.

Ninguém sabe ao certo como avaliar seus resultados. Como a maioria delas lançou negócios totalmente novos — redes sociais, compras coletivas etc. —, não há histórico de desempenho ou comparações setoriais que permitam avaliar o que é uma margem de lucro ou uma geração de caixa razoáveis.

Fora isso, algumas nunca saíram do prejuízo — é o caso de Groupon, Angie, que fabrica jogos para smartphones, e Pandora, uma espécie de rádio online. Quando reina o otimismo, essa nuvem cinzenta dá espaço a surtos de valorização sem pé na realidade. Quando o ceticismo toma conta, a queda vem em velocidade parecida.

“Nenhum investidor quer perder o novo Google”, diz Rick Summer, analista da empresa americana de investimentos Morningstar. “E nenhum investidor quer embarcar numa nova bolha da internet. Assim, seguem a manada, compram na alta e vendem ao menor sinal de problemas.”

Dada a miríade de casos repetidos de euforia seguida de depressão, ficou fácil ganhar dinheiro especulando na alta e, claro, também na baixa das empresas de tecnologia que abriram seu capital em 2011. Essa dinâmica foi resumida brilhantemente pelo apresentador Jim Cramer, que comanda um popular programa de finanças na TV americana.

Segundo ele, a melhor estratégia para ganhar dinheiro com a abertura de capital de uma empresa de internet é comprar suas ações antes do IPO e vendê-las logo no primeiro pregão.

“Não é um papel para comprar no dia seguinte”, afirma Cramer. No caso do Groupon, a facilidade que a concorrência tem de replicar seu modelo de negócios foi a maior justificativa de quem viu naquela euforia inicial um brutal exagero — e, portanto, oportunidade de ganhar um dinheirinho fácil apostando na baixa das ações.  

Bolhinha?

Já não bastasse esse ambiente — extremamente propício à especulação mais desbragada —, as empresas têm adotado uma estratégia controversa para empurrar os preços para cima.


A moda é lançar na bolsa uma quantidade de ações correspondente a uma pequena parcela de seu capital total — em média, de 18% (o Groupon fez uma oferta de apenas 5%), quando o mais comum é vender cerca de 25% das ações no dia do IPO. Com uma oferta baixa e uma demanda alta, os preços sobem.

Mas, passado o oba-oba dos primeiros pregões, os papéis da maioria das novatas caíram entre 13% e 60% nos seis meses seguintes, segundo um levantamento da consultoria Dealogic, especializada em estatísticas do mercado de capitais. Até a ação do LinkedIn, uma das únicas que continuam acima do preço do IPO, desvalorizou cerca de 30% nas últimas semanas.

Dado esse ciclo de valorizações abruptas e quedas repentinas, é natural que ganhe ainda mais força a discussão em torno da formação de uma bolha no setor de tecnologia.

É claro que, para os preocupados, rememorar a verdadeira bolha (a dos anos 90) equivalerá a uma injeção de calmante na veia. Tem-se, hoje, no máximo, uma bolhinha. A euforia da década retrasada é um caso único.

Não há notícia, agora, de casos escandalosos, como a abertura de capital da empresa de comércio eletrônico Webvan, que chegou a valer cerca de 6 bilhões de dólares em 1999 mesmo faturando 5 milhões de dólares por ano (a Webvan quebrou dois anos depois de estrear na bolsa).

Atualmente, 2 bilhões de pessoas têm acesso à internet, 10 000% mais que em 2000. O estouro da bolha afundou o mercado acionário americano e empurrou o país para a recessão — não custa lembrar que, para impulsionar a maior economia do mundo, o banco central americano deixou os juros num patamar baixíssimo por anos, até que outra bolha (a imobiliária) se formasse.

O que se tem hoje é um punhado de ações subindo e descendo alucinadamente. Nada, portanto, que coloque em risco a saúde do mercado acionário. Após uma onda de IPOs, é esperado que haja uma depuração — quem consegue apostar nas vencedoras acaba ganhando muito dinheiro.

Quando o Google abriu o capital, em 2004, seus papéis andaram de lado por meses antes de subir mais de 500%. É provável que surja um grupo de vitoriosas também nesse novo ciclo. Quem sabe até Andrew, o Breve, tenha motivos para sorrir de novo.

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