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A maior economia da Europa vive situação de 'amarelo piscante' à espera de novas eleições

Alemanha terá ano decisivo em meio a crise política e econômica

Greve da Volkswagen em Wolfsburg: indústria de carros vive crise por dificuldade de competir com a China (Martin Meissner/Getty Images)

Greve da Volkswagen em Wolfsburg: indústria de carros vive crise por dificuldade de competir com a China (Martin Meissner/Getty Images)

Rafael Balago
Rafael Balago

Repórter de macroeconomia

Publicado em 19 de dezembro de 2024 às 06h00.

O governo da Alemanha é formado por uma coalizão, apelidada de semáforo, que une o SPD (Partido Social Democrata), conhecido pela cor vermelha, o FDP (Democratas Livres), amarelo, e o Partido Verde. Esse grupo entrou em colapso na reta final de 2024, e as eleições gerais serão antecipadas de setembro para fevereiro de 2025. O semáforo entrou em modo amarelo piscante, à espera de conserto.

A crise política na Alemanha se soma à freada na economia. O país deve fechar 2024 com o segundo ano consecutivo de queda no PIB: houve encolhimento de 0,3% em 2023, e o governo prevê queda de 0,2% neste ano. Ao mesmo tempo, a Alemanha enfrenta inflação alta, que somou 5,9% em 2023 e deve atingir 2,2% no final de 2024.

“A Grécia vai crescer mais do que a Alemanha. Se alguém dissesse isso cinco anos atrás, seria um disparate”, diz Daniel Celano, country head da ­Schroders, gestora de investimentos sediada em Londres. Ele destaca dois problemas alemães:  o avanço da China em produtos industriais cada vez mais complexos, como os carros, e a alta do preço de energia após a guerra na Ucrânia. “O custo de energia está muito alto. É três ou quatro vezes maior do que nos Estados Unidos”, compara.

A crise atinge uma das principais empresas alemãs. No começo de dezembro, funcionários da Volkswagen entraram em greve contra um corte de 10% nos salários e o risco de fechamento de fábricas, em análise pela empresa, que enfrenta queda nas vendas. 

Como estão as pesquisas na Alemanha

Nesse cenário, o partido de extrema direita AfD (Alternativa para a Alemanha) tem ganhado espaço. Um agregador de pesquisas do Financial ­Times revela que a legenda está em segundo lugar, com 18% das intenções de voto, quase o dobro do que teve nas últimas eleições, em 2021 (10,3% dos votos).

O bloco CDU/CSU (Democratas Cristãos), da ex-chanceler Angela Merkel, lidera as pesquisas, com 33%. O SPD, vermelho, do atual chanceler Olaf Scholz, tem 15,2% de preferência. O AfD promete medidas que lembram as de Donald Trump nos EUA, como deportar imigrantes irregulares e fechar fronteiras, e questiona a ajuda à Ucrânia. A legenda tem buscado se aproximar dos partidos CDU e FDP para formar um governo de coalizão.

“Chamamos esses partidos para aceitar sua responsabilidade e fazer um acordo conosco. Afinal, representamos milhares de eleitores”, disse Alice Weidel, copresidente do partido. Scholz tem feito críticas ao AfD, a quem acusa de “prejudicar a Alemanha, enfraquecer a economia, dividir a sociedade e arruinar a reputação do país”.

Em novembro, um grupo de 113 parlamentares iniciou um processo para tentar banir o AfD, ao acusá-lo de ser antidemocrático e anticonstitucional. A Alemanha tem leis duras contra a apologia ao nazismo e busca evitar o nacionalismo, para impedir que um movimento similar ao nazista possa ressurgir.

Para 2025, o governo estima que o país volte a ter um crescimento modesto, de 1,1%, puxado por um pacote de reformas que depende do aval do Congresso para ser implantado, em outra face da crise política que alimenta os problemas econômicos — e vice-versa. As pesquisas mostram que CDU/CSU e SPD poderiam obter votos suficientes para terem maioria no Parlamento e formarem um governo, sem precisarem se unir com a AfD. É um claro sinal amarelo na maior economia europeia.

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