Rafael Salles, CEO da Allos: "Somos um importante canal de comunicação e conscientização para transbordar ao público exemplos e práticas que enxergamos como essenciais para o futuro sustentável" (Leandro Fonseca/Exame)
Publicado em 18 de junho de 2024 às 06h00.
O ano de 2023 foi de adaptação para a Allos, empresa surgida da fusão entre brMalls e Aliansce Sonae, redes de shopping centers. Além de revisitar o planejamento estratégico e comunicação, o plano ESG da companhia passou por uma transformação para acomodar shoppings em diferentes estágios de maturidade nas metas ambientais.
De acordo com Paula Fonseca, diretora jurídica e líder de ESG na Allos, os quase 60 estabelecimentos que a empresa administra passaram a contar com metas. Até 2030, 90% dos resíduos em todos os shoppings serão destinados para reciclagem ou compostagem. Atualmente, a taxa está em 50%. Do total, 77% apresentam algum modelo de compostagem ou separação do lixo.
Shoppings como Eldorado (São Paulo), Leblon (Rio de Janeiro) e Parque Dom Pedro (Campinas) já destinam mais de 90% do seu lixo de forma correta. Outros dois, Passeio das Águas (Goiânia) e Metrópole (São Bernardo do Campo), têm taxas acima dos 80% no aproveitamento dos resíduos.
Para Rafael Salles, CEO da Allos, a empresa atua como uma catalisadora de ações ESG em diferentes regiões. “A função social do shopping é muito mais ampla. Os nossos shoppings, cada vez mais, fazem parte da vida das pessoas, o que nos fez perceber como somos um importante canal de comunicação e conscientização para transbordar ao público exemplos e práticas que enxergamos como essenciais para o futuro sustentável do planeta”, diz.
A empresa também busca utilizar somente energia renovável até 2030. A taxa atual é de 85% entre os shoppings. Todos contarão com uma forma de reúso da água, seja por tratamento de esgoto, seja por aproveitamento da água pluvial. A neutralidade de carbono deve ser atingida em 2040, segundo o executivo.
O desafio de equilibrar os diferentes níveis de atuação em ESG nos shoppings é um dos motivos para ações de comunicação e integração no tema. No ano passado, a companhia fez pesquisas para entender o posicionamento de seus stakeholders, além de um censo interno para entender a taxa de diversidade entre os seus funcionários. Ao todo, a empresa conta com 40,7% de pessoas negras, 45% de mulheres e quase 9% de profissionais LGBTQIAP+.
A promoção da diversidade também está entre as metas de aumento para 2030. O objetivo é que mulheres sejam 55% dos líderes em posições acima da gerência. O processo para aumentar a presença de líderes negros passa por uma parceria com o Movimento pela Equidade Racial, do qual a Allos é associada. O objetivo é que a companhia tenha 44% de lideranças negras, levando em conta cargos acima da supervisão.
Segundo Paula Fonseca, a Allos não conta com uma área específica de ESG para que o tema seja visto com igualdade entre todas as diretorias da empresa. “Todas as áreas têm ações sociais, ambientais e de governança entre as suas metas, o que define até mesmo o bônus na remuneração dos funcionários”, explica.
Sales complementa que o ESG atua transversalmente em todo o negócio. “Prova disso é a criação de uma comissão multidisciplinar para discutir e definir todas as ações ancoradas no conceito de sustainable living centers, fazendo com que nossos espaços possam promover e inspirar a sustentabilidade”, conta o CEO.
O desafio para 2024 é caminhar para atingir as metas anuais e cumprir os objetivos no final da década em todos os shoppings. “No ano passado, não incluímos metas para os shoppings ‘legado’ que não tinham esses planos ambientais de forma madura. Todos agora apresentam essas metas, o que é um salto para sua operação e para a estratégia da companhia”, aponta a executiva.
DESTAQUES DO SETOR
As empresas que junto com a Allos se destacaram em Construção Civil e Imobiliário
A Tegra está mudando sua estratégia para garantir material mais sustentável na construção civil, visando reduzir suas emissões em até 50% até 2030 nos escopos 1 e 2 e em 15% no escopo 3. Angel Ibañez, diretor de suprimentos e ESG da Tegra, afirma que a produção de material ecoeficiente é parte essencial da estratégia de descarbonização.
A empresa já utiliza um concreto desenvolvido internamente e um aço a base de sucata e produzido com energia renovável, reduzindo as emissões em até 50%. O investimento em economia circular até 2030 será de 30 milhões de reais, incluindo programas de logística reversa e inovação sustentável. Na área social, a Tegra pretende impactar positivamente 2,5 milhões de pessoas até 2030 com ações como a revitalização de praças públicas e a contratação de grupos vulneráveis para reintegrá-los na economia.
No combate ao analfabetismo nos canteiros de obra, a construtora MRV se destacou em sua atuação ESG. Por meio do programa Escola Nota 10, em parceria com a organização Alicerce Educação, a empresa busca alfabetizar seus colaboradores e promover ensinamentos de educação financeira, técnicas de construção civil e segurança do trabalho. Foram certificados 332 alunos em 2023, com a construção de 45 centros de educação e investimento de 1 milhão de reais.
A empresa também criou o projeto Maestro para mensurar impactos ambientais e de biodiversidade de suas construções, em parceria com o Governos Locais pela Sustentabilidade. Para 2024, o desafio é atualizar compromissos ambientais sem prejudicar a construção civil, com o objetivo de reduzir em 2 gigatoneladas as emissões de gases de efeito estufa até 2033, como parte do Pacto Global da ONU.