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Agora sim a Amazon poderá dizer que "chegou" ao Brasil

A Amazon começou em ritmo lento no Brasil. Até hoje, só vende livros por aqui. Mas os tempos de timidez estão ficando para trás

Centro de distribuição da Amazon: a empresa acelera no Brasil  (Uwe Zucchi/Divulgação)

Centro de distribuição da Amazon: a empresa acelera no Brasil (Uwe Zucchi/Divulgação)

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Letícia Toledo

Publicado em 27 de maio de 2017 às 05h55.

Última atualização em 27 de maio de 2017 às 05h56.

São Paulo — Para uma empresa que domina o varejo americano, o site de comércio eletrônico Amazon vinha se notabilizando por crescer no Brasil num ritmo estranhamente lento. A companhia, que foi fundada por Jeff Bezos há mais de 20 anos e vale quase meio trilhão de dólares em bolsa, começou a operar por aqui há cinco anos. Claro, as notícias de que a Amazon chegaria ao Brasil deixaram os demais varejistas apavorados: com a força financeira que tem, seria de esperar que chegasse dando descontos para se estabelecer nos diversos segmentos do varejo nacional.

Mas, para felicidade geral da concorrência, a Amazon começou devagarinho. Em 2012, só vendia livros eletrônicos. Dois anos depois, partiu para a venda de “livros físicos”. Mantendo a política de dar um passo de cada vez, no dia 12 de abril, a Amazon anunciou que criaria no Brasil seu “marketplace” de livros — ou seja, abriria o site para outras livrarias. O que não foi anunciado é que o marketplace de livros é um teste para aquilo que sempre se esperou. A  Amazon está se preparando para, até o fim do ano, entrar nos demais segmentos do varejo. Aí, sim, o gigante vai poder dizer que chegou ao Brasil.

Segundo EXAME apurou, a empresa lançará nos próximos meses um market-place nos moldes do que tem nos Estados Unidos. Lá, metade do faturamento da Amazon vem da venda de produtos de outras lojas. É possível comprar tudo, de salmão fresco a violinos. É exatamente o que a companhia pretende fazer no Brasil.

As primeiras semanas do marketplace de livros mostram o potencial desse tipo de iniciativa. Em menos de 24 horas, o número de livros em português à venda no site dobrou: passou de pouco mais de 150 000 títulos para 300 000. Mais de 1 000 vendedores já estão cadastrados no site da empresa, desde pessoas querendo se desfazer de seus livros usados até livrarias tradicionais — como a paulista Martins Fontes e a paranaense Livrarias Curitiba — que tentam angariar novos clientes.

“O aumento no volume de vendas justifica nossa entrada, por mais que tenhamos de abrir mão de parte de nossa margem. Estamos recebendo mais pedidos do que imaginávamos”, diz Alexandre Martins Fontes, sócio da Martins Fontes. Nesse modelo, o site que hospeda o marketplace fica com um percentual das vendas e a empresa responsável pela venda entrega o produto. O objetivo da Amazon é chegar primeiro a setores como informática, eletrônicos, telefonia e moda para aproveitar as vendas de fim de ano. Alex Szapiro, presidente da Amazon no Brasil, não comenta os planos da empresa. “Mas estamos contratando como loucos”, diz o executivo.

O desempenho da Amazon na venda de livros mostra que empresas de comércio eletrônico, como B2W e Via Varejo, têm com que se preocupar. Ao contrário das principais livrarias do país, que trabalham com consignação, a Amazon compra os livros da editora e os mantém num centro de distribuição que fica em Bauru, no interior de São Paulo. A estratégia torna mais fácil garantir ao consumidor que os livros chegarão no tempo estipulado e também agrada às editoras — que conseguem ter um fluxo de caixa mais previsível.

Há um ano, a Amazon era responsável por cerca de 4% das vendas das maiores editoras do Brasil. Hoje, estima-se que o número tenha passado para 10%. Com redes de livrarias em crise, as próprias editoras se preparam para um cenário em que a Amazon tenha uma fatia ainda maior do mercado. A movimentação mais agressiva da empresa vem num momento de fraqueza do setor.

A B2W (que reúne as operações da Americanas.com e do Submarino.com) teve um prejuízo recorde de 485 milhões de reais em 2016, o sexto consecutivo. A empresa, que já teve 55% do mercado de comércio eletrônico brasileiro em 2008, hoje tem pouco mais de 20%. Na segunda maior empresa do setor, que até outubro do ano passado operava sob o nome de Cnova, e que reúne os sites das varejistas Casas Bahia, Ponto Frio e Extra, as receitas recuaram 16,3% em 2016.

Apesar de todo o seu poder de fogo, a Amazon terá dificuldade em repetir no Brasil a hegemonia que conquistou nos Estados Unidos. A operação logística da empresa, um colosso que faz toda a diferença lá fora, é completamente diferente no Brasil. No exterior, a Amazon tem centros de distribuição para abrigar os produtos dos lojistas e uma transportadora própria para garantir que o cliente receba o que comprou no tempo estimado.

Aqui, por enquanto, tanto o centro de distribuição quanto o transporte que a Amazon realiza são de companhias terceirizadas. Além disso, as maiores lojas online brasileiras já têm o próprio marketplace. “É óbvio que a Amazon é gigantesca. Mas, além do marketplace, temos venda própria. Isso nos dá uma força e uma combinação muito poderosa”, diz Peter Estermann, presidente da Via Varejo. A briga promete.

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