Como em um videogame: para esses jovens, o mais importante é ter uma experiência e passar para a fase seguinte (Andreas Rentz/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 11 de setembro de 2013 às 06h00.
São Paulo - Você certamente já teve de lidar com alguém que pertence à chamada geração Y. Talvez, com sorte, você seja um deles. Trata-se daqueles rapazes ou moças (aliás, cada vez mais moças) nascidos a partir da metade da década de 80 e que têm um comportamento peculiar que desafia a compreensão — e não raro — a paciência de pessoas como eu, que já passaram dos 40.
Antes de entrar nas características de comportamento da geração Y no ambiente de trabalho, um fato: eles — os Y — já são 1,8 bilhão no mundo. Estima-se que, em 2025, serão 75% da força de trabalho. Esses fatos são óbvios. Desde que o mundo é mundo, os jovens substituem os, digamos, antigos. Portanto, desista de qualquer tentativa de evitá-los. Será inútil.
Sendo assim, é melhor conhecê-los. Os Y são seres inquietos (bom) e impacientes (ruim). Essas características foram estimuladas pela nossa geração e pela anterior. Somos um grupo de pais e mães que trocaram boa parte do tempo antes dedicado à família pelo sonho de ascensão profissional e pessoal.
O preço pago foi a culpa — carregada, sobretudo, pelas mulheres. Culpa leva à expiação. Os pais das décadas de 80, 90 e os destas primeiras décadas dos anos 2000 acostumaram-se a manifestar amor dando tudo o que os filhos desejam.
A palavra NÃO — tão importante na vida — passou a ser evitada nas relações entre pais e filhos. Pelo menos para a classe média, essas relações passaram a ser pautadas pelos excessos — materiais e emocionais.
Isso mais a influência crescente da tecnologia, que faz com que tudo pareça instantâneo, passageiro e dê a impressão de que as consequências não podem ser piores do que perder num jogo de videogame e ter de começar tudo de novo, forjaram uma geração de profissionais imediatistas, quase avessos a qualquer tipo de vínculo com as empresas em que trabalham, ávidos por desafios que nem mesmo eles sabem se podem suportar.
O importante, para uma boa parte dos trabalhadores qualificados da geração Y, é acumular o maior número de experiências no menor prazo possível. Acumular pontos. Para quem está de fora, como eu e talvez você, é como observar um jogador de videogame, cujo objetivo primordial é passar para a fase seguinte.
Pode ser bastante frustrante, principalmente para quem hoje está na liderança das empresas. Estamos acostumados com carreiras construídas ao longo do tempo, com vínculos, com alguma hierarquia. Mas há também um lado muito bom nos Y. Eles chegam às empresas mais bem preparados do que qualquer um de nós chegamos. Têm uma vontade insaciável de aprender e estão abertos ao novo, algo fundamental no momento pelo qual estamos passando.
São digitais, grupais, criam e desfazem laços com naturalidade. Também são mais arrojados, menos medrosos e — quando bem ajustados — respeitam a obra e a capacidade de troca de quem comanda a empresa. Cargo e hierarquia não impressionam. Nesse ponto, pelo menos, são mais adeptos da meritocracia do que muitos de nós.
Os Y são também hedonistas, querem dinheiro como atalho para obtenção do prazer. Mas não se enganem: não estamos falando de hippies, de paz e amor acima de tudo. Eles gostam — e muito — de grana. Discurso típico de um Y no ambiente de trabalho: “Diga o que eu tenho de fazer. Não me pergunte como eu vou fazer. Respeite minha vida pessoal e me informe quanto eu vou ganhar”.
É mais ou menos claro que muitos deles vão se frustrar. As empresas vão se adaptar a esse tipo de profissional, até porque estima-se que 50% dos cargos de liderança pertencerão a essa geração — em 2014. Mas convenhamos: a vida no mundo dos negócios não é tão simples assim.
Não dá para dizer SIM sempre. Às vezes, o NÃO é bem mais importante. Nós teremos de dizer não. Eles também, em algum momento. Aqui, vale o chavão — a virtude parece estar no meio. Vai ser difícil, doloroso para muita gente (dos dois lados). Mas nós e eles vamos ter de nos entender.