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“Abandonar o euro seria bom para a Grécia”

Para um dos mais respeitados economistas alemães, o país voltaria a crescer em dois anos caso abandonasse a moeda única e promovesse reformas

Moeda de 1 euro (Philippe Huguen/AFP)

Moeda de 1 euro (Philippe Huguen/AFP)

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Da Redação

Publicado em 30 de março de 2015 às 18h45.

São Paulo - O economista alemão Hans-Werner Sinn é um dos mais renomados observadores do cenário europeu. Professor da Universidade de Munique e presidente do instituto de pesquisas econômicas Ifo, Sinn faz coro com a maioria dos alemães ao dizer que a Grécia não deve receber recursos extras, mas defende, como uma solução para a crise, uma fórmula polêmica: a saída temporária do país da zona do euro. “A iniciativa traria competitividade à economia grega, permitindo que ela voltasse a crescer daqui a dois anos”, diz Sinn.

1) A Grécia acaba de conseguir uma extensão de quatro meses no pacote de resgate financeiro. Essa é a melhor solução para o país neste momento?

Não há alternativas. O país deveria receber auxílio para deixar a zona do euro temporariamente. A Grécia voltaria a adotar o dracma, substituído em 2001 pelo euro, que se desvalorizaria rapidamente, e o país ganharia competitividade. Com reformas internas, a Grécia voltaria a crescer em dois anos. Mais tarde, poderia adotar novamente o euro.

2) Isso é o que o senhor acha que vai acontecer?

O cenário mais provável é a Grécia receber mais dinheiro de outros países, ficar descontente com a quantia angariada e culpar as medidas de austeridade.

3) O novo governo grego disse querer mudar as condições do programa de recuperação. Essa é uma possibilidade?

Não. Os empréstimos feitos ao país são como um presente. Se você recebe um presente, não pode ditar as regras. Eles querem receber mais dinheiro dos outros países europeus sem sequer prometer reformas econômicas.

4) O atual programa de recuperação da Grécia conseguiu melhorar a situação do país?

Durante a crise, a Grécia recebeu de outros países o equivalente a 262 bilhões de euros, ou 142% de seu PIB. Tudo isso com juros extremamente baixos. Em relação a seu PIB, esse dinheiro equivale a 28 vezes o valor do Plano Marshall, fornecido pelos Estados Unidos à Europa no pós-guerra. Ainda assim, o país não foi capaz de se tornar competitivo.

5) A Alemanha argumenta que faltou cautela dos gregos ao pedir os empréstimos e que eles têm o dever de devolver. A Grécia consegue pagar?

A Grécia está quebrada. Não há como pagar. A Alemanha, o maior credor, deveria encarar essa realidade. Mas os gregos não apenas se recusam a devolver o dinheiro. O verdadeiro problema é que querem receber ainda mais.

6) E a Alemanha está disposta a dar mais dinheiro?

A Alemanha disse que estaria disposta a atender até mesmo a essa demanda, mas apenas se houver o compromisso de implantar reformas que tornem possível para a Grécia voltar a caminhar um dia com as próprias pernas.

7) O novo governo grego diz que a eleição do partido Syriza, contrário à austeridade, é uma declaração dos eleitores. A Europa deveria ouvir essa mensagem contra o arrocho?

Democracia não significa que um grupo de pessoas tenha o direito de obrigar outro grupo a transferir recursos para elas. As medidas de austeridade não foram impostas pelos formuladores de políticas públicas da Europa. Na verdade, eles fizeram o possível para suavizar uma situação que foi provocada pelo mercado.

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