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Dados & Ideias — A zona de perigo do endividamento

Aumento dos juros em países desenvolvidos acende o sinal amarelo para países que têm alta taxa de endividamento do setor privado, como o Brasil

Hong Kong (Holger Spiering/ Westend61/Keystone Brasil/Divulgação)

Hong Kong (Holger Spiering/ Westend61/Keystone Brasil/Divulgação)

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Flávia Furlan

Publicado em 10 de maio de 2018 às 05h13.

Última atualização em 10 de maio de 2018 às 05h13.

A ZONA DE PERIGO

Tudo indica que o ciclo de aumento dos juros em países desenvolvidos e alguns emergentes continuará pelo próximo ano, tendo em vista o processo de aquecimento dessas economias e a preocupação dos bancos centrais com a inflação. E um estudo da consultoria britânica Oxford Economics mostra que essa nova fase de aperto monetário acende um sinal amarelo para um grupo de países. Ele é formado pelas economias em que o setor privado (excluindo empresas financeiras) tem um endividamento que corresponde a mais de 25% da renda nacional bruta, a chamada “zona de perigo”.

No passado, em ciclos semelhantes de aumento dos juros, quando as dívidas do setor privado atingiam esse patamar, muitas empresas passavam por um sufoco ou até mesmo quebravam. Isso porque a alta dos juros deixa o crédito mais caro e também desaquece a economia, prejudicando as vendas. Os dados mostram que Hong Kong, Noruega e Canadá estão no topo do ranking e lideram a “zona de perigo”. O Brasil está numa situação até que confortável: no ranking de endividamento do setor privado, o país ficou em 12o lugar, com uma taxa perto de 15% da renda nacional bruta. Por aqui, a recessão provocou uma retração do crédito e forçou uma queda do endividamento das empresas. Mais recentemente, a menor taxa de juro em décadas vem ajudando o setor privado.

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LEGISLAÇÃO

MENOS “JABUTIS”

O Supremo Tribunal Federal (STF) considerou, em 2015, inconstitucional a apresentação de emendas sem relação nenhuma com o tema de uma medida provisória. Essas emendas desconexas, chamadas de “jabutis”, pegam carona na tramitação urgente que é dada às medidas provisórias. Isso significa que elas são um jeitinho usado pelos parlamentares para ter suas propostas aprovadas mais rapidamente. Mas qual foi o efeito da decisão do STF na prática?  Um estudo realizado pelo consultor legislativo do Senado, Cesar van der Laan, mostra que, depois da decisão, diminuiu em 72% a média de emendas desconexas apresentadas pelos parlamentares por medida provisória em tramitação.

Van der Laan analisou as MPs e as emendas enxertadas nas comissões mistas do Senado entre janeiro de 2014 e outubro de 2016, ou seja, antes e depois da decisão do STF. Apesar da queda significativa, o hábito de inserir matérias totalmente estranhas nas MPs ainda persiste: nos últimos 12 meses analisados, foram apresentados, em média, 18 “jabutis” por medida provisória.

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CARROS

O BRASILEIRO VAI ÀS COMPRAS

As vendas de carros de passeio deverão crescer 17% neste ano, para 2,2 milhões de unidades, de acordo com um estudo da consultoria BMI Research. Até agora, o avanço foi provocado pela venda de carros importados. Esses veículos ficaram mais baratos desde o fim do ano passado, quando terminou o programa Inovar Auto, que impunha um adicional de 30 pontos percentuais de imposto aos automóveis não produzidos no Mercosul ou no México. Mas o governo federal está próximo de lançar um novo regime automotivo, o Rota 2030, que deverá taxar novamente os carros importados em geral. Segundo a BMI Research, isso, contudo, não deverá esfriar o mercado. Com a queda dos juros cobrados na compra de automóveis e com a melhora — ainda que instável — do mercado de trabalho, as vendas de veículos deverão continuar crescendo no restante do ano, dessa vez impulsionadas pelas unidades fabricadas no país.

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