Revista Exame

2019 será o ano do live-action e da onda de releituras

A Disney lançará Dumbo, Aladdin e O Rei Leão até julho. No Brasil, a Mauricio de Sousa Produções vai lançar o primeiro filme da Turma da Mônica

Turma da Mônica: personagens dos quadrinhos vão para o cinema em carne e osso | Divulgação /

Turma da Mônica: personagens dos quadrinhos vão para o cinema em carne e osso | Divulgação /

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Da Redação

Publicado em 17 de janeiro de 2019 às 05h03.

Última atualização em 17 de janeiro de 2019 às 05h03.

No dia 27 de junho, estreia em todo o Brasil o primeiro longa-metragem da Turma da Mônica com personagens em carne e osso. A história é uma adaptação do livro Laços, um romance gráfico (narrativa em quadrinhos) de 2013 inspirado nos personagens criados pelo cartunista e empresário Mauricio de Sousa. O lançamento faz parte da estratégia da Mauricio de Sousa Produções de diversificar seu conteúdo com novos formatos, a exemplo do que faz com vídeos animados para a internet, que já somam cerca de 10 bilhões de visualizações.

“Percebemos a importância de levar os personagens do papel para outras plataformas, mas esta é a primeira vez que eles serão representados por humanos”, diz Marcos Saraiva, diretor da área digital da Mauricio de Sousa Produções. A produção brasileira segue os passos de grandes sucessos internacionais. Em 2017, a companhia americana de entretenimento Walt Disney lançou uma nova versão de A Bela e a Fera, estrelada pela jovem atriz Emma Watson. O longa bateu o recorde de bilheteria na estreia nos Estados Unidos: foi o segundo filme mais visto no ano, atrás apenas de Star Wars: O Último Jedi, também da Disney, e o 14o na história do cinema, arrecadando cerca de 1,2 bilhão de dólares globalmente.

Esse resultado motivou a Disney a preparar uma enxurrada de lançamentos de live-actions, como são chamados os filmes que usam atores reais em vez de imagens animadas. Até julho, chegarão ao Brasil os filmes Dumbo, Aladdin e O Rei Leão — e outros 14 títulos devem aparecer nos cinemas nesse formato, ainda sem data definida.

Não é de hoje que os produtores cinematográficos fazem adaptação dos quadrinhos e releituras de obras famosas. Os super-heróis, como Batman e Homem-Aranha, já ganharam dezenas de filmes. Mas então por que esses novos lançamentos estão sendo chamados de live-action? Para Marco Vale, professor do curso de rádio, TV e internet na Faculdade Cásper Líbero, em São Paulo, o termo resume uma nova tendência. “O live-action ajuda a categorizar clássicos que até então existiam apenas em outros formatos ou tecnologias, além de carregar um apelo de marketing”, diz Vale. Mais do que se prender ao tipo da produção, é preciso entender o que essas novidades representam. Os animais de O Rei Leão, por exemplo, ganharão os movimentos e as expressões com o uso de tecnologia, efeitos de animação e gravações com seres humanos. “É uma forma de inovar e dar novos passos para além dos clássicos em 2D ou 3D. E, consequentemente, conquistar o público e gerar receita.”

Apesar de inovadores, os filmes da Disney e da Turma da Mônica se aproveitam de suas características já queridas pelo público. A ideia básica é apresentar em uma nova roupagem velhos sucessos ou personagens já consagrados. “A Disney conta histórias que ultrapassam gerações. Por isso, queremos trazer ao espectador atual os contos que ficaram no imaginário ao longo do tempo com toda a tecnologia e efeitos visuais que podemos oferecer nos dias de hoje”, disse a companhia americana por meio de nota. Na Mauricio de Sousa Produções, a ideia do filme surgiu com a constatação de que as pessoas que cresceram lendo os quadrinhos ainda se interessam pelos personagens. “O público mais maduro continua nos acompanhando e apresenta nossas histórias para as crianças. Essa é uma oportunidade de fazer uma única criação para todas as idades”, diz Saraiva.

O Rei Leão: o filme mescla gravações com humanos e animação gráfica | Divulgação

Um termômetro de audiência para as companhias é o evento de cultura pop CCXP, que acontece há quatro anos em São Paulo. Na edição realizada em dezembro de 2018, a Mauricio de Sousa Produções apresentou pela primeira vez o trailer de Laços em um auditório para 3.500 pessoas. “Ali vimos as reações de um público crítico e fã, o que só aumentou nossas expectativas”, diz Saraiva.

A Disney também aproveitou seus 800 metros quadrados de estande no evento para promover suas estreias. O espaço teve grande circulação de público, especialmente nas áreas de Dumbo e a Lâmpada, cujas réplicas foram exibidas pela primeira vez. As 262.000 pessoas que visitaram o evento de quatro dias puderam tirar fotos com uma estátua do elefante que dá nome ao filme e com a réplica do objeto mágico de Aladdin. “As empresas conseguem medir pessoalmente o impacto dos produtos para diferentes gerações e, posteriormente, acompanhar as publicações dos fãs nas redes sociais”, diz Otávio Juliato, diretor de comunicação da Omelete, companhia responsável pela organização da CCXP.

Graças às redes sociais, a Disney tem em O Rei Leão a maior expectativa de sucesso entre os três lançamentos previstos até julho. A empresa lançou o primeiro trailer em novembro e obteve 224 milhões de visualizações em todo o mundo em apenas 24 horas. Já o trailer da Turma da Mônica recebeu pelo menos 3,3 milhões de visualizações no YouTube.

Como acontece de modo geral nos cinemas, os brasileiros devem ser mais impactados pelos live-actions produzidos fora do país. Isso porque a produção e o consumo de animação nacional ainda se encontram em fase de amadurecimento, sem muitos exemplos consagrados para ser utilizados como referência. “Anteriormente, as animações por aqui eram muito voltadas para a publicidade”, diz Vale, da Cásper Líbero. A expectativa é que Laços, da Turma da Mônica, dê um pontapé na mudança desse cenário.

Daniel Rezende, o diretor do filme, afirma que fazer cinema no Brasil é caro e enfrenta entraves desde financeiros até de logística, mas que a qualidade pode ser compatível com a do exterior. “O investimento não pode subestimar o fã, especialmente quando ele já imagina um personagem conhecido”, diz Rezende, que em 2003 recebeu uma indicação ao Oscar na categoria de melhor edição, por Cidade de Deus. Para ele, o segredo é emocionar e educar. “O público ainda está entendendo que o live-action é uma inspiração e que, por exemplo, se o Cebolinha fosse um menino real, não teria apenas cinco fios de cabelo. Por isso, o importante é gerar uma emoção que valorize a cultura pop nacional.” Se os fãs se convencerem disso, o filme brasileiro terá os bons resultados que a equipe espera mesmo com a concorrência de grandes lançamentos internacionais.

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