Revista Exame

A vez da periferia

Agora é o Banco Mundial que prevê a ascensão dos emergentes até 2025 — mas, para o Brasil cumprir a sua parte da profecia, o governo terá de sair do imobilismo

Usuários de metrô em Pequim: com a China à frente, os países emergentes devem se igualar à União Europeia em 2025 (Paula Bronstein/Getty Images)

Usuários de metrô em Pequim: com a China à frente, os países emergentes devem se igualar à União Europeia em 2025 (Paula Bronstein/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 7 de julho de 2011 às 17h43.

São Paulo - Desde a saída do francês Dominique Strauss-Kahn do FMI, esquentou a disputa sobre quem deve sucedê-lo. A regra que prevalece desde o final da Segunda Guerra Mundial — um americano no comando do Banco Mundial e um europeu no FMI — foi colocada em xeque.

Para os países emergentes, esse é um arranjo que não traduz mais o mundo, um mundo em que a periferia tem mais força a cada dia. Não está claro ainda quem sentará na cadeira que foi de Strauss-Kahn, mas o certo é que os conceitos de centro e periferia nunca estiveram tão sobrepostos. O último a chancelar essa impressão foi — quanta ironia! — o próprio Banco Mundial.

Em seu último relatório anual, batizado de Horizontes para o Desenvolvimento Glo­bal, Justin Yifu Lin, o economista-chefe do banco, é categórico ao prever que, em 2025, Brasil, Rússia, Índia, Indonésia, China e Coreia do Sul — os países do Briick, na expressão em inglês — vão responder por mais de 50% do crescimento mundial.

Juntos, os emer­gentes, numa versão estendida da já tradicional sigla Bric, terão o mesmo peso dos países da zona do euro, moeda que, ao lado do iuane, fará frente ao dólar.

Adivinhação? Não exatamente. O que o Banco Mundial faz é apostar na manutenção da tendência atual. Em 1990, os países do Briick respondiam por 6,5% do PIB mundial.

Duas décadas depois, com a ajuda do efeito devastador da última crise mundial nos países ricos, o percentual era de 18%. “Somos testemunhas oculares da mudança na distribuição de renda e riqueza entre os países”, diz o americano Kenneth J. Arrow, ganhador do prêmio Nobel de Economia em 1972.

“Definitivamente, estamos assistindo a grandes transformações na economia global”, diz Tyler Cowen, professor de economia na Universidade George Mason e recentemente eleito um dos economistas mais influentes dos Estados Unidos.

No relatório, o Banco Mundial parte do pressuposto de que as principais economias emergentes vão continuar avançando num ritmo anual mais elevado do que as desenvolvidas, o que faz sentido devido ao crescimento populacional e da classe média nesses países.


Mas o relatório dá um passo mais ousado e estima o ritmo dessa expansão. Prevê, para os próximos 15 anos, um crescimento médio anual de 4,7% nos países do Briick, ante 2,3% nas nações mais desenvolvidas.

Desafios

Para fazer jus à profecia, os países emergentes terão de galgar vários obstáculos, reconhece o próprio estudo. “As perspectivas são boas, mas, para manter o bom momento econômico e se consolidar como verdadeiros polos de desenvolvimento, as economias emergentes, como o Brasil, deverão rea­lizar mudanças estruturais”, disse Justin Yifu Lin, autor de Horizontes para o Desenvolvimento Global, ao apresentá-lo em Washington em mea­dos de maio.

“Como boa parte do crescimento dos emergentes tem origem na demanda interna, é necessário seguir com políticas que fortaleçam a ascensão social e a educação do povo.”

Embora não mencione, Lin cita algumas das questões analisadas em 2022: Propostas para um Brasil Melhor no Ano do Bicentenário, livro recém-lançado pelos economistas Fabio Giam­biagi e Claudio Porto. Na lista dos principais gargalos, além da baixa qualidade da educação, está a infraestrutura deficitária.

“O Brasil está diante de uma janela de oportunidade histórica para alcançar padrões de países de Primeiro Mundo. Mas não basta se deixar levar ao sabor da maré”, diz Claudio Porto, presidente da consultoria de negócios Macroplan.

O indiano Vinod Thomas, ex-número 1 do Banco Mundial no Brasil e atual diretor-geral do Grupo de Avaliação Independente, braço responsável pela avaliação de projetos da mesma entidade, analisou comparativamente as vantagens e os pontos fracos de cada um dos principais países emergentes.

O pano de fundo de sua análise é a compreensão de que, embora sejam tratados como bloco, os países do Bric são também competidores entre si. Sua conclusão é que, no médio prazo, nenhum outro país reúne melhores condições para manter o ritmo atual de crescimento do que o Brasil.

Temos vastas quantidades de terras cultiváveis e vamos muito bem nas questões relacionadas à sustentabilidade ambiental, que pautarão fortemente a agenda de desenvolvimento nos próximos anos. Somos também uma democracia, o que pode ajudar na coesão social necessária ao desenvolvimento.

Os asiáticos, por sua vez, estão melhores em termos de crescimento e, especialmente, investimento — uma área ainda crítica em nosso país. No geral, o Brasil se sai bem e surge como um potencial líder dos emergentes.

O futuro, claro, está por ser construído, e projeções podem ou não se concretizar. Mas o fato é que nunca tivemos tantas chances de dar certo como agora.

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