Revista Exame

Como liderar pessoas na era do Zoom?

A transformação digital traz avanços enormes aos negócios. Como liderar (e mudar) pessoas num momento em que os impactos da virtualização das relações já se apresentam diante de nós?

Reunião de equipe: a velocidade coletiva é necessária para lidar com temas cruciais, como acolher a diversidade (Getty Images/Getty Images)

Reunião de equipe: a velocidade coletiva é necessária para lidar com temas cruciais, como acolher a diversidade (Getty Images/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 12 de fevereiro de 2021 às 07h58.

Poucas vezes, a capacidade de liderar foi desafiada como agora. É um movimento abrangente que não poupa ninguém, mas atinge especialmente os CEOs. A habilidade para responder a ele certamente se beneficiará das experiências acumuladas na trajetória desses executivos e da natureza das organizações que conduzem. Todos, porém, enfrentam mudanças urgentes e simultâneas — muitas delas, inéditas.

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Essa onda crescente é puxada pela aceleração das transformações digitais e, em igual medida, pelas novas exigências inegociáveis para as governanças social, ambiental e corporativa. São desafios de negócios por afetarem estratégias — e de liderança porque afetam, especialmente, pessoas.

É um desafio exponencial: ganhará mais intensidade sempre que se chocar contra o mundo imprevisível em que vivemos. A pandemia de covid-19 é o expoente mais recente e incisivo dessa tendência. Em meados do ano passado, 77% dos cerca de 140 CEOs entrevistados por uma sondagem global realizada pela Deloitte já afirmavam que a pandemia acelerou significativamente a transformação digital.

Não foi diferente no Brasil. A transformação digital conecta os principais “legados” do período aos negócios, como mostrou a Agenda 2021, pesquisa lançada em dezembro de 2020 e feita pela Deloitte no Brasil com executivos de 663 empresas. 

Muitas ampliaram investimentos em tecnologia e em segurança digital para adotar ou intensificar o e-commerce e o trabalho remoto. Essa preocupação seguirá firme em 2021: investimentos em infraestrutura de TI serão feitos em 95% dessas empresas — e sistemas e gestão de dados em 94% delas.

Formar pessoas capazes de conduzir mudanças também é prioridade: a criação ou a ampliação de treinamentos com esse propósito são citadas por 84% das empresas como prioridade para 2021.

Novos desconhecidos

A preocupação com capacitação é mesmo fundamental. Não se pode correr o risco de atravessar um momento de virada sem preparação. Muitos dos desafios que ligam a transformação digital à gestão de pessoas já são visíveis. Um exemplo: muitas das relações profissionais tornaram-se essencialmente virtuais em 2020 — uma mudança experimentada de diferentes formas.

É o que mostrou outro levantamento global da Deloitte, com cerca de 125 CEOs, em outubro de 2020. Na visão de 40% desses executivos, os profissionais de suas companhias foram mais inovadores ao trabalhar remotamente. Impressiona, porém, que quase a mesma proporção, 37%, tenha dito o oposto: a habilidade de inovar foi comprometida.

Fatores diversos influenciam resultados assim. Mas, conforme a poeira começa a baixar e as empresas passam a avaliar quanto de trabalho remoto, digital ou virtual ficará na rotina, questões relacionadas à produtividade, inovação e bem-estar ficam prementes. O que será sustentável no longo prazo?

É como se as empresas tivessem aderido, forçosamente, ao maior experimento não planejado e em tempo real já feito sobre a colaboração em ambientes digitais. O trabalho remoto, em si, era um velho conhecido. Empregado numa escala imensa, tornou-se um novo desconhecido: e será preciso aprender a conviver com ele.

No Brasil, 85% das empresas adotaram o trabalho remoto em 2020. Delas, quase metade manterá ou ampliará o número de profissionais no modelo em 2021.

Junto à virtualização das relações emerge o uso disseminado de ferramentas digitais no cotidiano. Será fundamental tomar decisões a partir da análise de dados e com o apoio da inteligência artificial. O que se comprovou na prática, porém, é a impossibilidade de prescindir do julgamento humano.

Em meio a certezas frágeis e riscos inéditos, só o discernimento pessoal costurará consensos e acomodará conflitos. Aos CEOs, caberá fortalecer essa cultura — e dar o exemplo.

Novas ideias e abordagens

Tenho dito com frequência que, para liderar, é preciso distinguir pressa de velocidade. A pressa contamina a execução da estratégia com ansiedade e insegurança. Já a velocidade traz vigor às decisões e ajuda a adaptar a estratégia quando preciso.

Nas organizações, esse é um traço comportamental ou particular a alguns grupos. Agora, sistemas mais amplos precisam ser velozes. São conjuntos de atitudes (a cultura corporativa) e ecossistemas completos de negócios. Em todos eles, há pessoas a preparar.

A velocidade coletiva será primordial para lidar com temas cruciais — como eliminar vieses para acolher a diversidade, promover a equidade­ de oportunidades e dirimir efeitos das mudanças climáticas. Também trará a resiliência necessária para que organizações e suas cadeias embarquem na transformação digital.

É o que mostrou o sucesso das empresas que se adequaram velozmente para entrar em trabalho remoto do dia para a noite.

Um ponto de partida é mudar a forma de avaliar habilidades. Antes, o histórico de realizações de profissionais ou equipes falava mais alto. Acontece que a realidade se esquiva de fórmulas tradicionais e a tecnologia muda tudo o tempo todo. Assim, importa saber o que pessoas e equipes são capazes de fazer ante os desafios cotidianos imediatos, os inesperados ou os inéditos.

O que criam para enfrentá-los? Que táticas usam? Como as executam cumprindo a estratégia e a governança? E quando há interferências? Depende de observação pessoal e análises de dados, que, juntas, podem revelar atributos únicos, necessidades e o que estimula o desempenho.

Novas equipes e estruturas

A edição 2021 do estudo Global Human Capital Trends, da Deloitte, emprega o termo superteams para se referir a arranjos de trabalho em que a tecnologia é usada para amplificar o potencial das pessoas. É o que já fizeram empresas obrigadas a se transformar em 2020. 

Em setores de serviços essenciais, como saúde e ensino, a telemedicina e a educação à distância precisaram evoluir drasticamente. Elas empregaram novos ou melhores canais e sistemas de gestão e análise de dados e inteligência artificial para potencializar a comunicação, o julgamento e, de certa forma, a perspicácia de suas pessoas.

Conforme um novo contexto se anuncia, as empresas deverão sofisticar a integração entre atividades humanas e as tecnologias em que investem. É hora de colocar de lado o objetivo de substituir funções para pensar em transformar funções. Só assim será possível criar valor de fato e no longo prazo, ao levar eficiência aos custos e processos, mas, também, à forma como se inova e se lida com riscos — atividades que, na ponta final, continuarão a caber às pessoas.

 

(Divulgação)


 

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