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Carta de EXAME — A tempestade vai passar no Brasil

Se as principais lideranças políticas e sociais — o que inclui a imprensa — se mantiverem firmes na defesa da democracia, a tempestade vai passar no Brasil

Caminhoneiros: eles se propuseram a buscar uma composição de preços que seja boa para eles e para os usuários de seus serviços (Nelson Almeida/AFP)

Caminhoneiros: eles se propuseram a buscar uma composição de preços que seja boa para eles e para os usuários de seus serviços (Nelson Almeida/AFP)

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Da Redação

Publicado em 7 de junho de 2018 às 05h00.

Última atualização em 7 de junho de 2018 às 05h00.

A crise política no Brasil parece ter chegado para ficar — pelo menos até a eleição de outubro, que, em teoria, vai produzir um presidente com respaldo popular suficiente para começar a reunificar o país. Até lá, ao que tudo indica, viveremos dias turbulentos. O clima de inquietação cresceu nos últimos dias com a greve dos caminhoneiros, o que causou transtornos para parte considerável da população e prejuízos bilionários para empresas. Mais do que isso, expôs a fragilidade do governo de Michel Temer — muito criticado pela forma inepta como reagiu à paralisação — e fez ressurgir uma preocupação que até há pouco tempo parecia enterrada no cenário político brasileiro: o temor de uma ruptura democrática. Manifestantes que aderiram à greve — e, sintomaticamente, também alguns que eram contrários à paralisação — lançaram apelos de intervenção militar. O pedido de retorno do regime militar, que vigorou no país de 1964 a 1985, quando muitos dos atuais entusiastas da ditadura eram crianças ou nem tinham nascido, já havia ecoado durante as manifestações contra a corrupção, mas dessa vez parece ter sido levado um pouco mais a sério. A ponto de o general da reserva Sérgio Etchegoyen, ministro do Gabinete de Segurança Institucional e um dos principais auxiliares de Temer, precisar vir a público para afirmar que “intervenção militar é assunto do século passado”. “Meu farol que uso para me conduzir é muito mais potente que o retrovisor”, disse Etchegoyen.

Apesar das palavras tranquilizadoras do general, é fato que a democracia brasileira enfrenta uma crise. O americano Steven Levitsky, professor na Universidade Harvard e autor do best-seller How Democracies Die, afirmou a EXAME que o Brasil vive uma “tempestade perfeita” por causa da confluência entre a corrupção gigantesca e a crise econômica profunda. “Uma única entre essas duas situações já seria desafiadora. As duas ao mesmo tempo é um duro teste para qualquer democracia”, disse Levitsky em entrevista ao editor executivo Eduardo Salgado.

O professor americano lembrou também que todas as democracias enfrentam crises, algumas severas, e o mais importante para sobreviver aos períodos de turbulência é manter as regras democráticas intactas. Nesse sentido, Levitsky destacou o papel fundamental das elites. Ainda que o descontentamento generalizado possa levar ao clamor popular por um regime autoritário, se as principais lideranças políticas e sociais — o que inclui a imprensa — se mantiverem firmes na defesa da democracia, a tempestade vai passar no Brasil. É essa também a convicção de EXAME. A jovem democracia brasileira está passando por mais uma prova, mas tem tudo para sair dela fortalecida. Claro, isso dependerá do que fizermos daqui para a frente, incluindo a eleição de outubro. Mesmo os que sonham com a ditadura militar terão a chance de escolher nossos próximos governantes. Pelo voto, democraticamente.

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