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“A tecnologia não resolve tudo na educação”

Para Anthony Salcito, vice-presidente global de educação da Microsoft, ferramentas inovadoras têm importância, mas bons professores são fundamentais


	As escolas precisam repensar suas regras sobre o uso de celulares
 (gpointstudio/Thinkstock)

As escolas precisam repensar suas regras sobre o uso de celulares (gpointstudio/Thinkstock)

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Da Redação

Publicado em 12 de agosto de 2015 às 17h09.

São Paulo — O executivo americano Anthony Salcito é um entusiasta do impacto da tecnologia em salas de aula. Mas o vice-presidente de educação da empresa de tecnologia Microsoft não vê os avanços tecnológicos como a panaceia para o ensino: “Se não houver ênfase em professores bem preparados, parte do impacto positivo que a tecnologia poderia ter vai ser desperdiçada”, diz Salcito. Autor de um dos mais influentes blogs de educação do mundo, o executivo concedeu a seguinte entrevista a EXAME.

Exame - Como a tecnologia pode melhorar a educação?
Anthony Salcito - Há duas grandes frentes a ser exploradas. A primeira é que existe uma quantidade gigantesca de conteúdo que está facilmente acessível para os estudantes na internet. A segunda são as novas habilidades que a força de trabalho do futuro, que hoje está na escola, precisa aprender.

Exame - Quais são essas novas habilidades?
Anthony Salcito - Como a informação está disponível a todos, as escolas devem dar ênfase à criatividade, ao trabalho em grupo e a habilidades específicas demandadas por empresas, ou seja, fatores que farão a diferença quando as crianças chegarem ao mercado de trabalho. Esse tipo de aprendizado hoje é tão importante quanto ensinar o idioma, matemática e ciências.

Exame - Dá para aprender isso nas escolas atuais?
Anthony Salcito - As escolas, definitivamente, precisam mudar. É velho o modelo baseado apenas no professor que ensina com a ajuda de alguns livros. As escolas precisam entender que, com a popularização da comunicação móvel, qualquer lugar pode ser um ambiente de aprendizado. Sem contar que há muitos conteúdos que chegam por smartphones e tablets que podem ser usados em sala de aula. Também é preciso aumentar a produtividade. Dá para melhorar a forma como as crianças e os jovens estudam e aprendem.

Exame - Como isso pode acontecer na prática?
Anthony Salcito - Uma das maneiras de aumentar a produtividade é possibilitar que os estudantes façam trabalhos em grupo sem necessariamente se encontrar num mesmo lugar. Com a ajuda de smartphones e tablets, os alunos terão mais flexibilidade e, de quebra, a aprendizagem se tornará mais fácil.

Exame - Uma boa tecnologia na área de educação é capaz de compensar um professor ruim?
Anthony Salcito - Não. Precisamos de grandes professores, porque, para extrair o melhor que a tecnologia proporciona, é necessário ter pessoas capacitadas. Se não houver ênfase em professores bem preparados, parte do impacto positivo que a tecnologia poderia ter vai ser desperdiçada.

Exame - O Brasil não tem bons resultados nos testes internacionais de educação. A tecnologia pode ajudar a mudar isso?
Anthony Salcito - Se um país usar a tecnologia como uma das ferramentas para melhorar o desempenho dos professores, com certeza, vai conseguir resultados positivos nos testes. É preciso ver o que é necessário para melhorar a educação como um todo. Sem ter clareza sobre isso, corre-se o risco de apenas automatizar a sala de aula, o que não vai adiantar muito.

Exame - Muitas empresas de tecnologia estão fornecendo programas gratuitos na área de educação. Qual é a lógica econômica desse modelo?
Anthony Salcito - A fase atual é de investir para auxiliar professores e alunos. Mais tarde, vamos pensar em monetizar o investimento.

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