Revista Exame

A solução não é fechar a fronteira, diz prêmio Nobel

Joseph Stiglitz, prêmio Nobel de Economia, defende uma reforma urgente na globalização

Stiglitz: “É preciso uma nova abordagem, que junte proteção social e abertura comercial, sem protecionismo”  (Simon Dawson/Exame)

Stiglitz: “É preciso uma nova abordagem, que junte proteção social e abertura comercial, sem protecionismo” (Simon Dawson/Exame)

DR

Da Redação

Publicado em 1 de fevereiro de 2018 às 05h19.

Última atualização em 3 de agosto de 2018 às 10h00.

Vencedor do Prêmio Nobel de Economia de 2001 e professor na Universidade Colúmbia, nos Estados Unidos, o economista Joseph Stiglitz afirma que o aumento do protecionismo não vai resolver os problemas da globalização. Mas é necessário reformá-la com urgência.

Qual é a probabilidade de um colapso da globalização?

A globalização está em risco porque muita gente foi prejudicada. Mas isso não significa que esteja condenada. Quinze anos atrás publiquei o livro A Globalização e Seus Malefícios, em que explicava a insatisfação com a globalização nos países em desenvolvimento. Muitos acreditavam que o sistema fosse manipulado e que os acordos comerciais eram elaborados para ser injustos. Agora, o descontentamento chegou ao Norte e alimentou uma onda de populismo, levando ao poder políticos que dizem que seu país foi injustiçado.

O que fazer diante da nova oposição à globalização?

Temos de administrar melhor a globalização. E não se faz isso dando mais dinheiro aos vencedores da globalização, os bilionários, à custa da classe média, como fez o presidente Donald Trump com seu corte de impostos. Também não se faz isso atacando outros países ou fechando as fronteiras.

Quais são as alternativas?

É preciso uma nova abordagem, que junte proteção social e abertura comercial, sem protecionismo. É o tipo de política que os países nórdicos, como a Suécia, adotaram. Eles entenderam que não podiam apelar para o protecionismo e tinham de permanecer abertos. Mas também sabiam que a decisão os deixaria expostos à concorrência global. Assim, tiveram de elaborar um novo modelo que ajudasse a população a buscar novos tipos de trabalho.

O que falta para esse tipo de política ser disseminado?

Os países nórdicos têm sociedades profundamente democráticas. A elite desses países percebeu que, se a globalização funcionasse como deveria, haveria benefícios suficientes para todos. O capitalismo americano, ao contrário, foi marcado por uma ganância desenfreada. Mas é possível ter uma economia de mercado sem os excessos do capitalismo, proporcionando crescimento  sustentável e padrões de vida elevados. Podemos aprender com os exemplos de sucesso e com os erros. Como é evidente, se não fizermos a globalização beneficiar a todos, a reação dos novos descontentes no Norte e dos descontentes antigos no Sul corre o risco de se intensificar.

Acompanhe tudo sobre:EconomistasEXAME 50 AnosGlobalização

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda