Revista Exame

A saga do Itaquerão, da política a dívidas milionárias

O estádio do Corinthians, que vai abrir a copa, custou 1,2 bilhão de reais. É um caso ímpar no uso de dinheiro público para fins privados — e ninguém sabe como o clube pagará a conta

André Sanchez, o gestor do Itaquerão: ainda faltam 350 milhões de reais para fechar a conta do estádio (Alexandre Battibugli/EXAME)

André Sanchez, o gestor do Itaquerão: ainda faltam 350 milhões de reais para fechar a conta do estádio (Alexandre Battibugli/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 24 de junho de 2014 às 14h59.

São Paulo - Não há nada que alegre tanto um político quanto  “vistoriar” uma obra prestes a ser concluída — num país como o Brasil, onde as obras feitas com dinheiro público teimam em não acabar nunca, a alegria vem em dobro.

Assim, a presidente Dilma Rousseff era só sorrisos no dia 8 de maio, quando visitou a Arena Corinthians (o Itaquerão), o estádio do Corinthians, que receberá o primeiro jogo da Copa do Mundo, no dia 12 de junho. Ganhou um capacete com seu nome, tirou selfies com operários, andou pelas arquibancadas e escapou por pouco de cair ao pisar no gramado. “É uma maravilha de estádio”, disse ela.

Mas, escondida pelo que parecia o júbilo geral, havia uma espessa camada de tensão — uma tensão concentrada nos dois cicerones de Dilma.

Marcelo Odebrecht, dono da construtora que ergueu o Itaquerão, e Andrés Sanchez, o ex-presidente do Corinthians que assumiu a administração do estádio, não tinham muito a comemorar. Faltavam, afinal, 350 milhões de reais para fechar a conta do Itaquerão. E ninguém sabia de onde viria esse dinheiro.

O buraco nas contas havia sido cavado por duas pás. Primeiro, o orçamento da obra estourou. O custo da construção do Itaquerão, cujo teto havia sido fixado em 820 milhões de reais, foi 250 milhões de reais maior do que o previsto inicialmente.

Além disso, o Corinthians precisava de pelo menos 100 milhões de reais para pagar a Odebrecht, que foi obrigada a financiar ela própria o início das obras, já que ninguém queria emprestar um tostão ao clube. Era preciso, então, encontrar um banco disposto a bancar os 350 milhões de reais que faltavam.

O problema, aqui, é que não havia instituição financeira disposta a entrar nessa. Dilma, então, deu aos dois a notícia que eles tanto esperavam. A Caixa Econômica Federal, banco 100% estatal, cobriria o buraco.

No fechamento desta edição, os últimos detalhes do acordo estavam sendo concluídos. Assim, o total de empréstimos da instituição ao Corinthians chegará a 750 milhões de reais. (Procurada, a Caixa não comentou o novo empréstimo.)

Dez dias depois da visita de Dilma, o Corinthians foi derrotado pelo Figueirense na inauguração do Itaquerão. Os quase 40 000 presentes chegaram e foram embora sem sustos, os banheiros funcionaram, a luz iluminou direitinho e por aí vai.

Ninguém duvida que o Corinthians tenha tamanho e torcida para ter sua própria casa, um sonho antigo de quem jogou durante as últimas décadas no estádio municipal do Pacaembu.

No aspecto esportivo, portanto, o Itaquerão faz muito mais sentido do que os elefantes brancos construídos para a Copa em cidades como Brasília, Cuiabá, Manaus e Natal, que não têm um time sequer na primeira divisão do Campeonato Brasileiro.

Mas em nenhum caso o bom senso financeiro e o interesse público foram atropelados de forma tão clara para beneficiar diretamente uma entidade privada — no caso, o Corinthians, que ganhou de presente um estádio bancado pelo Erário. É verdade, o clube tem uma dívida de 750 milhões de reais. Mas, como se verá adiante, dificilmente terá como pagá-la. 

Não surpreende que o Itaquerão seja um dos estádios mais investigados e fiscalizados entre os 12 que serão usados no Mundial. Três autarquias diferentes apuram os repasses de dinheiro público para a construção do estádio.

O Ministério Público Federal (MPF) e o Tribunal de Contas da União avaliam as condições em que o dinheiro foi liberado — sobretudo, se as garantias oferecidas pelo Corinthians tiveram seu valor inflado. Um relatório preliminar do MPF aponta indícios de que os terrenos dados em garantia valem muito menos do que o dito no contrato.

Já o Ministério Público Estadual apura o benefício fiscal de 420 milhões de reais concedido pelo então prefeito Gilberto Kassab ao clube. Em julho de 2011, Kassab alterou uma lei que concedia incentivos fiscais para empresas que investissem na zona leste da capital — e incluiu no texto a construção de estádios.

Antes, a lei previa benefícios somente para empresas com atividades comerciais, industriais ou de serviços. O MP diz que a modificação só serviu para transferir dinheiro público para a Odebrecht e para o Corinthians, causando prejuízo ao Erário. “O impacto econômico disso para o país é muito maior que o do mensalão”, diz o promotor Marcelo Milani, responsável pela investigação.

O ex-prefeito se defende: “Não teve subsídio algum. No caso do estádio do Corinthians, é uma lei de incentivos, já que o estádio vai gerar muitos investimentos locais. O projeto é muito positivo, já que trouxe a abertura do maior evento esportivo para São Paulo”.

Já haviam se passado quatro anos desde o anúncio do país como sede da Copa do Mundo quando um grupo de empresários se reuniu no dia 18 de maio de 2011 no hotel Transamérica, em Comandatuba, na Bahia, para ouvir uma palestra do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Na lista de convidados estavam Abilio Diniz, Roberto Irineu Marinho e José Safra — aquele era um evento liderado pelo magnata mexicano Carlos Slim para herdeiros de grandes empresas familiares da América Latina. Em meio a tanta gente bem nascida, havia dois corpos estranhos.

Um, o próprio Lula, cuja trajetória fala por si só. O outro, Andrés Sanchez, o filho de imigrantes espanhóis que, de feirante em Campinas, tornara-se presidente do Corinthians, clube do qual sempre foi torcedor fanático. Sanchez havia tomado carona num jatinho da Odebrecht, a pedido de Lula, para participar de uma reunião secreta para salvar o estádio do Corinthians.

A reunião acontecia num momento crítico. Depois de três anos de negociações entre a Fifa, organizadora do evento, e o São Paulo, clube dono do Morumbi, maior estádio da cidade, a capital paulista continuava sem um projeto para receber o jogo de abertura da Copa. O São Paulo havia sido vetado pela Fifa, mas ainda estava na briga.

O Palmeiras, por sua vez, já estava construindo seu novo estádio, mas sem capacidade mínima para receber a abertura. Os dirigentes corintianos viram ali uma chance de ouro. “Havia uma pressão insuportável dos governos federal, estadual e municipal para a abertura da Copa não escapar de São Paulo”, diz Luis Paulo Rosenberg, vice-presidente do Corinthians.

O clube vinha negociando desde 2009 a construção de um estádio mais modesto, a ser erguido pela Odebrecht em Itaquera por 400 milhões de reais. Com o Morumbi fazendo água, o Corinthians tratou de jogar o projeto modesto no lixo e desenhou um estádio “padrão Fifa”.

Havia um componente político evidente. Para o corintiano Lula e o PT, era a chance de aparecer como cor-responsáveis pela concretização do sonho dos 30 milhões de corintianos.  Nascia, ali, a campanha de Sanchez a deputado federal pelo PT em 2014.

Segundo os cálculos de Lula, Sanchez poderia ter até 1 milhão de votos, garantindo a eleição de pelo menos outros três deputados (ainda não se sabe se Sanchez, que se filiou ao PT em 2009, vai de fato disputar a eleição). A aliança com Lula foi fundamental em mais de uma oportunidade.

O ex-presidente abriu, por exemplo, portas na Transpetro, subsidiária de distribuição da Petrobras. Era necessário remover da área do estádio uma série de dutos de gás da empresa. “Eles nem me atendiam”, diz Sanchez. “Bastou o Lula fazer uma ligação que marcaram uma reunião.”

Os dutos foram removidos. Procurada, a assessoria de imprensa do Instituto Lula não respondeu a essa questão. Em nota, a Odebrecht confirma que o “ex-presidente Lula, no papel de conselheiro vitalício do clube, solicitou o empenho da construtora para a concretização do negócio”, mas nega que tenha “interferido diretamente nas negociações em andamento para a construção do estádio”. 

Reunião no palácio

Em 13 de maio, dirigentes do Corinthians e da Odebrecht apresentaram seu  novo projeto de estádio numa reunião no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Como acreditavam que o governo estadual faria qualquer coisa para manter a abertura em São Paulo, afirmaram que a obra custa­ria 1,5 bilhão de reais.

Na sala estavam o governador, Geraldo Alckmin, o prefeito, Gilberto Kassab, e o ministro dos Esportes, Orlando Silva. Sentado à cabeceira da mesa, Alckmin, exasperado, disse que qualquer valor acima de 800 milhões de reais era absurdo.

Na época, o Corinthians sabia que era possível construir um estádio para a Copa por muito menos, pois tinha encomendado outro projeto à construtora Advento, que orçou a obra em 600 milhões de reais. Após a reunião, o clube ameaçou romper com a Odebrecht. Foi quando Lula entrou em ação.

Cinco dias depois da fatídica reunião com Alckmin, Lula convidou Andrés Sanchez para a reunião em Comandatuba com Emilio Odebrecht e seu filho  Marcelo. Lula pediu a Emilio que desse um jeito de baixar o custo da obra a um patamar aceitável.

O empresário aceitou reduzir o orçamento e confirmou que, caso fosse necessário, daria as garantias para o financiamento da arena — algo que, todos sabiam, o Corinthians não teria condição de fazer sozinho. De Comandatuba, Lula seguiu para a Nicarágua, onde participou do Foro de São Paulo, agremiação que reúne os partidos de “esquerda” da América Latina.

Sanchez voltou a São Paulo em um avião da empresa. Mal aterrissou, começou a espalhar a notícia pelo celular. A Arena Corinthians viraria realidade e seria palco da abertura da Copa. Menos de duas semanas depois, no dia 30 de maio, a Odebrecht começou a obra em Itaquera, ainda sem contrato assinado, mas com um acordo de preço fixo de 820 milhões de reais. O negócio foi fechado em setembro de 2011. 

Chão de mármore

Como costuma acontecer em obras desse tipo, o preço “fixo” estabelecido em contrato acabou sendo de mentirinha. O Itaquerão se tornou o estádio com o custo por assento mais caro da história das aberturas das Copas. O orçamento para a construção da arena passou de 820 milhões para 1,2 bilhão de reais. Corinthians e Odebrecht não fizeram mesmo questão de contar os centavos.

O Itaquerão é o estádio mais luxuoso do Mundial. Dentro da arena, o chão é coberto por mármore grego, importado por 246 reais o metro quadrado. Há ar-condicionado central em todas as ­áreas. Foram instalados móveis importados do Japão nos 53 banheiros, além de televisores para que os torcedores não percam lances da partida.

A grama, única no país, é semelhante à dos estádios ingleses Wembley e Emirates, apropriada para o clima frio. Para conservá-la, foi preciso instalar embaixo do campo 43 quilômetros de tubos de resfriamento — que transportam água gelada de um lado para o outro quando a temperatura ultrapassa os 25 graus Celsius.

Em perío­dos de chuva, o campo tem um mecanismo de sucção que sorve a água do gramado e injeta ar, bastante utilizado em campos de golfe. Segundo Aníbal Coutinho, arquiteto responsável pelo estádio, a capacidade de iluminação é duas vezes maior do que a da Allianz Arena, estádio do time alemão Bayern de Munique. “Construímos um estádio para competir com o que há de melhor no mundo”, diz Coutinho.

Quando a bola rolar, portanto, tudo leva a crer que o Itaquerão será um sucesso. Mas, quando a Copa acabar, restará ao Corinthians a tarefa de pagar as dívidas acumuladas para construí-lo. Financiar o Itaquerão foi uma saga justamente porque reinou, no mercado financeiro, um enorme ceticismo quanto à capacidade de pagamento do clube.

Em cada episódio dessa saga, os envolvidos (bancos e Odebrecht) faziam de tudo para se livrar do “risco-Corinthians”. Mesmo depois que a Ode­brecht começou a trabalhar no terreno em Itaquera em maio de 2011, ninguém estava disposto a financiar o clube. O BNDES havia liberado uma linha de crédito de 400 milhões de reais ao clube, mas faltava uma instituição disposta a repassar o dinheiro.

Nesse tipo de contrato, o banco que repassa o empréstimo assume o risco de inadimplência. O primeiro procurado foi a Caixa. Mas as conversas não evoluíram.

Na época, o governo federal não queria expor ainda mais uma instituição que havia estampado manchetes de jornais com o caso do banco PanAmericano, que tinha a Caixa como sócia e quase quebrara em 2010 por suspeitas de fraudes bilionárias.

Segundo três executivos que acompanharam as conversas, Dilma vetou a Caixa e recomendou que o abacaxi fosse descascado por outra estatal — o Banco do Brasil (BB). 

A diretoria do BNDES aprovou, em julho de 2012, o repasse dos 400 milhões de reais pelo BB, que assumiria o risco do crédito. Tudo parecia resolvido, mas a diretoria do banco se rebelou. As conversas foram conduzidas por Paulo Caffarelli, na época vice-presidente de atacado do BB e hoje secretário executivo do Ministério da Fazenda.

Para liberar o dinheiro, ele exigiu que a Odebrecht oferecesse uma carta de fiança como garantia. Desse jeito, a conta cairia no colo da construtora em caso de calote do clube. Foi feito assim nas obras de outro estádio privado da Copa, o Beira-Rio, do Internacional de Porto Alegre.

A construtora Andrade Gutierrez entrou como garantidora dos empréstimos que financiaram o projeto. Mas, no caso do Itaquerão, a Odebrecht considerou o risco grande demais — ainda mais porque a construtora já havia tomado 350 milhões de reais em empréstimos bancários para iniciar a obra do estádio.

Se desse a carta de fiança, a Odebrecht teria de reconhecer a dívida em seu balanço, que já acumula débitos de cerca de 60 bilhões de reais. Andrés Sanchez, contrariado, acusou o presidente do BB, Aldermir Bendine, de dificultar o processo por ser torcedor do Palmeiras. 

O tempo ia passando, e o jeito foi tentar mais uma vez a Caixa — que, ao contrário do Banco do Brasil, não tem de dar satisfação alguma a acionistas minoritários. O risco de fracasso no projeto Itaquerão logo fez a roda girar no banco. O clube ofereceu como garantia três terrenos e as receitas futuras do estádio. E a Caixa aceitou liberar a Odebrecht da necessidade da carta  de fiança.

“Ficamos aliviados por terem partido para outra instituição, pois nada do que era apresentado como garantia estava de acordo com as boas práticas bancárias”, diz um executivo do Banco do Brasil, que pediu para não ser identificado, ao comentar o assunto.

Segundo Andrés Sanchez, os três terrenos (um em Itaquera e dois no Parque São Jorge, onde fica o centro de treinamento do clube) foram avaliados em 1,2 bilhão de reais por duas empresas independentes — a Exata Perícia e a Bush Engenharia. O valor é 30% superior ao preço do metro quadrado de imóveis novos nas duas regiões.

Além disso, esses terrenos foram arrolados pela Receita Federal, que cobra uma dívida de 27 milhões de reais do Corinthians (a dívida total do clube, sem contar as contraídas para o Itaquerão, é de 194 milhões de reais). A Caixa diz que a principal garantia é a receita que o clube terá com a arrecadação da Arena Corinthians.

O Banco do Brasil havia considerado a garantia frágil, já que esse número depende do imponderável: se o time está bem ou mal, em suma. Por isso, a Caixa tentou incluir nas garantias os estáveis direitos de transmissão das partidas do Corinthians na TV — mas o Corinthians conseguiu deixar essas receitas de fora. A Caixa diz que “os riscos identificados foram devidamente mitigados”. 

Como aconteceu com os demais estádios da Copa, o orçamento inicial foi estourando aos poucos, mas constantemente. A relação entre Corinthians e Odebrecht foi tensa. O clube queria baixar o preço original e obteve um aditivo no contrato que lhe dava a prerrogativa de negociar com fornecedores.

Em maio de 2012, a Odebrecht apresentou três orçamentos para a iluminação do estádio. Desconfiado, o Corinthians procurou a alemã Osram e pediu um preço. Conseguiu um desconto de 40% e ainda levou de graça o maior telão de LED do mundo, doado pela Osram para ser instalado do lado de fora do estádio.

Ao todo, a iluminação custou 16,4 milhões de reais, enquanto o orçamento original previa gastos de 44 milhões de reais. A relação entre clube e construtora chegou ao ponto de ruptura em agosto de 2013, quando Sanchez foi convocado para uma reunião na sede da Odebrecht, em São Paulo.

Benedicto Junior, diretor da empresa, apresentou ao corintiano os chamados pleitos de orçamento — aumentos nos custos que, por uma série de motivos, elevariam o preço do estádio em 160 milhões de reais, incluindo 5,5 milhões extras em ar-condicionado e 60 milhões na cobertura.

O Corinthians contratou a consultoria de engenharia Tessler para fazer uma avaliação minuciosa do pedido. Contrariada, a Odebrecht, que até ali estava bancando 100% da obra, desacelerou a construção e parou de comprar material até ter as contas aprovadas.

“Sequestraram nosso estádio”, diziam os corintianos. EXAME teve acesso ao relatório da auditoria, que concluía que apenas 15 milhões de reais do pleito faziam sentido. O material, composto de mais de 300 páginas, foi para a gaveta do clube. O “sequestro” durou quatro meses. A Odebrecht venceu e o orçamento começou a estourar. 

Um ano após o início da Copa, o Corinthians terá de começar a pagar os juros dos empréstimos tomados com a Caixa e o BNDES. A partir daí, vai ficar mais claro se o clube terá como honrar os compromissos assumidos — ou se, dando razão aos céticos, vai acabar não pagando.

O total a pagar é de assustar. Até 2028, incluindo os juros, o Corinthians deverá desembolsar 1,4 bilhão de reais. Nas contas de Sanchez, vai ser moleza.

Ele projeta uma receita anual para o Itaquerão de 120 milhões de reais só com jogos, 95 milhões por ano de camarotes, 60 milhões vendendo o nome do estádio e de partes dele a empresas (o chamado naming rights), outros 40 milhões com a realização de eventos e, finalmente, 30 milhões com visitas pagas. Mas, para chegar a essa receita toda, o Corinthians terá de arrecadar como poucos clubes no mundo conseguem. 

Otimismo alvinegro

O faturamento anual do clube com bilheteria nunca passou de 35 milhões de reais. Se conseguir os 120 milhões de reais pretendidos, ultrapassará, de longe, o italiano Milan, que fatura 79 milhões de reais em bilheteria. A receita com camarotes seria nove vezes maior do que a do Maracanã, por exemplo.

O Morumbi, estádio que concentra a reali­zação de grandes espetáculos na cidade, fatura apenas 4 milhões de reais por ano com shows, um décimo do pretendido pelos gestores do Itaquerão. E receber 1 milhão de visitantes por ano será um feito: é o mesmo número de pessoas que pagam para conhecer o Camp Nou, estádio do Barcelona, um dos mais visitados do mundo.

Receitas com a venda de jogadores e os direitos de transmissão, por exemplo, não precisam ser alocadas para o pagamento da dívida. E se o Corinthians não conseguir pagar? Aí será preciso saber se a Caixa e o governo federal estarão dispostos a comprar briga com a maior torcida da cidade.

Caso estejam, além de executar as garantias e se tornar dono dos terrenos, aos poucos o banco assumiria o Itaquerão. Pelo acordo com a Caixa, após dois anos de inadimplência o banco poderá exigir a troca na gestão do estádio.

Como também acabaria dono do terreno (dado em garantia), na prática o banco público administraria o estádio e assumiria os naming rights. Nasceria, assim, a Arena Caixão? Eis um final improvável para a saga do Itaquerão.

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