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Pouso Alegre é a cidade mais segura do país para jovens

Com atração de investimento e oferta de capacitação, Pouso Alegre é a cidade do país mais segura para os jovens

Praça em Pouso Alegre, em Minas Gerais: a cidade ganhou 11 000 empregos nos últimos cinco anos (Germano Lüders/EXAME.com)

Praça em Pouso Alegre, em Minas Gerais: a cidade ganhou 11 000 empregos nos últimos cinco anos (Germano Lüders/EXAME.com)

DR

Da Redação

Publicado em 25 de março de 2013 às 06h26.

Pouso Alegre - Uma mágoa dos moradores de Pouso Alegre com forasteiros é quando eles saem falando que a cidade é feia. Situada no meio de um vale no sul de Minas Gerais, ela carece dos prédios históricos de Tiradentes e Ouro Preto e das belezas naturais das também mineiras Gonçalves e Monte Verde.

É fato. Mas daí a dizer que o lugar é mal-apanhado soa como uma indelicadeza — que não deveria alterar o humor dos pouso-alegrenses.

Há um ponto em que Pouso Alegre não só não deve nada como está bem melhor que Gonçalves, Tiradentes e os demais 5 567 municípios brasileiros. A cidade é a primeira colocada no ranking do Índice de Vulnerabilidade Juvenil à Violência.

O estudo, feito pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública, ONG  dedicada à questão da violência, analisou indicadores de educação, emprego, desigualdade e mortes violentas na população de 12 a 29 anos dos 283 municípios com mais de 100 000 habitantes.

A conclusão: o jovem que vive em Pouso Alegre é o que tem a menor chance de ser vítima — ou cúmplice — da criminalidade. O ranking foi feito com dados de 2010. A principal diferença da cidade em relação às demais 282 da lista está no quesito homicídio. Naquele ano, nenhum jovem foi assassinado em Pouso Alegre, que tem quase 135 000 habitantes. A baiana Eunápolis, com  população de 102 000, é a pior no ranking e registrou 68 homicídios de jovens em 2010.

A boa posição no ranking não pode levar à conclusão de que Pouso Alegre seja uma Suíça brasileira. No biênio 2011-2012, cinco jovens foram mortos lá. E a cidade tem seus problemas, como o trânsito congestionado no fim da tarde, filas no pronto-socorro e bairros que alagam após temporais. Ainda assim, o quadro é muito mais tranquilo do que o da maioria das cidades brasileiras com porte semelhante.

É bem verdade que Pouso Alegre parte de uma condição histórica privilegiada. “A cidade está numa área de desenvolvimento econômico e social antigo”, diz Miguel Matteo, pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada. Fundada em 1848, teve um primeiro impulso com a agropecuária. Sua vizinha Poços de Caldas é a décima no ranking.

Entre as dez mais seguras, sete são cidades do interior paulista com perfil parecido, como Americana, Birigui, Limeira e São Caetano do Sul — centenárias, com até 250 000 habitantes e relativamente ricas. O grupo de dez é completado pela catarinense Joinville.

Com uma base socioeconômica sólida, Pouso Alegre recentemente passou a combinar políticas das esferas municipal, estadual e federal em três áreas vitais para a garantia do futuro dos jovens. Sua segurança é baseada no policiamento comunitário: os guardas estão presentes nos bairros e conhecem os moradores. Na economia, a estratégia é de atração de investimentos. O terceiro ponto é a oferta de qualificação profissional.

Em resumo, a cidade faz o feijão com arroz, mas faz bem temperado, à mineira. “Nosso objetivo é garantir oportunidades de treinamento e de emprego aos jovens”, diz o prefeito, Agnaldo Perugini, do PT, que iniciou em 2013 seu segundo mandato. A cidade ganhou 11 000 postos de trabalho desde 2008.


O número corresponde a uma vaga para cada 12 habitantes — a média nacional foi de um emprego criado para cada 27 pessoas. “Nunca fiquei desempregado aqui”, diz José Carlos Ramos, nascido e criado em Pouso Alegre. Aos 22 anos, ele é ajudante de produção na Unilever — a terceira fábrica onde já trabalhou.

A oferta de trabalho reflete a chegada de empresas à cidade. Só nos últimos três anos, aportaram 20, como a fabricante de latas Rexam e a chinesa Xuzhou, de máquinas para construção, somando investimentos de 1,5 bilhão de reais. Com isso, a expectativa é que o PIB de Pouso Alegre passe de 3 bilhões em 2010 para 8,3 bilhões de reais em 2013.

A renda per capita subiria para 60 000 reais — mesmo nível da Espanha. Colaboram para a abertura de postos de trabalho a política de incentivos da prefeitura e do governo mineiro e, claro, a excelente localização — está a 200 quilômetros de São Paulo e Campinas e a 380 de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro, os principais mercados consumidores do país.

Foi esse um dos principais motivos que levaram a Unilever a escolher Pouso Alegre para instalar agora o maior centro de distribuição da empresa na América Latina.

Portas abertas

A oferta de qualificação faz a ponte, dando aos jovens a oportunidade de se preparar para ocupar as vagas nas empresas. O município conta com dezenas de cursos técnicos oferecidos por instituições federais, estaduais e do Sistema S (Senai e Senac, entre outros), 20 cursos de graduação e 28 de pós-graduação nas áreas de humanas, biológicas e exatas. A prefeitura entra com infraestrutura.

O estudante de administração Bruno César Schmidt, de 19 anos, conseguiu um estágio no banco Santander após se cadastrar no Espro, organização sem fins lucrativos que ajuda jovens a encontrar empregos.

De lá, foi encaminhado para fazer um curso de técnicas bancárias no Uaitec, escola de capacitação profissional do governo estadual que funciona no carente bairro São Geraldo em um prédio cedido pela prefeitura. “O curso me abriu as portas do mercado de trabalho”, diz Schmidt. 

Dar oportunidades para que os jovens realizem seus objetivos é a chave da cidade para mantê-los longe da violência, diz o prefeito Perugini. Nesse sentido, os anseios de Pouso Alegre podem ser simbolizados por Alisson Figueiredo Ferraz, de 12 anos. Apontado pelos colegas do 7º ano da Escola Municipal Antônio Mariosa como o melhor da classe, ele diz ter um sonho: ser médico quando crescer.

“Estudo para entrar na faculdade”, diz Alisson. Se tudo correr bem, Pouso Alegre continuará a oferecer condições para ele chegar lá — e a servir de exemplo para o país.

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