Revista Exame

A Lupatech será a próxima vítima do pré-sal?

Maior fornecedora nacional da Petrobras, a Lupatech tenta captar 800 milhões de reais, quase o triplo de seu valor de mercado, para pagar as contas

Fábrica da Lupatech, em Nova odessa: pressa para achar um novo investidor (Germano Lüders / EXAME)

Fábrica da Lupatech, em Nova odessa: pressa para achar um novo investidor (Germano Lüders / EXAME)

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Da Redação

Publicado em 6 de fevereiro de 2013 às 07h33.

São Paulo - A gaúcha Lupatech, fornecedora de  equipamentos e serviços para plataformas da Petrobras, é uma espécie de símbolo do sobe e desce recente da indústria nacional de petróleo. Cinco anos atrás, quando o país estava fascinado com a promessa do recém-anunciado pré-sal, a Lupatech chegou a valer 3 bilhões de reais na Bovespa.

Parecia aquele tipo de investimento que não tinha como dar errado. A empresa era a maior fornecedora nacional da Petrobras — como a estatal desenvolveria dezenas de novas plataformas para explorar o pré-sal, a Lupatech teria sucesso garantido. Mas, como hoje se sabe, o pré-sal começou a fazer água, a Petrobras entrou em crise e, já que era o elo mais fraco dessa cadeia toda, a Lupatech se deu mal. Muito mal.

A companhia não dá lucro desde setembro de 2010, sua dívida cresceu 40% e a empresa vale hoje 300 milhões de reais. Mas, segundo EXAME apurou, as coisas estão prestes a piorar para a Lupatech: o dinheiro para pagar fornecedores e funcionários está acabando. Seus controladores, o BNDES e o fundo de pensão Petros, correm para bolar uma saída para salvar a empresa até março. O primeiro passo aconteceu em dezembro do ano passado, com a contratação do Bank of America Merrill Lynch.

A missão do banco é levantar 800 milhões de reais — quase o triplo do valor de mercado atual da companhia. Uma parte viria da venda de duas fábricas, voltadas para a produção de válvulas. Outra frente é a renegociação da dívida com os principais credores, os bancos Votorantim e Itaú BBA, e um corte de até 40% no valor dos juros pagos pelos seus títulos de dívida negociados no mercado.

Por fim, o plano prevê a chegada de um novo investidor. Empresas como Odebrecht Óleo e Gás, Andrade Gutierrez e Queiroz Galvão teriam sido procuradas. O Bank of America, o BNDES, a Petros e a Lupatech não comentaram as informações.

A situação da Lupatech nunca foi tão crítica. Segundo executivos próximos à operação, a companhia encerrou 2012 com 30 milhões de reais em caixa. Com o pagamento dos juros de títulos da dívida programado para janeiro, estima-se que essas reservas tenham caído pela metade.


O montante só é suficiente para pagar os salários de fevereiro e março. Para cobrir qualquer outra despesa, a empresa depende do sucesso do plano de levantar capital e atrair investidores. Em paralelo, a Lupatech conversa com bancos como ABC Brasil e Sofisa, instituições que, em troca de aceitar o risco de emprestar a uma companhia nesse grau de dificuldade, cobram juros altos.

Criada pelo empresário gaúcho Nestor Perini em 1980, a Lupatech recebeu um aporte da gestora de private equity GP Investments e abriu o capital na bolsa em 2006. Em cinco anos, comprou 15 empresas para diversificar sua oferta e se tornar a principal fornecedora da Petrobras. Mas veio a crise de 2008 e tudo mudou.

A Petrobras adiou seus investimentos e, claro, as encomendas com a Lupatech. Ao mesmo tempo, o pré-sal atraiu concorrentes estrangeiros. Nanica perto de líderes globais do setor de petróleo, como as americanas Cameron e Schlumberger, a companhia perdeu espaço. Seu faturamento encolheu 20% em três anos — e chegou a 570 milhões de reais em 2011.

"Apesar de ser a maior fornecedora local da Petrobras, a Lupatech era irrelevante no mundo", diz Breno Guerbatin, sócio da gestora de recursos Studio Investimentos, ex-acionista da Lupatech. "Quando as gigantes olharam para o Brasil, ela acabou atropelada."

Com a virada nos negócios, a Lupatech começou uma luta pela sobrevivência. Em janeiro de 2012, a companhia anunciou a incorporação da operação brasileira da San Antonio, empresa do setor de petróleo que atua na América do Sul, controlada pela GP. A fusão seria acompanhada por um aumento de capital de até 700 milhões de reais. Mas nem todos os acionistas se animaram com a ideia de colocar mais dinheiro na empresa.

A tarefa acabou sobrando para BNDES, Petros e GP, que injetaram 375 milhões de reais na companhia. Não foi suficiente. Com a geração de caixa cada vez menor, o lucro que não vem e as despesas com juros ainda altas, hoje a situação financeira da empresa é pior do que a de antes do aumento de capital. A nova tentativa de levantar recursos é a esperança da Lupatech para se reerguer.

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