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Chegou o momento da nova geração do tênis

Duas décadas atrás, com o primeiro título em Wimbledon, Roger Federer inaugurava a era de ouro do esporte da raquete. Agora, chegou o momento de outra turma

Roger Federer: embates épicos com Nadal e Djokovic (Divulgação/Divulgação)

Roger Federer: embates épicos com Nadal e Djokovic (Divulgação/Divulgação)

Ivan Padilla
Ivan Padilla

Editor de Casual e Especiais

Publicado em 18 de junho de 2024 às 06h00.

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Na tarde de 6 de julho de 2003 o suíço Roger Federer levantava pela primeira vez o Gentlemen’s Singles Trophy, a taça de prata dourada de meio metro de altura concedida ao campeão de Wimbledon. Começava ali a era de ouro do tênis masculino, os anos em que Federer, o espanhol Rafael Nadal e o sérvio Novak Djokovic realizaram embates memoráveis e dividiram pódios. Juntos, eles conquistaram 293 títulos, sendo 64 de Grand Slam, os quatro principais torneios do mundo, um número mais do que surpreendente. Tão surpreendente que, entre os aficionados pelo esporte, havia o receio de que depois disso o tênis perderia seu encanto.

Não é o que vem acontecendo. No momento em que Federer está aposentado, Nadal definha e Djokovic sente a idade, uma nova geração, tão carismática quanto, começa a disputar as primeiras colocações do ranking, a preferência dos torcedores e o interesse dos patrocinadores. O espanhol Carlos Alcaraz chega a Wimbledon, que começa no dia 1o de julho, para defender o título do ano passado, em que venceu Djokovic em uma final espetacular. “Há muito o que esperar nesta temporada. Há jogadores muito talentosos surgindo, como Alcaraz e Jannik Sinner, que estão se saindo bem e vencendo grandes torneios”, diz Federer.

Algumas diferenças separam as duas gerações. “Os tenistas mais jovens não têm piso de preferência, eles jogam bem em todos os tipos de quadra”, afirma Luiz Procópio Carvalho, vice-presidente da IMG, empresa que organiza torneios como o Miami Open. Os espanhóis sempre foram mais afeitos ao saibro. Nadal venceu 14 títulos na terra batida de Roland Garros. Já os dois primeiros títulos de Grand Slam de Alcaraz foram em quadra dura e na grama. Só no mês passado é que ele venceu o Aberto francês. “Minha preparação para Wimbledon é um pouco diferente, já que não estamos acostumados a jogar em quadras de grama no restante da temporada”, diz o espanhol.

Segundo Alcaraz, como o período de competição nessa superfície é muito curto, os jogadores precisam se adaptar rapidamente e usar habilidades diferentes. “Eu tenho uma rotina específica de condicionamento físico para a temporada de quadras de grama, porque acho que se mover bem nessa superfície é a coisa mais importante”, afirma. Um dos fundamentos que mais evoluíram nos últimos anos foi a devolução de saque, o que tira a vantagem do serviço no piso rápido. O melhor condicionamento físico dos atletas também tem favorecido trocas mais longas de bola.

Carlos Alcaraz: defesa do título vencido no ano passado (Julian Finney/Getty Images)

Outra diferença entre as gerações é o comportamento em quadra. Os tenistas nascidos entre o fim do século passado e os anos 2000 vibram mais, interagem com a torcida, pedem aplausos. São gestos que viralizam nas redes sociais, ajudam a trazer visibilidade e favorecem a exposição de logomarcas. “O tênis é um esporte em que não há muito conflito, não há uma rivalidade como a do futebol”, diz Procópio Carvalho. “Os jogadores são amigos, almoçam juntos, jantam juntos. Então é legal que venha uma geração mais abusada, com mais personalidade. Tomara que isso ajude a vender a modalidade como produto.”

Vídeos no Instagram e série na Netflix

Em suas contas no Instagram, a ATP e a WTA, respectivamente as associações masculina e feminina de tenistas profissionais, têm promovido vídeos engraçados e brincadeiras entre os jogadores. As duas temporadas da série Break Point, na Netflix, mostraram a rotina dos aspirantes a campeões. A continuação da série, no entanto, foi cancelada neste ano. De acordo com o jornal britânico The Times, os motivos foram a baixa audiência e a dificuldade de acesso aos jogadores. Talvez um sinal de que, apesar do bom momento, o tênis ainda é um esporte de nicho. Não tem e não terá a mesma popularidade do futebol ou do basquete.

No passado e no presente, algumas marcas têm mantido seus valores associados à modalidade. A Rolex, maior manufatura suíça de relojoaria de luxo, começou a apoiar o tênis em 1978, justamente em Wimbledon. Federer é embaixador da marca — assim como Alcaraz, o italiano Sinner e a polonesa Iga Swiatek, a número 1 do mundo. Esses três jogadores são exemplos dessa nova era no tênis. Alcaraz chegou a liderar o ranking da ATP por 36 semanas. Sinner virou número 1 durante o torneio de Roland Garros, com a desistência de Djokovic.

Ainda é cedo para dizer que as rivalidades movimentarão o circuito daqui por diante. Outras jovens promessas começam a despontar, inclusive um brasileiro, João Fonseca. Bia Haddad, atual 14a colocada no ranking da WTA, tem ajudado a aumentar o interesse pelo tênis feminino no Brasil. O que parece certo é que no futuro lembraremos dos Big Three da maneira que se deve: com muita admiração, mas sem saudosismo.

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