Revista Exame

Os planos de US$ 2,2 bilhões da Petrobras para os biocombustíveis

À EXAME, Mauricio Tolmasquim, diretor de transição energética da estatal, compartilha os planos da empresa para o setor de biocombustíveis e seu papel na COP30, em meio às críticas ao uso do petróleo

Mauricio Tolmasquim, diretor de transição energética da Petrobras: estatal estima 2,2 bilhões de dólares para ao setor de biocombustíveis nos próximos cinco anos (Francisco de Souza/Agência Petrobras/Divulgação)

Mauricio Tolmasquim, diretor de transição energética da Petrobras: estatal estima 2,2 bilhões de dólares para ao setor de biocombustíveis nos próximos cinco anos (Francisco de Souza/Agência Petrobras/Divulgação)

César H. S. Rezende
César H. S. Rezende

Repórter de agro e macroeconomia

Publicado em 14 de fevereiro de 2025 às 06h00.

Com a entrada em vigor da Lei do Combustível do Futuro, a -Petrobras vai acelerar sua produção de biocombustíveis, reforçando a liderança no setor. A afirmação é de Mauricio Tolmasquim, diretor de transição energética da companhia, em entrevista à EXAME.

Depois de anunciar um investimento de 16,3 bilhões de dólares para a transição energética até 2029 — 2,2 bilhões de dólares destinados ao setor de biocombustíveis e com a meta de produzir 2 bilhões de litros de etanol por ano —, a Petrobras deve, em breve, anunciar parcerias estratégicas com líderes do setor para a produção de biometano, combustível sustentável para aviação (SAF), diesel 100% renovável e hidrogênio verde, afirmou o executivo.

A estratégia, segundo Tolmasquim, é equilibrar os investimentos em transição energética com a responsabilidade para com os acionistas, garantindo a rentabilidade enquanto a companhia constrói um futuro mais competitivo e sustentável.

A movimentação ocorre em um ano em que as atenções globais estarão voltadas para a COP30, que será realizada pela primeira vez no Brasil, além do imbróglio envolvendo a tentativa da Petrobras de explorar petróleo na Margem Equatorial, uma área de grande sensibilidade ambiental no litoral norte do Brasil.

A aprovação da Lei do Combustível do Futuro no ano passado é vista como estratégica para o setor de biocombustíveis. Qual é o potencial da nova legislação para a Petrobras?

A legislação pode acelerar a descarbonização do setor de transportes no Brasil, incentivando o uso de biocombustíveis como alternativa sustentável aos combustíveis fósseis e abre diversas oportunidades para a Petrobras, especialmente em áreas estratégicas. No setor de biometano, a lei cria o Programa Nacional de Descarbonização de Produtores e Importadores de Gás Natural, que estimula a produção e o uso do biometano no país. Já no segmento de combustível sustentável de aviação (SAF), estabelece o Programa Nacional de Combustível de Aviação Sustentável, determinando que as companhias aéreas passem a utilizar SAF a partir de 2027, com o objetivo de reduzir em 10% as emissões de gases de efeito estufa em voos domésticos até 2037. Outro ponto relevante é o diesel verde, para o qual a lei cria o Programa Nacional do Diesel Verde, permitindo que o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) defina anualmente a quantidade mínima de diesel verde a ser adicionada ao diesel comercializado, com um limite de mistura de até 3%. Além disso, a legislação amplia as margens de mistura de etanol na gasolina e de biodiesel no diesel. Essas medidas trazem oportunidades para a estatal expandir sua produção e distribuição de biocombustíveis, consolidando sua presença no setor de energia renovável. Além de incentivar o uso dessas fontes alternativas, a lei integra políticas públicas voltadas para a sustentabilidade, como a -Política Nacional de Biocombustíveis [RenovaBio] e o Programa de Mobilidade Verde [Mover].

E quais oportunidades estão no radar da Petrobras?

O Plano de Negócios destina 4,3 bilhões de dólares para investimentos em bioprodutos, reforçando nosso compromisso com a transição energética. Nesse contexto, construiremos novas plantas em nossas refinarias dedicadas à produção de SAF e diesel 100% renovável, com potencial para ofertar até 44.000 barris por dia desses biocombustíveis a partir de 2029. Já desenvolvemos iniciativas para a produção de hidrogênio verde, o que pode reduzir ainda mais a pegada de carbono dos nossos combustíveis. Também temos o potencial de ampliar em 11 vezes nossa capacidade instalada de coprocessamento, dependendo da regulamentação, o que permitiria uma maior oferta de diesel com conteúdo renovável [R5]. Além disso, estamos investindo na produção de biobunker [combustível renovável à base de biomassa] e químicos com conteúdo renovável. No setor de etanol, biodiesel e biometano, que apresenta um mercado crescente impulsionado por novas regulações, buscamos ampliar nossa participação por meio de parcerias estratégicas minoritárias ou de controle compartilhado, sempre com players relevantes e projetos com potencial de escala no médio prazo.

E o que é possível adiantar sobre essas parcerias?

No setor de geração renovável, a companhia buscará atuar preferencialmente em parceria com grandes empresas do setor, com foco na descarbonização das operações, na integração de soluções de baixo carbono e em oportunidades de mercado no Brasil. No segmento de bioprodutos, além dos investimentos em biorrefino, como coprocessamento e SAF, a Petrobras destinará recursos para as cadeias de etanol, biodiesel e biometano, ingressando nesses mercados preferencialmente por meio de parcerias estratégicas minoritárias ou de controle compartilhado.

Mas como a Petrobras pretende fazer isso?

Adotamos diferentes estratégias para cada segmento, com investimentos em descarbonização das operações, geração renovável, combustíveis sustentáveis e pesquisas em baixo carbono. Elaboramos uma carteira diversificada e preparada para as rotas, ainda incertas, da transição energética, com negócios em hidrogênio, etanol, biocombustíveis, biometano, captura de carbono [CCUS] e energias eólica e solar fotovoltaica. No horizonte do Plano de Negócios 2025-2029, o investimento total em iniciativas de baixo carbono soma 16,3 bilhões de dólares.

A COP30 no Brasil posiciona o país como protagonista nas discussões sobre a transição energética. Qual é o papel da Petrobras nesse contexto, levando em conta sua posição histórica no setor de combustíveis fósseis?

O Brasil tem um perfil diferenciado no cenário de descarbonização. Enquanto no mundo predominam emissões de produção e uso de energia [cerca de 75%], no Brasil as emissões de energia correspondem a 23,2%, sendo as maiores rubricas de emissão de gases de efeito estufa as de uso e as de mudança de uso da terra [38%], seguidas pelas emissões do setor de agropecuária [29%]. Em razão da abundância de recursos e do histórico de políticas públicas voltadas para a diversificação e o aumento da segurança energética, o Brasil apresenta uma posição diferenciada, com elevada participação de renováveis [47%, ante a média mundial de 14,1%], e reduzida intensidade de carbono em sua matriz energética. A vocação do Brasil, aliada à história e à expertise da Petrobras, cria sinergias que nos conferem vantagens competitivas importantes. Além da nossa robusta capacidade de investimentos, planejamos aproveitar a infraestrutura consolidada da indústria de petróleo e gás natural para viabilizar projetos de baixo carbono em atividades como biocombustíveis, hidrogênio sustentável, captura, uso e armazenamento de carbono, e na indústria petroquímica, além de expandir nossa capacidade de geração de energia eólica e solar fotovoltaica. No que se refere aos combustíveis fósseis, os principais cenários externos indicam desaceleração e posterior retração das fontes fósseis.

Como equilibrar a necessidade de transição energética com a responsabilidade financeira aos acionistas, considerando o peso do petróleo na receita da empresa?

A Petrobras reconhece que o petróleo continuará sendo essencial para a economia global durante a transição e, ao focar a eficiência e a rentabilidade, a empresa visa manter seu valor enquanto investe em um futuro sustentável. A Petrobras está trabalhando para equilibrar as metas de longo prazo da transição energética com a necessidade de proporcionar retorno aos seus acionistas.

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