Primeiro campeão: Nelsinho Piquet foi o vencedor da categoria em 2015 (José Mario Dias/Divulgação)
Da Redação
Publicado em 6 de dezembro de 2018 às 05h16.
Última atualização em 4 de junho de 2020 às 15h14.
Meu primeiro título da Fórmula E será muito mais reconhecido daqui a um tempo do que hoje”, disse Nelsinho Piquet, em uma conversa que tivemos recentemente em Santiago do Chile. A frase revela uma constatação: a cada ano, o circuito de corridas de carros elétricos ganha relevância no automobilismo mundial. A nova temporada, a quinta de sua breve história, terá início em 15 de dezembro na Arábia Saudita. A recorrente comparação com a Fórmula 1, que no início parecia piada ou delírio, agora é levada a sério.
A começar pelo novo reforço do grid: o brasileiro Felipe Massa, que estava na principal categoria do automobilismo mundial desde 2002 até o ano passado, e que, depois de algumas provas como convidado na Stock Car, resolveu encarar de vez o desafio da Fórmula E, pela equipe Venturi — que tem ligação direta com a alemã Mercedes. Ele amplia o esquadrão brasileiro, que já tem dois campeões da F-E: Nelsinho, campeão da primeira edição da categoria, na temporada 2014/2015, que hoje compete pela Jaguar Racing, e Lucas Di Grassi, campeão em 2016/2017 pela Audi ABT.
“Acredito na Fórmula E há bastante tempo e posso dizer que ela não é mais a categoria do futuro: ela já é a categoria do presente”, afirma Di Grassi, um entusiasta das novas tecnologias — ele é fundador da EDG Bike, empresa de tecnologia que desenvolve e vende bicicletas elétricas. “Basta ver a quantidade de montadoras e grandes patrocinadores envolvidos.” Fato. A Fórmula E tem apoio de 14 empresas, mesmo número da Fórmula 1, como BMW, Tag Heuer, Michelin e Heineken.
Se por muitos anos competições como a Fórmula 1, a Fórmula Indy e as 24 Horas de Le Mans tinham a primazia do desenvolvimento tecnológico, hoje é a Fórmula E que mais se aproxima do que as montadoras consideram um laboratório para o desenvolvimento de seus produtos — e não há como negar que a tecnologia elétrica já é realidade nas ruas,- sobretudo na Europa e nos Estados Unidos. Nas competições, os novos recursos são testados em condições extremas, no limite de cada pista, no milésimo de segundo. Não por outro motivo, a Porsche, outra grande montadora alemã, já anunciou sua entrada na temporada de 2019/2020.
“A Fórmula E é o ambiente perfeito para desenvolver estrategicamente nossos veículos em relação a eficiência e sustentabilidade”, diz Oliver Blume, presidente da Porsche AG. A chegada de grandes montadoras acaba atraindo marcas de outros segmentos, caso da Hugo Boss, parceira desde 2017 da categoria elétrica e que estará associada à Porsche na próxima temporada. “Hugo Boss e Porsche são sinônimo de excelência em inovação e qualidade”, diz Mark Langer, presidente global da Hugo Boss. “Trabalhamos de forma bem-sucedida com automobilismo há décadas e agora miramos o futuro das competições.”
O ambiente fora das pistas também é motivo de comparação. Com menos compromissos de pista (tudo é concentrado em um único dia, até para causar menos impacto nos centros urbanos que recebem as provas), as festas lembram a Fórmula 1 de antigamente. “Todo sábado à noite depois da corrida o Alejandro [Agag, presidente da categoria] adora juntar os pilotos e fazer uma after party”, conta Nelsinho. “Na Fórmula 1 isso existe, mas na Fórmula E o entretenimento com patrocinadores, celebridades e políticos é muito bem feito.”
Nelsinho tem boas lembranças de uma festa em particular. “No primeiro ano em Punta del Este conquistei o pódio e fui comemorar na after party. Alugaram uma casa incrível, à beira d’água, com um DJ famoso. Ia ficar pouco porque marcaram um treino no dia seguinte. E aí não sei de onde começou a aparecer tanta mulher que acabei ficando bem mais do que eu imaginava. Aquela festa ficou conhecida como a melhor de todos os tempos. Saí umas 3h30, normalmente ficamos até as 7, 8 da manhã. No outro dia, os dois carros que testei foram parar no muro [risos].”
Com tanta movimentação, já é possível apontar a Fórmula E como a nova Fórmula 1? Especialistas garantem que ainda é cedo — ou talvez nunca seja o caso de compará-las. Essa é a opinião de peso do pentacampeão mundial de F-1 Lewis Hamilton. “Os gases emitidos pelos carros que guiamos não são bons para o meio ambiente, e é claro que me preocupo com isso”, ele me disse durante o GP Brasil de Fórmula 1, em novembro. “Como fã de corridas, não me vejo como um fanático por carros elétricos. Gosto do som, dos motores, da velocidade. Acho que o trabalho que a Fórmula E tem feito é ótimo, com a presença de grandes marcas, como Audi, BMW, Mercedes. Mas são coisas diferentes.”
Max Verstappen, o mais jovem campeão da Fórmula 1, foi na contramão de sua geração — afinal, os millenials são apontados como um dos principais fatores de desinteresse pelas corridas e pelo automóvel em geral. “O próprio chefe da Fórmula E já disse claramente que não vê comparação com a Fórmula 1, e isso já é o suficiente para resolver a questão. É simplesmente uma categoria diferente. As grandes montadoras estão indo para lá, ela está se tornando mais interessante, mas acho que eu serei uma das últimas pessoas do mundo a experimentá-la”, brincou o holandês da equipe Red Bull.
A Jaguar I-Pace eTrophy estreia neste ano com equipe brasileira
A Jaguar foi a primeira montadora premium a se juntar à Fórmula E, isso em 2016. Agora patrocinará o primeiro campeonato de carros elétricos com um modelo de rua, no caso o I-Pace. Ou seja, será uma espécie de “Stock Car elétrica”. O circuito Jaguar I-Pace -eTrophy fará sua estreia nas pistas nesta próxima temporada da Fórmula E, competindo como preliminar nas corridas e seguindo o calendário mundial dessa competição. A primeira etapa será na Arábia Saudita, no dia 15 de dezembro, com 20 pilotos competindo com o mesmo Jaguar I-Pace.
E já no primeiro ano o campeonato contará com uma equipe brasileira, com os pilotos Sergio Jimenez e Cacá Bueno. “É um projeto inovador”, afirmou Cacá. “É o futuro do automóvel, o futuro do automobilismo, e é importante fazer parte disso tudo.” O Brasil também tenta emplacar uma etapa para o calendário de 2019/2020 — EXAME VIP apurou que um circuito de rua em São Paulo na região do Parque Ibirapuera já é apontado pela prefeitura da cidade como principal opção.