Ricardo Almeida e a equipe da RA2: mesmo padrão de alfaiataria (Ricardo Almeida/Divulgação)
Repórter de Casual
Publicado em 23 de maio de 2024 às 06h00.
Com 770 metros quadrados dentro do Cidade Matarazzo, em São Paulo, o novo espaço de Ricardo Almeida não é uma flagship, não tem araras de roupas ou vendedores circulando. Cercado por vidros, sua vista revela muito verde e cantos do complexo fundado por Alex Allard, como o Rosewood Hotel e a Capela Santa Luzia.
Olhando para dentro, o amplo ambiente com poucas paredes possui um bar central, área para desfiles, sala de jogos com sinuca, pingue-pongue, pebolim, simuladores de Fórmula 1, uma réplica do carro de Ayrton Senna e, vá lá, provadores de roupas em alguns cantos.
Mas para entrar lá não basta bater à porta. Mesmo clientes habituais precisam marcar horário, seja para ter um momento diretamente com Ricardo Almeida e suas peças sob medida, seja com Ricardo e Arthur, filhos de Almeida, que juntos com o amigo Gabriel Pascolato tocam no mesmo espaço a marca jovem RA2.
O Ricardo Almeida Studio segue a linha de endereços anteriores, como o da Vila Nova Conceição, onde o alfaiate teve um estúdio nos mesmos moldes, sem roupas à vista, nos anos 1990.
“Nosso espaço já era incrível, mas aqui é mais ainda. Os diretores da Loro Piana vieram e disseram que nunca viram um lugar assim. Sempre pensei no luxo antes de falarem tanto quanto hoje. Faremos muitos eventos aqui”, diz Almeida, que se mudou há poucas semanas para a Torre Mata Atlântica, dentro do complexo e a poucos passos do novo local de trabalho. “Meu dia começa às 6 da manhã na fábrica [no Bom Retiro, centro de São Paulo], e muitas vezes fico atendendo aqui no Studio até 9 da noite.”
O Studio começou a funcionar em setembro passado, em um momento emblemático da trajetória do alfaiate. Em 2023, Almeida completou 40 anos de profissão. Um dos destaques da atual coleção são peças prontas de uma alfaiataria mais relaxada, com menos estrutura. Os incensados ternos e costumes continuam sendo carro-chefe, a preços ainda mais altos — fazer um sob medida com o próprio Almeida pode custar mais de 37.000 reais. Recentemente ele adquiriu novas cores de tecidos desenvolvidos pela Loro Piana. “Apresentaram mais de 90 tons, acabamos escolhendo 18.” Agora Almeida pretende desenvolver roupas para eventos diurnos na praia. “Não aguentava mais fazer peças azuis.”
No atual momento da carreira, Almeida divide o espaço com os filhos. Em um canto do estúdio, atrás de uma mesa de DJ, está a RA2.
Anunciada havia alguns anos, a marca foi um meio de Almeida inserir seus dois filhos mais novos, Ricardo e Arthur, na empresa. Com o amigo Gabriel Pascolato, o trio assina peças de malharia e alfaiataria.
“Funcionamos como um laboratório testando modelagens e cores, com peças atemporais, que não seguem tendências ou padrões”, diz o filho Ricardo sobre peças que misturam influências de dentro de casa e do streetwear, com calças e camisas amplas com valores a partir de 4.000 reais.
A clientela da RA2 é jovem, com idade e círculo social próximos ao trio. Não há e-commerce. A marca pretende crescer por meio do boca a boca dos clientes e amigos. “Queremos criar uma comunidade em torno da marca. Não é simplesmente a venda pela venda. É uma marca em que a exclusividade vem desde o estilo, da qualidade. A ideia não é simplesmente ser comercial”, diz Arthur. “A ideia é que a RA2 realmente seja uma marca muito exclusiva, para um público exclusivo.”
As visitas precisam ser previamente agendadas, e o atendimento é feito pelos três. Algumas peças estão à mostra em uma arara sem destaque no espaço, visto que elas acabam servindo como referência e podem ser personalizadas de acordo com o gosto do cliente. “Mas não apenas como o cliente quer. Temos uma consultoria de estilo para entendermos o que funciona para cada corpo e então fazermos modificações nas roupas”, diz Gabriel.
As roupas são feitas na fábrica da Ricardo Almeida com os mesmos tecidos de alto padrão. Além de dar apoio financeiro, Almeida se diz fã da nova marca. “Eu usaria as roupas deles. Uso esse estilo de roupas quando estou fora do país, mas no Brasil eu tenho a minha imagem ligada a um tipo de roupa e preciso mantê-lo”, explica.
Almeida não abre os valores investidos nem na abertura do enorme espaço em um dos metros quadrados mais caros de São Paulo nem na criação da RA2. “Não queremos nos preocupar com isso. A ideia é fazer arte em forma de roupa. Montei esse estúdio e gastei muita grana. Mas a conta vai fechar”, garante o alfaiate.