Revista Exame

No longo prazo, ainda consideramos o metaverso, afirma diretor da Meta Conrado Leister

Em entrevista à EXAME, Leister refuta a ideia de que as plataformas digitais lucram com conteúdo violento e de ódio

Conrado Leister, diretor da Meta para a América Latina: o desafio é entender o público dos diferentes canais (Vivian Koblinsky/Divulgação)

Conrado Leister, diretor da Meta para a América Latina: o desafio é entender o público dos diferentes canais (Vivian Koblinsky/Divulgação)

André Lopes
André Lopes

Repórter

Publicado em 25 de maio de 2023 às 06h00.

Última atualização em 26 de maio de 2023 às 11h32.

Mark Zuckerberg apostou tudo no metaverso no ano passado. O CEO da Meta chegou a aportar 10 bilhões de dólares na ideia para dominar o mercado da realidade virtual (VR) e aumentada (AR). Isso lhe custou muito tempo. E ainda mais dinheiro. A certa altura, sua riqueza caiu mais de 100 bilhões de dólares em relação ao pico — um declínio considerável para o millennial que, apenas alguns anos atrás, era a terceira pessoa mais rica do mundo. A aposta dos investidores era de que o rebranding do antigo Facebook era um caminho arriscado e sem suporte dentro das tecnologias atuais. Por fim, após cortes de 20.000 trabalhadores e um completo escanteio do metaverso, viu os negócios voltar a crescer no último trimestre e sua fortuna se recuperar. 

Os sinais dessa guinada de volta ao mundo físico foram acompanhados pela reportagem da EXAME. Em 2022, no Meta Summit, um dos primeiros eventos pós-pandemia da empresa para anunciantes brasileiros, o metaverso era a bola da vez. A empresa anunciou avatares virtuais, promoveu influenciadores que divulgavam a tecnologia e propagou que os negócios do futuro seriam vistos através das lentes do Oculus Quest, o aparelho com o qual se acessa o metaverso da empresa. Em 2023, a conversa já era outra. Quem dita as tendências, no novo discurso, são as gerações mais novas, como a Z, que, por consequência, movem o mercado. Conquistá-los é um dos desafios.

Outro desafio, diretamente ligado às novas gerações, é enfrentar a crescente pressão do concorrente TikTok, que ganha menos por anúncio, mas tem se mostrado um incômodo quando se trata de atrair os mais jovens — daí a nova posição da Meta. 

No Brasil, com 154 milhões de usuários de mídias sociais, as novas regras propostas pelo PL 2.630/2020 para regular a Meta e seus pares trouxeram um questionamento que já se julgava superado: as redes sociais são ou não responsáveis por crimes cometidos ou divulgados nas plataformas digitais?

Em entrevista à EXAME, antes do adiamento da votação do PL para junho, o diretor da Meta no Brasil, Conrado Leister, explicou os pontos de discordância da empresa na proposta de lei. Também comentou sobre como a empresa encara hoje o metaverso e as responsabilidades que passou a exercer ao gerenciar sistemas importantes para a comunicação e os negócios brasileiros, além da entrada mais ativa como meio de pagamento via WhatsApp Payments.

A Meta já passou por escrutínio em diferentes mercados a respeito de moderação de conteúdo. A empresa respondeu a muitos desses questionamentos com novas ferramentas e mecanismos de controle. O cenário recente no Brasil não me parece ser tão diferente de outros já superados. O que há no Projeto de Lei no 2.630/2020 que incomoda a empresa?

A empresa está aberta a debater regulações adicionais da internet que tragam regras claras e justas para todos. Mas muito do recente debate sobre regulação no Brasil tem como base a premissa equivocada de que as plataformas digitais lucram com conteúdo violento e de ódio. Isso não é verdade. Alguns dos pontos de preo­cupação que temos sobre o texto proposto no fim de abril incluem os dispositivos sobre direitos autorais e de remuneração de veículos de imprensa. No caso de direitos autorais, o texto não traz uma exceção clara para conteúdos gerados pelos usuários, o que significa que potencialmente qualquer foto que você tire e publique nas suas redes poderia entrar no escopo da regulação do governo. Além disso, a proposta sobre direitos autorais rompe com abordagens internacionais e não considera relações e práticas comerciais vigentes a respeito de conteúdos protegidos. No caso da Meta, temos acordos com gravadoras de música e oferecemos ferramentas para que detentores de direitos nos informem sobre seus conteúdos protegidos para que possamos impedir que eles sejam publicados nos nossos aplicativos. Em relação ao trecho no PL sobre remuneração de publishers, o texto não considera que as notícias aparecem nos nossos aplicativos por decisão voluntária dos veículos, para que eles possam engajar e aumentar sua audiência. A Meta não carrega notícias proativamente em seus aplicativos, e as notícias representam menos de 3% do conteúdo que as pessoas veem no feed do Facebook.

Em números gerais, considerando Facebook, Instagram e WhatsApp, hoje qual é o tamanho da operação de revisão de conteúdo da Meta, globalmente e para o Brasil? O PL em vigor tornaria esse trabalho maior do que já é?

Temos uma robusta estrutura global com tecnologia e revisão humana para analisar denúncias 24 horas por dia, sete dias por semana, em mais de 70 idiomas, incluindo o português. Desde 2016 a Meta investiu mais de 16 bilhões de dólares em integridade e segurança de nossos aplicativos. Números específicos de determinado país ou idioma não refletiriam a complexidade desse trabalho, uma vez que ele é realizado por equipes multidisciplinares ao redor do mundo todo.

O WhatsApp Pay foi apresentado em 2017, mas só recentemente se tornou um terminal de pagamentos para lojistas. Isso é um sinal de que a Meta tem agido com mais cautela nos mercados em que atua?

Nossa abordagem varia bastante. Às vezes, lançamos um produto em fase alfa ou beta, conduzimos um piloto e, se não funciona, mudamos para outra coisa. Então, essa missão de experimentação e persistência continua sendo essencial para nós e vem desde o Facebook. Um exemplo disso é a nossa abordagem com o metaverso. Ainda estamos investindo nele, apesar de estarmos falando um pouco menos publicamente. E continuamos a acreditar que isso será uma nova onda, uma nova plataforma computacional para o futuro. O WhatsApp Payments é outro exemplo disso. Ele foi muito testado, é seguro e recebeu a aprovação do Banco Central. Ainda estamos começando com pequenas empresas, justamente por termos aprendido algumas lições sobre o mercado local que devem ser consideradas com responsabilidade.

Mas o metaverso saiu do foco central do negócio da Meta?

Nós mudamos um pouco a forma como nos comunicamos para tornar mais claro o que realmente significamos. No médio e no longo prazo, digamos em cinco ou dez anos, continuaremos a considerar o metaverso. Acreditamos que, com as condições tecnológicas evoluindo como estão, tanto em termos de hardware quanto de software, e da maneira como sempre trabalhamos, conseguiremos desenvolver isso.

No Meta Summit de 2023 vocês destacaram que os anunciantes devem olhar para o público mais jovem.Isso é sinal de que, como a empresa, o perfil dos usuários também mudou? 

Percebe-se que nossas plataformas possuem pontos fortes que geralmente se relacionam com uma faixa etária ou com um grupo específico de pessoas. Por exemplo, o Facebook sempre foi o lugar onde as pessoas se conectam com amigos de uma forma mais participativa. Por outro lado, o Instagram é mais sobre a expressão indivi­dual e tendências. E temos o WhatsApp, que une comunicação e negócios. Ainda que nossas plataformas tenham pontos fortes distintos, percebemos uma sobreposição entre demografias, especialmente quando implementamos recursos específicos. Por exemplo, quando lançamos o stories no Instagram, inicialmente observamos um uso mais frequente entre os usuá­rios mais jovens. No entanto, com o tempo, vimos isso se expandir, e hoje o stories é um recurso massivamente utilizado por todas as faixas etárias. Notamos a mesma tendência com o ­reels, mas, novamente, ainda não é completamente claro como a demografia se divide nesse caso. No Facebook, entendemos que há pessoas que o utilizam há mais tempo e talvez representem uma faixa etária mais velha. 

Quais outros planos seguem no radar da empresa?

A maior parte do nosso investimento, cerca de 80%, é destinada aos nossos apps. A busca é por melhorias de nossas plataformas para as pessoas e para os nossos parceiros anunciantes. A inteligência artificial, que é o principal motor do bom desempenho de nossos negócios, também deve ser incrementada cada vez mais. Estamos, por exemplo, criando conteúdo artificial a partir de texto e explorando diferentes temas. No que diz respeito ao metaverso, lançamos um novo Oculus Quest, que simplifica o acesso ao metaverso.

O que deve ser destaque no Brasil?

Por aqui, lançamos muitos novos recursos, principalmente na área de mensageria, que podem gerar resultados expressivos. No ano passado trabalhamos com a General Motors, mais especificamente com a Chevrolet, aqui no Brasil. Eles tiveram a ideia de usar o WhatsApp para gerar oportunidades de negócios para suas concessionárias venderem carros. No período da campanha, mais de 60% dos contatos para compra foram feitos por meio do WhatsApp. Eles conseguiram vender mais de 5.000 carros por meio do aplicativo.

Depois da mudança da marca e da integração dos mensageiros, como você entende que os brasileiros enxergam a empresa atualmente?

Ainda que nem todos saibam que o WhatsApp, o Instagram e o ­Facebook são parte de uma mesma companhia, a gente tem alinhado a estratégia para que isso fique cada vez mais claro. Mas no Brasil estamos vendo uma adoção muito ampla de todos os nossos serviços e penso que isso está ligado ao fato de a cultura brasileira ser muito social. As nossas plataformas permitem ampliar esse comportamento. Não por acaso, o país é sempre cotado para os nossos testes de novos recursos e atualizações, e o que fazemos é sempre encarado com entusiasmo. Quando lançamos o stories, em 2016, por exemplo, o Brasil foi um dos primeiros a abraçar a funcionalidade e um dos primeiros mercados com anunciantes e novos negócios ao redor dele. Acredito que logo deve ser um dos países a abraçar o metaverso.  


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