A favorita: Dilma está em trajetória de recuperação do prestígio com o eleitor, mas tem perigos à frente (Ueslei Marcelino/Reuters)
Da Redação
Publicado em 14 de fevereiro de 2014 às 13h04.
São Paulo - "Com os governos Lula e Dilma, o paulistano viu sua vida mudar para melhor da porta para dentro de casa”, dizia o petista Fernando Haddad no primeiro programa eleitoral da campanha de 2012 para a prefeitura de São Paulo.
“Ele tem mais emprego, mais comida e mais eletrodomésticos”, completava, enquanto a câmera mostrava fogão, geladeira, máquina de lavar e móveis de cozinha novos em folha numa casa de classe média.
O marqueteiro que elaborou o vídeo, parte da última grande campanha do Partido dos Trabalhadores, é o mesmo que trabalhará pela reeleição de Dilma Rousseff: João Santana. A esta altura, a presidente Dilma — como é usual com quem já está instalado no poder — é a favorita para a eleição de 2014.
As últimas pesquisas lhe conferem 43% de intenção de votos, percentual superior à soma dos concorrentes. Ou seja, seria o suficiente para a reeleição em primeiro turno. Há, porém, motivos para seus opositores se animarem a se apresentar como uma opção anti-Dilma.
Um dos trunfos das campanhas anteriores de Santana para o PT foram as condições favoráveis da economia. Desta vez, o crescimento vagaroso, o aperto de custos nas empresas diante da rentabilidade menor, a inflação dos alimentos, que está em 8% ao ano, e o freio no ímpeto do consumo são indícios de que nem tudo vai bem. E os brasileiros estão mais desconfiados de que a vida poderá piorar.
“Nas eleições presidenciais, a economia é o assunto mais importante”, diz o cientista político Antônio Lavareda, o marqueteiro que mais fez campanhas políticas no Brasil. “Em 2014, devido à deterioração dos indicadores, ela terá ainda mais influência.”
Nem o economista mais apocalíptico aposta numa piora de quadro para os níveis de 2002, quando Fernando Henrique Cardoso não conseguiu fazer o sucessor porque enfrentava desemprego de cerca de 10% e inflação em 12,5%. Mas, diferentemente do que se viu em 2010, quando o país cresceu 7,5% e o consumo fluía, agora há mais espaço para criticar a gestão econômica e se posicionar como uma espécie de anti-Dilma.
“A oposição encontrará um governo na defensiva porque há um quadro de insegurança na economia que vai ter influência eleitoral”, diz o senador Aécio Neves, provável candidato do PSDB à Presidência da República. Claro que ninguém esperaria que Aécio dissesse o contrário. Mas uma pesquisa recente indicou que quase 60% dos eleitores receiam que a inflação aumente nos próximos meses.
Em 2010, no fim do governo Lula, só 33% temiam alta nos preços. Além da inflação, corrosiva para o poder de compra, a taxa de emprego é outro ponto que deve ser olhado de perto. Quatro em cada dez pessoas acham que o desemprego vai crescer nos próximos meses. É o maior percentual desde 2009, no auge da crise global. E a festa do consumo também arrefeceu.
Em 2013, a expansão do varejo deverá ser de 4,5%, a menor taxa desde 2004. A renda das famílias comprometida com dívidas subiu de 19,5% para 21,5% de 2010 a 2013. “O eleitor que compra uma TV ou uma geladeira nova está bem mais propenso a votar no governo do que o que quis comprar mas não pôde”, diz Alberto Carlos Almeida, dono do Instituto Análise, que faz pesquisas e traça cenários políticos para o setor privado.
A piora nos indicadores é parte da explicação para o fato de que dois terços dos brasileiros manifestam querer mudanças nas ações do próximo presidente, seja ele quem for. Em 2010, quando Lula fez a sucessora, 75% dos eleitores desejavam a continuidade. Não deixa de ser um cenário curioso: de um lado, há o desejo de mudança; de outro, Dilma segue sendo a grande favorita.
A grande dúvida hoje, aliás, é se ela vai liquidar a eleição no primeiro turno. Caso o pleito vá para o segundo, quem seria o anti-Dilma? Os candidatos mais prováveis são o próprio Aécio e o governador pernambucano, Eduardo Campos, líder do PSB. A ex-senadora Marina Silva corre por fora — só deve entrar na disputa se a candidatura de Campos não decolar.
Ainda não se sabe que propostas o PSDB e o PSB vão apresentar para tirar a economia do marasmo, com a provável média de crescimento de 2% no governo Dilma. Por ora, só há declarações genéricas.
“Do meu lado, os principais pontos do debate devem ser como retomar o crescimento, que plano de longo prazo queremos e como melhorar a qualidade de vida da população, um tema que ficou latente com as manifestações de junho”, diz Campos.
Como mostraram os clamores por “um padrão Fifa” em áreas como a de transporte, a eficiência dos serviços prestados pelo Estado tende a ser outro divisor de águas. “Com facilidade de crédito e melhoria na renda, o brasileiro teve anos de mobilidade econômica”, diz Márcia Cavallari, presidente da empresa de pesquisa Ibope Inteligência.
“Mas saúde e educação ficaram para trás. A qualidade dos serviços públicos será o foco da campanha presidencial.” De acordo com a pesquisa CNI/Ibope de dezembro, 72% dos brasileiros desaprovam a atuação do governo em saúde. Em março de 2011, o índice de desaprovação era de 53%.
Apesar disso, de julho para cá, Dilma retomou parte da popularidade perdida: 43% das pessoas aprovaram seu governo, ante 31% cinco meses atrás. Se o cenário mais provável se confirmar e Dilma disputar com Aécio e Campos, a tendência é que a eficiência do Estado ganhe ainda mais força no debate.
Os dois fizeram gestões estaduais marcadas pelo discurso de usar melhor o dinheiro público e por avanços em indicadores de segurança, saúde e educação. O governador Campos é o segundo mais bem avaliado do Brasil, segundo pesquisa do Ibope. Já Aécio deixou o governo de Minas Gerais em 2010 com 92% de aprovação.
João Santana e a coordenação da campanha de Dilma, com a máquina nas mãos, deverão explorar programas do governo que respondem aos anseios populares. O Mais Médicos é um ponto a favor na saúde, apontado por 77% dos brasileiros como um dos três maiores problemas do país.
Para a demanda por empregos de melhor qualidade, o governo deve usar o Pronatec, que colocou 5,5 milhões de brasileiros em cursos profissionais, de soldador a auxiliar financeiro. O Minha Casa, Minha Vida e o Minha Casa Melhor também são bem avaliados pela maioria.
Não resta dúvida de que Dilma é favorita — mesmo entre os 66% que querem mudança, 32% pretendem votar nela. Mas ela tem, na economia, um flanco frágil. Algum de seus opositores saberá explorá-lo?