Wesley Batista, da JBS, preso em setembro: "pânico", reflexo nas ações e nas empresas do grupo (Rafael Arbex/Estadão Conteúdo)
Giuliana Napolitano
Publicado em 20 de setembro de 2017 às 22h18.
Última atualização em 21 de setembro de 2017 às 10h37.
Sentado em frente ao juiz horas depois de ter sido preso em sua casa em São Paulo no dia 13 de setembro, o empresário Wesley Batista estava acuado. Olhava repetidas vezes para seu advogado antes de responder às perguntas do juiz. Chegou a errar o número da carteira de identidade e, quando perguntado, não lembrou o número do telefone celular — com o qual, segundo o Ministério Público e a Polícia Federal, ele negociou ações e moedas usando informações privilegiadas.
Durante quase 1 hora, Wesley defendeu a legalidade de suas decisões no comando da empresa de alimentos JBS e disse ter ficado em “pânico” ao ser levado para a carceragem da Polícia Federal. Não temia por ele, segundo afirmou, mas pelo futuro da JBS. Para o empresário, sua prisão colocaria a companhia em risco.
Fora dos limites da empresa, pouca gente lamentou a saída de Wesley do posto de presidente executivo. No mercado financeiro, ela chegou a ser comemorada. A expectativa de credores e investidores era que a família Batista deixasse de vez o comando da JBS — e aproveitasse o momento para indicar um executivo de mercado para assumir a presidência, mostrando que a empresa estava pronta para iniciar uma nova fase, mais distante de acusações e suspeitas. Essa expectativa mais otimista durou dias.
No fim de semana seguinte à prisão de Wesley, ficou claro que se afastar da JBS está longe de ser a intenção da família. Numa reunião na noite de sábado 16 de setembro, o conselho de administração da JBS escolheu o pai de Wesley, José Batista Sobrinho (cujas iniciais formam o nome da empresa), para ocupar a presidência da companhia que ele fundou na década de 50.
EXAME apurou que a sugestão foi feita pelo próprio empresário, que também é conselheiro da JBS. Aos 84 anos, Batista Sobrinho, conhecido como Zé Mineiro, convenceu o conselho dizendo que ficará no cargo por “apenas” dois anos, tempo em que um sucessor será preparado — pelo menos um de seus herdeiros é visto como um sucessor em potencial. Os Batista saíram fortalecidos da reunião. Mas que ninguém se iluda: nas últimas semanas, a situação da JBS e do grupo que a controla, a J&F, piorou, e piorou muito.
A prisão de Wesley Batista e, dias antes dele, de seu irmão Joesley mergulhou a J&F num cenário de total incerteza. Como os dois são acusados de novos crimes além dos que eles admitiram em maio, os acordos de colaboração que fecharam com o Ministério Público estão em xeque. A delação premiada de Joesley já foi rescindida pela Procuradoria-Geral da República — a decisão precisa ser homologada pelo Supremo Tribunal Federal.
Também cabe à Justiça decidir se o acordo de leniência da J&F, assinado em maio, ainda vale. Isso porque uma das cláusulas da leniência é a validade dos acordos de colaboração. A depender da decisão, a venda de empresas controladas pela J&F, como a produtora de celulose Eldorado e a fabricante de produtos lácteos Vigor, anunciada nos dois últimos meses, poderá ser anulada. Se isso acontecer, a situação financeira da J&F passará a ser uma incógnita.
Sem a venda de ativos, o grupo terá dinheiro para pagar a multa de 10,3 bilhões de reais acertada no acordo de leniência? Com Joesley e Wesley sendo acusados de novos crimes, a multa pode aumentar? Os bancos, que renegociaram as dívidas da JBS em julho e concordaram em suspender boa parte dos pagamentos por um ano, voltarão a emprestar para uma empresa que emenda uma crise na outra? Os reguladores americanos podem multar a JBS, que têm ações negociadas na Bolsa de Valores de Nova York? Aos 84 anos e afastado de cargos executivos desde a década de 80, Zé Mineiro será capaz de manter nos eixos uma companhia que fatura 170 bilhões de reais? A verdade, hoje, é que ninguém tem essas respostas.
Por tudo isso, a desconfiança no mercado financeiro é generalizada. Nos dois dias seguintes à nomeação de Zé Mineiro, a JBS perdeu cerca de 1 bilhão de reais em valor de mercado. Suas ações caíram quase 5%. EXAME apurou que as vendas do controle das empresas Eldorado e Vigor podem ser suspensas temporariamente porque os contratos estabelecem que os pagamentos à J&F só poderão ser feitos com a leniência assegurada pela Justiça. Essas transações somam quase 21 bilhões de reais e respondem por 71% dos negócios anunciados pela J&F nos últimos meses.
As vendas da fabricante de calçados e roupas Alpargatas, de operações da JBS na América do Sul e da processadora americana de carnes Moy Park não são condicionadas à confirmação da leniência (a Moy Park foi vendida em setembro para outra empresa do grupo J&F, a também americana Pilgrim’s). Mas a transação da Alpargatas poderá sofrer impactos se a Justiça resolver modificar o acordo.
Em gravações tornadas públicas em setembro, Joesley disse a Ricardo Saud, diretor de assuntos institucionais da J&F (também preso), que tinha a intenção de esconder parte dos crimes que cometeu ao fazer sua delação premiada. Se for comprovado que a J&F obteve mais vantagens indevidas do que seus donos admitiram na delação original, o acordo de leniência poderá ser mudado.
O cenário mais provável, na opinião de advogados consultados por EXAME, é que a multa seja elevada. Os compradores da Alpargatas — a Itaúsa, holding que controla o banco Itaú, e os fundos de investimento Cambuhy e Brasil Warrant — podem reter até 1 bilhão dos 3,5 bilhões de reais oferecidos pela empresa em contingências legais caso a J&F sofra algum novo impacto que tenha reflexo nas controladas antes da conclusão da operação, segundo pessoas que acompanharam as negociações de venda.
EXAME apurou que o grupo canadense Brookfield, que negocia a compra de linhas de transmissão da companhia de energia Âmbar, também controlada pelo grupo J&F, pede a inclusão de uma conta de contingências na transação — como fez quando comprou concessões sanitárias da Odebrecht Ambiental. Procuradas, as empresas compradoras não comentaram. A J&F informou, por e-mail, que “a revisão proposta pela PGR se limita às colaborações de Joesley e Saud” e que o acordo de leniência não está em revisão.
Uma eventual revisão do acordo de leniência também pode mudar a situação da JBS com os bancos. Em julho, as instituições financeiras haviam concordado em renegociar uma dívida de 20,5 bilhões de reais da empresa. Segundo um executivo que participou da renegociação, o contrato firmado com a JBS estabelece que os credores podem fazer a cobrança antecipada das dívidas se o acordo de leniência for cancelado ou se houver uma “mudança material”, como o aumento do valor da multa. “Não é nossa intenção cobrar, porque isso pode comprometer demais a situação financeira da empresa, mas não temos controle sobre o que os demais credores vão fazer”, diz um diretor de banco. “A situação do grupo está estável, mas pode se deteriorar com o tempo.”
Hoje, os grandes bancos não estão emprestando para a JBS porque não tiveram demanda. Segundo banqueiros, a empresa vem conseguindo pagar o que deve com os recursos que tem em caixa. Mas, quando precisar recorrer ao mercado, deverá encontrar uma situação complicada. “Não faz sentido emprestar para uma empresa envolvida em tantos problemas. Os riscos são muito altos. Como um banco estrangeiro vai justificar isso para seus comitês? O negócio se tornou radioativo”, diz um executivo do mercado financeiro.
Para tentar diminuir o risco, EXAME apurou que os principais bancos credores passaram a sondar possíveis interessados em comprar a fatia dos Batista na JBS (42% do capital total). Uma pessoa com conhecimento do assunto afirma que a Brookfield já começou a avaliar a companhia para uma possível proposta (a Brookfield nega). Fundos soberanos árabes e chineses também estão sendo sondados pelos bancos.
Hoje, a participação da família na companhia vale cerca de 10 bilhões de reais, mas a transação envolveria o pagamento de um prêmio de controle por parte dos compradores — no histórico de transações da bolsa brasileira, esse prêmio varia de 30% a 110%. Se decidissem vender agora, no entanto, os Batista deixariam dinheiro na mesa. As ações da JBS já desvalorizaram quase 30% no ano e, segundo o analista Marco Saravalle, da empresa de investimentos XP, são negociadas com um desconto de cerca de 50% em relação às de sua concorrente BRF. Procurados, os bancos não comentam e a JBS nega qualquer negociação ou intenção de venda de seu controle.
Nos Estados Unidos, a JBS tenta conseguir um acordo com a Justiça com base no acordo de leniência fechado no Brasil, como fez a Odebrecht. Se a leniência for revista, a negociação com o Departamento de Justiça americano poderá voltar ao estágio inicial. Além disso, escritórios de advocacia passaram os meses de junho e julho buscando acionistas da JBS nos Estados Unidos dispostos a abrir uma ação de classe contra a empresa, como fizeram os investidores da Petrobras e da petroquímica Braskem, cujo controle é dividido por Odebrecht e Petrobras.
Além dos riscos financeiros, a companhia precisa administrar uma disputa potencialmente explosiva com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), principal acionista minoritário da JBS, que só piorou com a nomeação de Zé Mineiro para a presidência. A indicação foi aprovada pela conselheira do BNDES na empresa, a advogada Claudia Santos, mas, pouco depois do anúncio, Paulo Rabello de Castro, presidente do banco, disse não ter avalizado a escolha.
Rabello afirmou que a reunião aconteceu na “calada da noite” e que Claudia tomou a decisão por conta própria. Rabello chegou a dizer que entraria com uma ação na Justiça para reverter a escolha, mas, horas depois, voltou atrás. Declarou, em comunicado, que cabe à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) ou a um tribunal arbitral se manifestar sobre as condições em que a reunião do conselho aconteceu — a JBS, por sua vez, enviou uma carta ao banco dizendo que vai tomar medidas legais “necessárias à proteção de seus direitos e de seus acionistas”.
O BNDES e a JBS já têm uma briga nos tribunais, relativa à realização de uma assembleia de acionistas, originalmente marcada para 1o de setembro e que, até o fechamento desta edição, no dia 19, estava suspensa. O BNDES propôs uma ação de responsabilidade contra os Batista, pedindo que sejam avaliados os prejuízos que eles causaram à JBS pelos crimes que praticaram. O banco também solicitou à CVM e à Justiça que representantes da família sejam impedidos de votar na assembleia — como recebeu uma decisão contrária, entrou com recurso. A família quer votar e reagiu, e o caso será avaliado num tribunal de arbitragem.
“Campeã nacional”
A J&F só se tornou o que é graças ao acesso farto a recursos públicos, de bancos estatais e fundos de pensão, em especial durante os governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Foi com esse dinheiro que o frigorífico fundado por Zé Mineiro se transformou num dos principais grupos empresariais do país, a J&F. Em dez anos, o grupo fez mais de uma dezena de aquisições, aqui e no exterior. A JBS tornou-se a maior processadora de carnes do mundo, com um quadro de 235 000 funcionários em mais de 20 países.
Os Batista também foram capazes de montar, do zero, uma das maiores produtoras de celulose do planeta, a Eldorado. A J&F ainda é dona de um banco (Original) e de uma fabricante de produtos de higiene e beleza (Flora), além das empresas colocadas à venda. A generosidade das instituições públicas acabou, mas os negócios criados ao longo da última década permaneceram.
Em relação a outras empresas envolvidas em denúncias de corrupção, a J&F tem duas vantagens. A primeira é o fato de não depender de contratos públicos para continuar operando. Se esse fosse o caso, suas atividades com o governo estariam paralisadas até a obtenção definitiva do acordo de leniência, como ocorreu com as empreiteiras Odebrecht, Camargo Corrêa, Andrade Gutierrez e UTC (que pediu recuperação judicial).
Outra vantagem é a qualidade de suas empresas. Graças a investimentos em tecnologia e gestão, a Eldorado tem o menor custo de produção no setor. Além disso, cresceu mais do que o esperado: a meta inicial era que a fábrica produzisse 1,5 milhão de toneladas de celulose neste ano, e a produção chegou a 1,6 milhão. A Alpargatas é dona da Havaianas, uma das marcas de calçados mais valiosas do planeta. No primeiro semestre, a Alpargatas aumentou o lucro em 35%. A JBS lucrou quase 900 milhões de reais no mesmo período. “A JBS é forte operacionalmente. Por enquanto, não há motivos para fazer uma mudança na nota de risco da empresa”, diz Johnny da Silva, diretor da agência de classificação de riscos Fitch Ratings.
Mas os problemas recentes geraram desconfiança entre os fornecedores que vendem bois para a JBS, e isso pode, segundo analistas do setor agropecuário, dificultar as compras da empresa. Um primeiro solavanco ocorreu em maio. De acordo com fornecedores, a JBS suspendeu as compras à vista e passou a parcelar o pagamento em 30 dias depois do dia 18, quando as delações de Joesley e Wesley ficaram públicas. Além disso, a empresa diminuiu o ritmo de abate em 65%.
A retração da JBS, que compra de 25% a 30% do gado abatido no país, provocou queda de 5% no preço da arroba de boi gordo em maio, segundo o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada. Foi a maior queda para o mês desde 1998, quando o centro iniciou a série histórica. “Os fornecedores viram que precisam depender menos da JBS”, diz Pedro de Camargo Neto, diretor da Sociedade Rural Brasileira.
E os concorrentes enxergaram uma oportunidade. O frigorífico Minerva anunciou, em junho, a reativação da unidade de Mirassol d’Oeste, em Mato Grosso, que estava parada desde 2015. Em julho, o Marfrig reabriu as unidades frigoríficas de Nova Xavantina, também em Mato Grosso, e Pirenópolis, em Goiás, além de expandir a produção de quatro unidades nos estados de Goiás, Mato Grosso, Pará e Rondônia. Com isso, a empresa elevou em 25% sua capacidade de abate.
Segundo consultores especializados, a JBS vinha aumentando os abates desde julho, mas voltou a interromper as compras de gado após a prisão de Wesley. “Acreditamos que será algo pontual, como aconteceu em maio, mas é preciso monitorar”, diz Gustavo Aguiar, sócio da consultoria Scot, que acompanha 32 praças de abate em 17 estados.
Um plano e nada mais
EXAME apurou que, desde maio, havia um plano para organizar a sucessão de Wesley na JBS. Tarek Farahat, ex-presidente da fabricante de bens de consumo P&G, foi convidado para presidir o conselho de administração da empresa tendo esta como uma de suas principais missões (procurado, o executivo não comentou e a JBS disse que a informação não procede). Segundo profissionais próximos ao grupo, o plano nunca saiu do papel.
Até setembro, a empresa não havia sequer contratado uma consultoria para sugerir potenciais candidatos e ajudar a avaliar os quadros internos, como costuma ocorrer em processos de sucessão de grandes empresas. “Todo executivo relevante numa empresa do porte da JBS precisa ter seu sucessor definido, porque o inesperado pode acontecer. A JBS nunca teve essa preocupação”, diz Eliane Lustosa, diretora de mercado de capitais do BNDES. A lentidão se devia ao fato de Wesley ser visto como um executivo extremamente competente. A avaliação geral era que não havia ninguém melhor do que Wesley para comandar a JBS, especialmente num momento de crise.
Os detentores de títulos de dívida da empresa chegaram a incluir uma cláusula nos contratos de emissão dos papéis estabelecendo que poderiam pedir o vencimento antecipado das dívidas se o executivo saísse da presidência (a JBS nega). “Havia uma clareza sobre a habilidade de Wesley para colocar a empresa em plena regularidade. Mas isso mudou quando ele passou a responder a um processo criminal”, diz um credor.
A percepção foi alterada quando a Polícia Federal e o Ministério Público apresentaram cópias de e-mails, mensagens de celular e depoimentos de funcionários do departamento jurídico e da mesa de operações da JBS. Eles atestam, segundo a PF e o MP, que Wesley mandou vender ações da JBS e comprar dólares na véspera da divulgação das delações, acreditando que isso aconteceria assim que o conteúdo ficasse público (o que, de fato, aconteceu).
O advogado dos irmãos Batista, Pierpaolo Bottini, diz ser “injusta, absurda e lamentável a prisão preventiva de alguém que sempre esteve à disposição da Justiça, prestou depoimentos e apresentou todos os documentos requeridos”. Afirmou ainda que a prisão é uma “vingança contra aqueles que colaboraram com a Justiça”.
Como o planejamento da sucessão não evoluiu conforme o esperado, quando Wesley foi preso, a JBS tinha poucos profissionais prontos para substituí-lo. “Há ótimos executivos, mas eles cuidam de suas áreas de negócio. Não participam das reuniões de conselho e não têm os detalhes das definições estratégicas”, diz um ex-funcionário. A alternativa passou a ser nomear um presidente com um mandato curto — e preparar um executivo para assumir o cargo no futuro.
A opção inicial, segundo apurou EXAME, era colocar no cargo José Batista Júnior, filho mais velho de Zé Mineiro. Mas ele foi vetado no dia 15 de setembro, quando a superintendência do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) recomendou a condenação de Júnior por formação de cartel na compra de gado bovino para abate, um processo que se arrasta desde 2006 (o caso ainda precisa ser julgado pelo tribunal do Cade). Ao nomear Zé Mineiro como presidente, o conselho da JBS determinou a criação de um “time global de liderança”, formado por executivos vistos como potenciais candidatos a assumir o comando da empresa no futuro. Um deles é Gilberto Tomazoni, responsável pela operação global da JBS. Tomazoni foi para a empresa em 2013, depois de ter passado 27 anos na Sadia, hoje BRF (de 2005 a 2009, foi presidente da companhia). Agora, Tomazoni passa a ser chefe global de operações.
Outro é André Nogueira, que está no grupo J&F há dez anos e, hoje, é presidente da JBS nos Estados Unidos. E o terceiro membro é Wesley Batista Filho, que era presidente da divisão de carne bovina da JBS nos Estados Unidos e, após a mudança, tornou-se presidente das operações da JBS na América do Sul, respondendo a Tomazoni. Ele tem 26 anos e um estilo de gestão diferente do praticado pelo pai, segundo executivos da JBS. “Wesley aprendeu a gestão no frigorífico. O filho, nos livros”, diz um diretor. “A nova estrutura global de liderança oferece continuidade e preparo para nossos novos desafios”, disse Farahat em nota ao mercado.
Para Eliane Lustosa, do BNDES, essas mudanças abrem caminho para a profissionalização da gestão da empresa. Em nota a EXAME, a JBS informou estar adotando “medidas com o objetivo de assegurar a adoção de melhores práticas de governança, o fortalecimento e o aprimoramento de seus programas de compliance e a proteção de interesses sociais, inclusive por meio da apuração de eventuais prejuízos que tenham sido causados à companhia”.
Um receio da família sobre a prisão de Joesley e Wesley é o fato de eles não terem curso superior — ou seja, não têm direito a cela especial em caso de condenação. Até o fechamento desta edição, os dois estavam presos na sede da Polícia Federal em São Paulo, mas o Ministério Público Federal deixou claro, na audiência de custódia de Wesley, que essa concessão dependeria do tempo que eles ficarem presos.
O empresário Eike Batista, que também não tem diploma, chegou a ficar detido no presídio Bangu 9 antes de conseguir na Justiça o cumprimento de prisão domiciliar. A prisão preventiva de Marcelo Odebrecht durou nove meses até sua primeira condenação em março de 2016 — ele cumpre pena e, conforme a negociação feita em seu acordo de colaboração, deverá sair da prisão no fim deste ano.
Zé Mineiro presidiu a JBS desde a fundação da empresa, em 1953, até o fim da década de 80, quando passou o cargo para Júnior, que comandou a companhia durante 20 anos. Joesley ocupou o cargo de 2006 a 2011, quando passou o bastão para Wesley e foi dirigir o conselho de administração da J&F. Zé Mineiro sempre foi um conselheiro atuante: vai todos os dias ao escritório da companhia em São Paulo e participa de todas as decisões.
Pessoas próximas dizem que, na família, ele é o mais resistente a passar o comando a executivos de mercado. Por enquanto, sua visão prevaleceu. Para ele, a companhia que leva suas iniciais é parte da família. Para o BNDES, os credores e os investidores, quanto menos Batista na JBS — e na J&F —, melhor. No meio da disputa está o futuro de um grupo que foi um dos símbolos de uma era em que o capitalismo de compadrio dominou o país. Na glória, foi um campeão nacional e um campeão internacional. Hoje, está no epicentro de um escândalo de corrupção e de uma crise política. Com parte dos maiores acionistas na prisão, agora é o emblema de um Brasil que precisa ficar no passado.