Patrimônio destruído: por trás da tragédia do Museu Nacional estão a incompetência, o descaso e a irresponsabilidade da direção da UFRJ | Buda Mendes/Getty Images / (Buda Mendes/Getty Images)
J.R. Guzzo
Publicado em 13 de setembro de 2018 às 05h10.
Última atualização em 25 de setembro de 2018 às 12h42.
O Brasil estaria numa situação até que bem razoável se o incêndio que destruiu o Museu Nacional no Rio de Janeiro, um dos mais estúpidos crimes contra a cultura já praticados em qualquer lugar do mundo, em qualquer época, fosse apenas isso — a destruição do Museu Nacional e seu precioso acervo acumulado em 200 anos de esforços, uma tragédia especialmente deprimente para um país com um patrimônio cultural tão miserável quanto o Brasil. (Já temos pouquíssima coisa guardada; e tacamos fogo nessa pouquíssima coisa que temos.)
Desgraçadamente, porém, se ainda for possível afundar mais na depravação da vida pública brasileira como ela é hoje, a calamidade é muito pior do que parece. O museu, como se sabe, era administrado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e foi a incompetência, o descaso e a irresponsabilidade des seus diretores que provocaram o desastre.
E quem dirige a UFRJ, que dirige o museu destruído? Um partido político de “extrema–esquerda”, e não um grupo de educadores profissionais com alguma qualificação para exercer seu trabalho e suas obrigações perante o público que paga seus salários e benefícios. Este partido é o Partido Socialismo e Liberdade, o PSOL, cujo principal cacique gasta no momento verbas do fundo de “financiamento público” das campanhas eleitorais para concorrer à Presidência da República. Sua principal realização na vida, até hoje, tem sido invadir imóveis. O PSOL chegou à UFRJ num presente que lhe foi dado no funesto governo de Dilma Rousseff. Ocupou a direção de uma ponta à outra, com a distribuição de cargos, também, para os dois partidos comunistas que lhe servem de auxiliares. Nunca mais saiu de lá.
Eis aí a parte pior da catástrofe: a universidade brasileira está sendo (e em boa parte já foi) expropriada do patrimônio público e entregue aos partidos de esquerda — PSOL, PT, PCdoB, PCB — que privatizaram em seu benefício individual o ensino público superior do Brasil. É um ato de suicídio. A universidade pública, que já consome a maior parte da verba federal de educação no Brasil, em prejuízo direto do ensino fundamental, deveria, obrigatoriamente, obedecer a padrões extremos de qualidade para justificar seu custo. Mas o que se faz é justamente o contrário. Em vez de colocar na direção da universidade os mais competentes, o governo da União — e os dos estados também, nas universidades estaduais — entrega o comando aos “partidos de esquerda”.
Com isso, o Brasil, exatamente na contramão do que tentam fazer os países mais bem-sucedidos do mundo (e os que lutam para chegar lá), abriu mão de disputar a batalha do conhecimento. Rendeu-se às forças que imaginam construir o futuro não com a aquisição de saber científico, mas com ideologia, desejos e atos de fé política. A universidade do Brasil, com exceção de focos de racionalidade nas áreas das ciências exatas, está deixando de ser laica. Passa, cada vez mais, a obedecer aos mandamentos religiosos de um conjunto de seitas. É o caminho mais direto para o atraso. Não pode dar certo.
Os grupos políticos que comandam a universidade pública brasileira hoje em dia não permitem a livre circulação de ideias nas salas de aula, nem a liberdade dos currículos — só são admitidos os pontos de vista aprovados por PT, PSOL, PCdoB e PCB. Professores que não se subordinam a suas linhas políticas não conseguem dar aulas, nem montar cursos, ou nem mesmo fazer uma simples conferência.
Não há convites para educadores independentes. Não é respeitado o princípio constitucional da livre expressão do pensamento. Multiplicam-se os cursos sem nenhum fundamento científico, como os que pretendem historiar o “golpe contra a presidente Dilma Rousseff”. A ciência é substituída pela transmissão de superstições ideológicas. O resultado é um trágico acúmulo de ignorância. Há mais liberdade acadêmica na China ou na Rússia, por exemplo, do que no Brasil; por mais autoritários que sejam os regimes, ali há um respeito à objetividade muito maior. Estamos, realmente, no fundo da fossa.