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A V-Rod, uma Harley estranha, deu certo só no Brasil

Menos barulhenta, mais barata, com desenho diferente das motos Harley-Davidson tradicionais e vista como uma aberração pelos fãs mais leais da marca, a V-Rod foi um fracasso no mundo todo. Por que ela emplacou no Brasil?

Donos do modelo V-Rod em São Paulo: fiéis, mas menos apegados à tradição (Alexandre Battibugli/EXAME)

Donos do modelo V-Rod em São Paulo: fiéis, mas menos apegados à tradição (Alexandre Battibugli/EXAME)

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Da Redação

Publicado em 18 de janeiro de 2014 às 13h53.

São Paulo - Todos os sábados, dezenas de donos de motos Harley-Davidson reúnemse nas imediações de uma concessionária da marca na zona sul de São Paulo. Com calças jeans e jaquetas de couro, eles exibem suas motos e discutem a vida sobre duas rodas. O ritual se repete nos 80 países em que a Harley é vendida.

Só no Brasil, porém, a maioria desfila na V-Rod, moto esportiva que pouco lembra o desenho clássico da marca. O modelo foi uma aposta ousada da Harley-Davidson para aumentar o número de consumidores. Custa metade do preço de suas motos tradicionais e tem um terço a menos de potência.

No mundo todo, os fãs mais devotados encararam a V-Rod como uma heresia, sobretudo por diminuir o barulho do motor refrigerado a ar. A V-Rod usa um motor mais silencioso, refrigerado a água, desenvolvido em parceria com a montadora alemã Porsche. Nos Estados Unidos, a V-Rod representa apenas 2% das vendas da empresa.

Um fiasco, portanto. Mas basta ir aos encontros dos “harleyros” nacionais para notar que a brasileirada adorou a novidade. O Brasil é, hoje, o único mercado em que a V-Rod está no topo, com 20% das vendas da empresa.

O desempenho impulsionou sua expansão no país, onde a Harley lidera o segmento acima de 750 cilindradas, seguida por BMW e Honda. Em 2013, a subsidiária faturou cerca de 330 milhões de reais, 15% mais do que no ano anterior.

Com o sucesso local da V-Rod, o Brasil tornou-se um caso de sucesso da Harley em sua obsessão de conquistar os jovens. Seu público mais fiel é composto de cerca de 50 milhões de homens brancos entre 35 e 74 anos.

A maioria mora nos Estados Unidos, berço da marca criada em 1903. Eles reconhecem o ronco do motor a distância e tatuam a marca pelo corpo. Mas compõem um grupo restrito que, segundo a própria Harley, permanecerá estável até 2050. Buscar modelos e mercados novos, portanto, é a saída para não estagnar. 

Sozinha na disputa

Por que a V-Rod deu certo no Brasil? Basicamente porque a Harley-Davidson conseguiu encaixá-la num segmento em que reina sozinha. A V-Rod é a única moto de 1 200 cilindradas que custa cerca de 50 000 reais. A opção similar da rival BMW­ — a BMW R 1200 GS — custa 84 000 reais.

Essa diferença de preço foi obtida com a decisão de produzir a V-Rod no Brasil em 2011. O valor caiu pela metade — e o que era mais caro ficou mais barato. Ajudou muito o fato de os brasileiros não darem muita bola às tradições da Harley-Davidson.

As vendas da V-Rod cresceram 50% no ano passado. “A aceitação foi muito além do que havíamos projetado”, diz Longino Morawski, diretor da Harley no Brasil.

Desde 2010, o Brasil passou de 15o para quinto maior mercado da Harley no mundo. O impulso local ajuda, mesmo que modestamente, lá fora. As vendas globais chegaram a estimados 6 bilhões de dólares em 2013, 7% mais do que em 2012.

O modelo mais popular no mundo é o Street Glide, lançado em 2006, que mesclou o tradicional motor refrigerado a ar com linhas mais ousadas. Nos Estados Unidos, que concentram 70% das vendas, agradou aos mais conservadores e também aos novos fãs — os fiéis e os hereges.

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