Celebração dos 90 anos da Disney no ano passado: a entrada da empresa no mundo do vídeo sob demanda eleva a disputa por audiência a níveis inéditos (Joshua Sudock/Disneyland Resort/Getty Images)
Da Redação
Publicado em 22 de novembro de 2019 às 05h16.
Última atualização em 22 de novembro de 2019 às 06h16.
Poucos fenômenos do mundo dos negócios são tão impressionantes quanto a Netflix. Para usar o jargão das startups, ela primeiro promoveu uma “disrupção” no setor de locação de filmes, destronando e praticamente eliminando a gigantesca Blockbuster, depois inovou no modelo de negócios, apostando em assinaturas e na exibição de todos os episódios de uma temporada de uma vez só, e então “pivotou” seu foco, invadindo a área de produção de conteúdo e tornando-se rival das empresas de quem licencia seu catálogo. Em 21 anos, tornou-se ela própria um gigante com valor de mercado de 129 bilhões de dólares.
Uma estrela dessa grandeza não pode surgir sem provocar distorções no espaço ocupado pelas outras estrelas — e é isso o que temos visto nos últimos anos. A conceituada produtora de conteúdo HBO tratou de lançar um serviço de streaming para competir com a (agora) rival. A Amazon inaugurou uma divisão de conteúdo e um serviço que emula o da Netflix.
A CBS lançou um serviço de streaming (assim como, aqui no Brasil, a Globo). A Apple inaugurou seu serviço, também fazendo a transição de agregadora para produtora de conteúdo. Isso sem falar no Google, dono da plataforma YouTube, e no Facebook, que ainda experimenta modelos.
Todos esses movimentos estão transformando a forma como consumimos entretenimento. Mas nenhum deles é tão potente quanto o que se iniciou neste mês nos Estados Unidos: a Disney, maior conglomerado de entretenimento do planeta, uma estrela com o dobro do tamanho da Netflix, lançou seu serviço de streaming, o Disney+.
Não estamos vivendo apenas uma guerra geral em um mercado extremamente valioso. Estamos vivendo o equivalente a uma revolução, com uma disputa acirrada entre várias gangues. As fronteiras se diluíram. Antigamente, havia os produtores, os distribuidores e os canais de transmissão, cada um com seu papel bem definido. Mas os custos de distribuição despencaram, e a Netflix percebeu que o valor estava no conteúdo. Daí começou um processo de verticalização: cada empresa quer fazer tudo.
Nessa guerra, a morte não é iminente. Em um primeiro momento, o mercado como um todo tem crescido (em parte, ocupando o espaço de outras atividades, como ir ao cinema, conversar com amigos e familiares ou trabalhar): a estimativa é que o número de usuários de vídeo sob demanda alcance 1 bilhão neste ano. A quantidade de séries produzidas nos Estados Unidos quadruplicou nos últimos quatro anos, atingindo 495 programas em 2018, e pela primeira vez a produção para streaming ultrapassou o conteúdo da TV aberta e da TV a cabo.
Num segundo momento, porém, o excesso de programas cobrará seu preço. Para os consumidores, que terão de fazer diversas assinaturas, e para as próprias empresas, quando o tempo que as pessoas dedicam ao streaming perder a elasticidade. A entrada da Disney no ringue precipita essa fase sangrenta.