Revista Exame

Para a empresa de alimentos Korin, a galinha feliz vale mais

A Korin produz frangos criados soltos há 24 anos. Na última década, a marca caiu no gosto de consumidores moderninhos e a receita quadruplicou

Morikawa: rotina dividida entre a Korin e a Igreja Messiânica (Germano Lüders/Exame)

Morikawa: rotina dividida entre a Korin e a Igreja Messiânica (Germano Lüders/Exame)

Mariana Desidério

Mariana Desidério

Publicado em 22 de novembro de 2018 às 05h50.

Última atualização em 27 de novembro de 2018 às 12h26.

Um frango de granja vive pouco mais de um mês. Mas há uma preo­cupação crescente do consumidor com o que acontece nesse curto período de tempo. A tendência de cuidado com os animais caiu como uma luva para a Korin, empresa paulista que vende, desde os anos 90, frangos criados sem antibióticos. Na última década, a Korin multiplicou o faturamento nominal e fechou 2017 em 137 milhões de reais, e a expectativa é terminar 2018 com receitas de 151 milhões. Nas granjas associadas à marca, frangos e galinhas poedeiras não conhecem gaiolas, têm espaço para circular nos galpões, comem ração de milho e soja (sem mistura de proteína animal, ao contrário das criações convencionais) e podem até ciscar ao ar livre. Resumindo: levam uma vida feliz, na medida do possível.

Os produtos também são considerados mais saudáveis. Na criação convencional, os frangos tomam antibióticos de rotina para prevenir ou tratar doenças. Na Korin, não se usam antibióticos ou outros aditivos para estimular o crescimento. O remédio, quando necessário, é feito de probióticos e óleos essenciais. “Tratamos nossa criação de tal forma que ela simplesmente não necessita do antibiótico. Por que um animal que vive tão pouco tempo precisa ficar doente?”, afirma o diretor-superintendente da companhia, Reginaldo Morikawa. O resultado é um produto até 200% mais caro do que o convencional.

Fundada em 1994, a Korin é ligada à Igreja Messiânica e nasceu com o objetivo de atender à demanda dos fiéis por produtos que sigam seus parâmetros. A religião de origem japonesa tem cerca de 2,5 milhões de fiéis no Brasil e prega uma agricultura sem transgênicos, agrotóxicos ou qualquer outro insumo. “Acreditamos que a terra é viva e tem um espírito”, afirma Morikawa, que também é reverendo da igreja.

Todos os anos, a Korin realiza uma cerimônia em homenagem aos animais abatidos em Ipeúna, no interior de São Paulo. Na cerimônia, oferendas de milho, soja e capim são entregues aos espíritos dos animais sacrificados. Por muito tempo, a Korin viveu do dinheiro da Igreja Messiânica. Hoje, a Igreja ainda faz aportes quando necessário, mas a empresa dá lucro, que é todo reinvestido. A virada começou em 2007 com a chegada de Morikawa ao comando. “Investimos em gestão e governança, criamos um conselho de administração, passamos a trabalhar com o conceito de cadeia de suprimentos. Enfim, nos profissionalizamos”, diz ele.

A Korin se esforça para elevar a própria régua. Atualmente, trabalha principalmente com o frango sustentável, que obedece às regras descritas acima, e com o frango orgânico, alimentado somente com ração orgânica. O próximo produto a ser lançado é o frango sustentável livre de transgênicos, um meio-termo entre os dois. O frango sem transgênicos vai custar 10% mais do que o produto sustentável atual da marca, mas, a seu favor, a Korin tem os novos hábitos do consumidor.

O mercado brasileiro de comida saudável cresceu em termos nominais de 30 bilhões de reais, em 2007, para 92 bilhões, em 2017, segundo dados da consultoria Euromonitor. Quando começou a produção em 1994, a Korin abatia 15.000 frangos por mês. Hoje abate cerca de 450.000, além de produzir 2,3 milhões de ovos. Em 2015, passou a oferecer também carne bovina, e pretende investir, no ano que vem, 6 milhões de reais em uma fábrica de embutidos. A companhia também começou a emprestar sua marca para outras linhas de produtos, em especial alimentos orgânicos. No total, oferece 250 itens — como própolis, semente de chia e água.

A tendência dos alimentos saudáveis acendeu o alerta da concorrência. A BRF anunciou em agosto a linha Sadia Bio, de frangos sem antibióticos e alimentados com ração 100% vegetal. A JBS tem uma linha sem antibióticos desde 2015. É um cenário de competição cada vez mais intenso para a Korin. “As grandes companhias entram nesse mercado com muita força de comunicação e inovação. A Korin precisa se modernizar e cuidar da construção de sua marca para não ficar para trás”, afirma Cynthia Antonaccio, fundadora da consultoria Equilibrium, especializada no mercado de alimentação saudável. Segundo ela, se antes os produtos saudáveis tinham um público radical, hoje atendem a uma demanda mais ampla, e isso tem impacto na comunicação das marcas. “Antes, ser só visto como um produto verde era ótimo. Hoje é preciso mais sex appeal”, diz Cynthia.

Outro desafio é a distribuição. Muitos dos itens oferecidos pela Korin não encontram espaço nos supermercados tradicionais. Por isso, a empresa está retomando um projeto de 20 anos atrás. Nos primórdios, tinha a intenção de ser uma versão brasileira da Whole Foods, rede americana de supermercados especializada em produtos naturais, hoje pertencente à gigante de comércio eletrônico Amazon. A Korin chegou a ter seis lojas, mas a aposta quase a levou à falência. Agora, seus executivos acreditam que o vento esteja a favor. A empresa formatou uma franquia e já tem 11 lojas, das quais oito são franqueadas. Os mercados Korin oferecem 1.400 produtos. A meta é abrir outras cinco unidades em 2019. “Há 24 anos estávamos à frente do tempo”, diz Morikawa. Agora ele espera que seu tempo tenha chegado.

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