Revista Exame

Hospedagem compartilhada virou uma festa de apês

O modelo de hospedagem compartilhada popularizado pelo site Airbnb, que permite às pessoas alugar de uma casa a um quarto, começa a atrair as grandes redes de turismo

Cidade de Nova York: para as autoridades locais, o modelo de compartilhamento é sinônimo de evasão de impostos (Danny Lehman/Latinstock)

Cidade de Nova York: para as autoridades locais, o modelo de compartilhamento é sinônimo de evasão de impostos (Danny Lehman/Latinstock)

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Da Redação

Publicado em 19 de fevereiro de 2014 às 20h40.

São Paulo - No começo dos anos 2000 virou moda conhecer pessoas pela internet e se hospedar de graça na casa desses novos “amigos”. Era o turismo do sofá, ou couchsurfing, na expressão em inglês. Ao longo da última década, a internet avançou, as companhias aéreas de baixo custo se popularizaram e o turismo explodiu — em dez anos, o número de viagens internacionais aumentou 61%.

Não demorou até que a esquisitice de anunciar o próprio sofá num site de classificados evoluísse e se transformasse num novo negócio. O site americano Airbnb, que permite que os proprietários de casas e apartamentos aluguem o imóvel ou um quarto para turistas, é o exemplo mais bem-sucedido disso.

Com ferramentas que comparam residências em 192 países de todo o mundo e as alugam por temporada, o site virou uma febre. Em 2013, 10 milhões de pessoas reservaram uma acomodação ali — 67% mais do que no ano anterior. 

O sucesso da empresa, fundada na Califórnia em 2008, inspirou a criação de concorrentes, como o alemão Wim­du­ e o francês Rent Paris. Mas agora o modelo de negócios do Airbnb está sendo copiado pelas maiores empresas de reservas da internet. O americano TripAdvisor, site de turismo mais visitado no mundo, já oferece cerca de 400 000 propriedades para temporadas.

Seu concorrente Expedia, com audiência estimada em 25 milhões de visitantes ao mês, não divulga quantos quartos colocou à disposição em seu site, mas há opções em Nova York, São Francisco, Paris e Rio de Janeiro. No Booking.com, há casas e apartamentos em capitais brasileiras e em cidades pequenas, como a paulista Águas de Lindoia.

No Hoteis.com, o serviço está em fase de testes em cidades dos Estados Unidos. “Se for uma experiência bem-sucedida, faremos isso globalmente”, diz Johan Svanstrom, presidente do site Hoteis.com.

A adesão de gigantes do setor de reservas online não deixa de ter seu lado surpreendente. Isso porque o modelo Airbnb tem sido alvo da fúria de hotéis e governos. As pessoas que alugam suas­ casas não pagam os impostos a que os hotéis estão sujeitos.

Desde 2013, Nova York tenta conter o serviço multando os proprietários com base numa lei que proíbe o aluguel de imóveis por um período inferior a quatro semanas.

Em janeiro, o condado de Palm Beach, na Flórida, acionou judicialmente o Airbnb e seu concorrente Homeaway dizendo que eles deveriam recolher 5% de taxa sobre cada transação. As redes de hotéis americanas afirmam que o emprego de 133 000 garçons, 220 000 balconistas e 423 000 funcionários de limpeza está em perigo.

O Airbnb tem contra-atacado com o argumento de que o modelo de hospedagem gera benefícios às cidades, principalmente para bairros que não atraí­am turistas. Em Paris, 70% dos apartamentos alugados estão na periferia.

Outro argumento é que os recursos obtidos pelos moradores estimulam novas formas de organização do trabalho — 50% dos anfitriões em Nova York são profissionais freelancers; em São Francisco, 30% economizam para empreender.

“Os governos precisam regulamentar a hospedagem compartilhada para que não haja uma concorrência predatória, mas a proibição não faz sentido”, diz John Kester, diretor de tendências na Organização Mundial do Turismo.

Para o Airbnb, a adesão das grandes empresas de reservas cria uma situação inusitada. Por um lado, trata-se de um apoio a seu modelo de negócios ante os ataques; por outro, coloca a concorrência em outro patamar. Os gigantes do turismo online, afinal, também querem um lugar na festa dos apês.

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