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Da Redação
Publicado em 26 de maio de 2011 às 11h20.
A história da Tigre começou há 64 anos, quando o empresário catarinense João Hansen Júnior apostou no potencial do PVC, material plástico que, desde então, passaria a ter larga utilização na construção civil. Hoje, a empresa, com sede em Joinville, tem cinco fábricas no Brasil e quatro no exterior (Argentina, Bolívia, Chile e Paraguai), que empregam juntas cerca de 4 000 pessoas.
Dona de uma marca consagrada, a Tigre passou por uma reviravolta em 1995, quando a gestão foi profissionalizada e o executivo Amaury Olsen assumiu o comando. Olsen, que fez carreira na Tigre -- de auxiliar de escritório a presidente --, imprimiu um ritmo mais acelerado à companhia, com base no lançamento de produtos e na busca de mercados novos.
No ano passado, a Tigre faturou 588 milhões de dólares, com crescimento de 33%, e fechou o ano com lucro de 20 milhões de dólares, emplacando o primeiro lugar em desempenho no setor de material de construção.
"Investimos em uma política comercial consistente, promovendo lançamentos e obtendo melhorias de custos", diz Olsen. O crescimento se apoiou especialmente em infra-estrutura e construções leves, áreas que cresceram 53% e 24%, respectivamente, e foi reforçado com novos produtos, como portas e janelas de PVC. Não foi só isso. As unidades com base no exterior apresentaram melhor desempenho, e as exportações aumentaram 33%, com a conquista de clientes na África, nos Estados Unidos e na Arábia Saudita.
Os números da Tigre ganham mais peso diante do fraco resultado registrado, de modo geral, pelas empresas de material de construção em 2004. O quadro no início do ano até que era favorável, afirma Roberto Zulino, diretor da Associação Brasileira da Indústria de Materiais de Construção: atividade industrial em alta, melhoria dos indicadores de renda e emprego, aumento da liberação de recursos pelo sistema financeiro e novas facilidades de crédito.
Mas a reação do setor acabou não correspondendo. As vendas, que tinham caído nos dois anos anteriores, cresceram apenas 0,7%, bem longe da média de 9,1% das 500 maiores empresas do país. O melhor nicho foi o das construtoras, que aumentaram em 5% as encomendas. Nas vendas para o varejo, a expansão ficou abaixo disso. "O fim de um ciclo de queda é motivo de comemoração, mas não recupera as perdas", diz Cláudio Conz, presidente da Associação Nacional dos Comerciantes de Material de Construção.
Em alguns casos, só foi possível crescer mais por meio de aquisições. Foi o que fez uma das principais concorrentes da Tigre, a Amanco. Sua receita, de 222 milhões de dólares, ganhou reforço com a incorporação da Carborundum, que pertencia ao grupo francês Saint-Gobain, para ampliar o portfólio e abrir novas frentes.
A Eliane Revestimentos Cerâmicos, uma das maiores empresas do setor, ampliou em 27% o volume das exportações. "De um lado, o câmbio foi favorável e, de outro, conquistamos novos clientes, como a Home Depot", diz Carlos Alberto Libretti, presidente da companhia. A americana Home Depot, com faturamento anual da ordem de 70 bilhões de dólares, é a segunda maior rede varejista do mundo, depois da Wal-Mart. No mercado doméstico, a Eliane passou a trabalhar com 1 500 novos clientes, entre varejistas e construtoras, fechando o ano com receita de 169 milhões de dólares, 6% superior à de 2003.
O mercado de cimento cresceu apenas pouco mais de 1%, segundo dados dos fabricantes, depois de um recuo de 11% no ano anterior. Detentora da marca Cauê, a Camargo Corrêa Cimentos, campeã do setor na edição anterior, não se beneficiou do ligeiro aumento de consumo, que ocorreu mais visivelmente nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
"Não temos grande presença nessas regiões", afirma Juliano Almeida, diretor-superintendente da empresa. "Nossas áreas de atuação são o Sudeste e Mato Grosso do Sul, onde houve retração de 3,5% nas vendas." A Camargo Corrêa Cimentos também foi afetada pelas mudanças na cobrança do PIS e da Cofins. O resultado foi uma queda de 12% na receita, que ficou em 355 milhões de dólares, e na rentabilidade.
Mesmo assim, a empresa concluiu uma bem-sucedida emissão de debêntures para se capitalizar e, com o cofre recheado, foi às compras. O alvo, num negócio de 1 bilhão de dólares, foi a cimenteira Loma Negra, dona de mais da metade do mercado argentino. A operação, em fase de conclusão, pode dobrar o tamanho da Camargo Corrêa Cimentos, mas não deve reduzir seus esforços no Brasil.
O consumo nacional de cimento, de 190 quilos por habitante, perde de longe para o de outros países em estágio similar de desenvolvimento, como o México (292 quilos). É um indicador de que ainda há muito campo para crescer.