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No Brasil, a inteligência artificial segue à espera da recuperação

Para o presidente de uma das maiores consultorias de tecnologia, as empresas aguardam a retomada do crescimento para investir em inteligência artificial

Framil, da Accenture:  “As empresas não estão procurando se reinventar” (Accenture/Divulgação)

Framil, da Accenture: “As empresas não estão procurando se reinventar” (Accenture/Divulgação)

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Filipe Serrano

Publicado em 30 de agosto de 2018 às 05h47.

Última atualização em 30 de agosto de 2018 às 09h09.

A tecnologia de inteligência artificial tem a capacidade de redesenhar todo o modelo de negócios das companhias e promete gerar ganhos enormes no futuro. Mas o movimento vem demorando para acontecer no Brasil, onde as empresas ainda estão mais preocupadas em reduzir custos. Essa é a visão de Leonardo Framil, executivo que desde 2016 é presidente no Brasil e na América Latina da Accenture, uma das maiores consultorias em tecnologia do mundo. Para ele, assim que a economia melhorar, as empresas brasileiras também devem entrar na onda.

Um dos grandes temas na área de tecnologia é a inteligência artificial. Qual tem sido o impacto dessa área na Accenture?

Nos últimos 30 anos nenhuma tecnologia cresceu com tanta velocidade na empresa. Quando começamos a trabalhar com essa área, há três anos, o número de pessoas envolvidas passou de zero para 1.000 em menos de um ano. Hoje já são 6.000 funcionários. O que chama a atenção não é a quantidade. É a velocidade com que a mudança aconteceu. É a área que mais cresce.

Isso ocorre no Brasil também?

Não. No Brasil, as empresas ainda não têm um bom entendimento de como a inteligência artificial pode trazer benefícios ou ameaças. Aqui, a maioria dos projetos ainda está relacionada ao ganho de eficiência e à redução de custos. A grande diferença dos projetos de inteligência artificial é que o foco principal não é melhorar os processos. É reimaginar, do zero, como a operação da empresa poderia ser. As empresas no Brasil ainda estão buscando a eficiência. Não estão procurando se reinventar.

Quais as razões dessa situação?

Sem dúvida, a crise é um fator. Mas outro problema é a falta de bancos de dados em que a inteligência artificial possa ser aplicada. De maneira geral, as empresas ainda têm dificuldade para gerar os dados necessários. Sem uma base completa, a capacidade de gerar valor com a inteligência artificial fica limitada.

E as empresas não estão investindo para reunir os dados?

Não. As grandes organizações têm uma complexidade interna muito alta. Para reunir todos os dados, é preciso fazer um investimento considerável e que hoje não está disponível na maioria.

Num estudo recente, a Accenture afirma que a inteligência artificial reflete uma nova era do trabalho. Que era é essa?

É a era em que as pessoas usam suas habilidades junto com o poder da inteligência artificial para fazer o trabalho. A pessoa não foi substituída. Mas é como se a capacidade dela se multiplicasse por causa do auxílio da tecnologia. Numa tarefa, as pessoas ajudam as máquinas. Em outra, as máquinas ajudam as pessoas.

O estudo prevê aumento das receitas das empresas em 38% em cinco anos. Isso vale para o Brasil também?

Diria que aqui no Brasil há um potencial ao redor de 50%, porque nossa economia não se recuperou da crise. Mas, para que isso aconteça, a gente precisa olhar a empresa como um todo e não aplicar a tecnologia apenas em alguns departamentos.

As empresas brasileiras serão capazes de romper as barreiras e alcançar todo esse crescimento potencial?

Acredito que sim. Percebo nas conversas com executivos que existe uma mola reprimida entre as empresas. Elas estão ali esperando que as condições econômicas e políticas se estabilizem para que os investimentos possam crescer numa velocidade maior. Isso estava começando a acontecer neste ano. Espero que continue assim depois das eleições.

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