Revista Exame

'A era das promessas climáticas corporativas está terminando', diz Gonzalo Muñoz

Executivo chileno que acompanhou evolução do setor privado nas COPs afirma que chegou o momento da prestação de contas

Gonzalo Muñoz, Climate Champion da COP25: “Precisamos que investidores exijam desempenho climático” (COP30/Divulgação)

Gonzalo Muñoz, Climate Champion da COP25: “Precisamos que investidores exijam desempenho climático” (COP30/Divulgação)

Lia Rizzo
Lia Rizzo

Editora ESG

Publicado em 25 de setembro de 2025 às 22h00.

Climate Champion da COP25 e um dos principais articuladores da presença do setor privado nas conferências do clima desde então, o empresário chileno Gonzalo Muñoz é categórico: o volume de adesões já não basta.

Foi para ele que o brasileiro Dan Ioschpe ligou para se aconselhar, logo que assumiu a função de Climate Champion da COP30.

Com um pé no mundo corporativo — é cofundador de negócios como a TriCiclos, uma das maiores empresas latino-americanas de economia circular, e da organização internacional Sistema B — e outro nas negociações de alto nível, Muñoz testemunhou a transformação do engajamento empresarial, de iniciativa marginal à força estratégica.

Nesta entrevista à EXAME, o executivo analisa o desafio da COP30, no Brasil, para garantir que compromissos se traduzam em ação tangível.

Assim como Dan Ioschpe, você já comentou ter ficado “surpreso pela nomeação como Climate Champion, porque nunca tinha estado em uma COP”. Como essa experiência de vir “de fora” mudou sua percepção sobre como as COPs funcionam?

Vir de fora foi uma força. Não estava preso pela inércia do processo. Isso me permitiu fazer perguntas ingênuas, mas necessárias, e focar o que realmente importa: o que está sendo entregue fora das salas de negociação.

Como vê a evolução do setor privado nas COPs desde seu mandato?

O objetivo sempre foi mostrar que os atores da economia real estavam prontos para confirmar a meta de 1,5 °C. Começamos com um punhado de empresas; hoje, vimos um aumento extraordinário. Esses atores não são mais apenas observadores. Espera-se que liderem e sejam responsabilizados. Estamos passando de declarações para sistemas.

O que falta para iniciativas como Race to Zero, que você liderou em seu mandato, cumprirem seu potencial?

A Race to Zero redefiniu a narrativa. Mas precisamos passar do compromisso para a credibilidade. Significa governança mais profunda, melhores dados e aplicação mais forte dos critérios. A mobilização não é mais o problema; agora é questão de integridade e implementação.

Apesar da crescente participação corporativa, continuamos caminhando para níveis alarmantes de aquecimento. Onde está a lacuna entre a mobilização corporativa e os resultados práticos?

A lacuna está na execução. Muitas empresas têm metas, mas carecem de estruturas ou estratégias para entregá-las. Pressões de curto prazo minam objetivos de longo prazo. Precisamos que investidores exijam desempenho climático com a mesma seriedade que resultados financeiros.

Que tipo de liderança corporativa você considera essencial para o sucesso da COP30?

Liderança enraizada nas realidades locais e no conhecimento indígena. Regenerativa, indo além de “fazer menos mal” para “curar ativamente”. E restaurativa, ao abordar injustiças históricas. A COP30 deve ser o ponto onde as empresas não apenas apareçam, mas se posicionem.

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