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Vibra vai focar em 'organizar a casa' depois de investir R$ 4 bi em energia verde

Ernesto Pousada, CEO da Vibra, fala sobre futuros investimentos da empresa

Em entrevista à EXAME, Ernesto Pousada, CEO da Vibra, traça o caminho 
que a companhia deve seguir na transição energética (Alexandre Brum/Ag. Enquadrar/Divulgação)

Em entrevista à EXAME, Ernesto Pousada, CEO da Vibra, traça o caminho que a companhia deve seguir na transição energética (Alexandre Brum/Ag. Enquadrar/Divulgação)

Karina Souza
Karina Souza

Repórter Exame IN

Publicado em 14 de junho de 2023 às 06h00.

Última atualização em 14 de junho de 2023 às 14h14.

A Vibra é um gigante em transformação. A maior empresa de distribuição de combustíveis no país, com 8.300 postos, investe para ter um lugar de protagonismo também na transição energética. Nos últimos 18 meses, foram 4 bilhões de reais em aportes, como o realizado na Comerc Energia e na ZEG Biogás, sem falar na Evolua, joint venture com a Copersucar. Todos esses movimentos construíram a base para o anúncio mais recente: a criação da vice-presidência de energia renovável, que trouxe Clarissa Sadock, ex-CEO da AES para dentro da empresa. E ainda é só o começo. Em entrevista à EXAME, Ernesto Pousada, CEO da Vibra, afirma que a companhia não vai ficar do tamanho atual, embora, nos próximos 18 meses, esteja mais focada em “arrumar a casa” de olho em encontrar sinergias entre todos os investimentos. 

Entender o futuro, para a Vibra, inclui passos bem pensados no presente. E, apesar de a direção já estar traçada, a empresa não está imune a rumores externos. O mais recente envolveu uma possível compra de participação da União, via Petrobras e Previ (fundo de pensão da Caixa). O boato chegou a animar o mercado, mas foi negado tanto pela petroleira quanto pela distribuidora — e mais uma vez a negativa foi reforçada nesta entrevista. “Não tem absolutamente nada. Nunca fomos envolvidos em nada; portanto, não comento sobre isso”, diz Pousada.

Desde a reformulação da área de gente e gestão, passando pelos desafios de aquisições e chegando ao investimento em tecnologia, Pousada afirma que não há setor tão competitivo quanto o de distribuição de combustíveis. E que a Vibra, como líder no segmento, não pretende sair de uma posição de destaque tão cedo. Atenção ao presente, sem esquecer do futuro. É esse o mantra da companhia para os próximos anos. 

A Vibra já investiu 4 bilhões de reais na transição energética. Como fica o cenário de investimentos daqui para a frente? 

Não temos um número agora, no curto prazo, já que vamos olhar muito mais para otimizar os 4 bilhões. Nosso conselho de administração ainda está buscando o retorno sobre esse investimento. Mas é sempre bom ressaltar que a Vibra é uma empresa presente há muitos e muitos anos no Brasil, a gente não olha muito para o curto prazo. Claro que não descuidamos de questões do dia a dia e da disciplina financeira, mas estamos olhando muito mais para o longo prazo. Somos uma empresa brasileira, que acredita no Brasil, até porque este é “o” país da transição energética, não há nenhum lugar como aqui. E essa oportunidade não vai se esgotar completamente em um semestre ou em um ano. Somos uma das maiores empresas do Brasil e, com a transição energética, queremos continuar a ser líderes também no fornecimento de novas alternativas de energia, de acordo com a demanda dos nossos clientes. 

Dentro dessa estratégia, a companhia tem de lidar, pelo menos no curto prazo, com a comercialização de derivados do petróleo. Nesse sentido, como avaliam a mudança da política de preços da Petrobras?

A Petrobras é um superparceiro da Vibra, estamos entre os maiores, senão o maior cliente. Obviamente, temos uma relação bastante próxima. Dito isso, é uma empresa que tem a política de preços que julga adequada para o negócio dela. O que vemos é que temos sido capazes de navegar por todas as mudanças de preços e trazer resultados importantes, seja para nossos acionistas, seja para os empregados, para o país. A nossa posição estratégica, como eu dizia, é única. A capacidade de distribuição da companhia é muito boa. Temos vantagens logísticas, de infraestrutura, equipe comercial, rede de postos, uma marca da qual nos orgulhamos e queremos levar adiante.

Que lições esse passado com os combustíveis fósseis pode trazer para o novo momento, de novas demandas por fontes de energia mais limpas?

A indústria de distribuição de combustíveis é uma das mais competitivas que eu já vi e vivi. Sem nem falar de transição energética, somos muito eficientes para operar em um setor de margens baixas. Mas, respondendo à sua pergunta, nós já nos posicionamos com as aquisições em vários desses mercados e somos um dos líderes em transição energética. Junto com isso eu queria ressaltar um ponto, de cultura da empresa, que estamos transformando. Precisamos de uma companhia ágil, com coragem de fazer mudanças. Recentemente, junto com a Clarissa Sadock, trouxemos para a área de gente e gestão o Aspen Andersen, que antes era responsável por tecnologia e inovação. E por quê? Porque nesse mundo de inovação e startups existe muito essa cabeça da velocidade, da agilidade, da coragem, do foco no cliente, que o cliente é a parte mais importante da equação. Nós vamos chegar lá na frente e ser um dos protagonistas nessa transição energética, sempre com o tipo de energia que nosso cliente quiser. 

Em meio a essa mudança de cultura, unindo tecnologia e gente, um dos temas que mais têm crescido é a inteligência artificial como uma ferramenta ​para melhorar os negócios. ​Como a empresa vê isso? 

A gente entende que isso é fundamental. A inteligência artificial certamente vai transformar os negócios de todo mundo. Ainda é cedo para cravar quais serão as mudanças por aqui, mas eu queria ressaltar algo que já vem transformando a vida de todo mundo, e às vezes fala-se um pouquinho menos, que é a ciência de dados. A Vibra tem investido muito nessa frente, porque a quantidade de informação que existe hoje é impressionante. E muitas vezes as empresas não têm a capacidade de transformar essas informações em algo relevante e importante para seus negócios. Essa é uma prioridade para nós, que vamos continuar cada vez mais presentes nisso nos próximos anos, para entender nossos clientes e identificar oportunidades de eficiência. 

Ainda falando em inovação, mas agora do ponto de vista do produto. A Vibra tem concorrentes que trouxeram produtos novos ao mercado, como o etanol de segunda geração. Como a companhia vê isso? 

Acho que a gente tem algumas coisas de pioneirismo, como mencionei o biogás, com o nosso investimento na ZEG Biogás. Claro, com algum cuidado. Talvez a Vibra não seja pioneira no desenvolvimento do produto, mas muito mais na proposta de valor, de oferecer o que nosso cliente quiser. Somos a única plataforma multienergia, presente para todos os nossos clientes. Além disso, temos outros dois projetos interessantes. Um de eletromobilidade, em parceria com a Easy Volt, com quem estamos criando um corredor em sete estados do país entre Sul e Sudeste para que o consumidor sempre possa encontrar um ponto de recarga. Além disso, temos uma parceria para a aquisição de combustível de aviação sustentável (SAF). Já fechamos um contrato para comprar 100% desse produto e disponibilizá-lo no nosso portfólio a partir de 2026. 

Olhando principalmente para os carros elétricos, empresários frequentemente apontam a necessidade de interação com o poder público para a formação de políticas capazes de permitir que essa indústria se desenvolva no país. Qual é a sua opinião sobre isso?

Certamente. Eu não entraria especificamente no caso do carro elétrico, mas em energia limpa e em processos industriais também. Assim como o etanol, assim como qualquer transição energética, como isso vai ser um sucesso? O público e o privado vão ter de trabalhar juntos. Seja no carro elétrico, seja na geração da energia elétrica renovável, seja no etanol, onde for, nós vamos precisar de ajuda. É essa combinação que vai fazer isso acelerar e poder se transformar naquela potência de que falei. Não vai ser a Vibra sozinha, não vai ser o empresariado sozinho. Isso vai ter de vir com o governo, com políticas públicas bastante seguras, de longo prazo e que realmente possam dar segurança para quem vai investir. Isso é o que vai transformar o Brasil na potência da energia limpa.  


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