Revista Exame

Cinema, minissérie, exposição e livro: os lançamentos de cultura em novembro

Com economia de gestos e sentimentos, dizendo muito com pouco, Fernanda Torres brilha em Ainda Estou Aqui

Fernanda Torres: única opção para Walter Salles (Sony Pictures/Divulgação)

Fernanda Torres: única opção para Walter Salles (Sony Pictures/Divulgação)

Publicado em 21 de novembro de 2024 às 06h00.

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Uma família vive no Rio de Janeiro, no começo dos anos 1970, aquilo que se chama de vida perfeita: as crianças jogam altinha na praia, as adolescentes disputam partidas de vôlei, a mãe nada nas águas de Ipanema. Ao fundo, tanques e carros de polícia dos militares brasileiros aceleram na estrada próxima à orla.

Ainda Estou Aqui, novo filme de Walter Salles estrelado por Fernanda Torres, Selton Mello e Fernanda Montenegro, é baseado no livro de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva. Na história verídica, o pai do autor, o deputado Rubens Paiva, é levado pela Polícia Militar para o DOI-Codi. Morre lá, depois de ser torturado, em janeiro de 1971. O corpo nunca foi encontrado. O atestado de óbito veio somente em 1996.

Mas não é ele o protagonista do filme, e sim a personagem de Fernanda Torres, Eunice Paiva, esposa de Rubens e mãe dos cinco filhos do casal. É pelo olhar e vivência dela que o período é retratado. Eunice vive o luto, segura a família e luta pelos direitos dos desaparecidos da ditadura.

“Sem nunca fazer questão de dizer o que tinha feito, Eunice moveu montanhas, encarou o Estado, o ostracismo, a falta de dinheiro. É um monstro de mulher que o Brasil não conhecia e que, agora, vai ser apresentada pelo cinema”, disse Fernanda Torres em entrevista à EXAME Casual.

Para Salles, a história tem um viés pessoal. O diretor foi amigo dos filhos de Rubens e Eunice e frequentou a casa da família. “Não havia distinção entre adultos, adolescentes, crianças”, diz. “Foi assim que pude ouvir debates acalorados sobre a situação política durante a ditadura, foi ali onde encontrei pessoas que me marcaram até hoje, onde descobri a Tropicália.”

Entre conversas com Marcelo e lembranças próprias, Salles recriou um retrato fidedigno e empático da personagem. Eunice é interpretada pelas duas Fernandas, Torres e Montenegro, que foram desde o início as únicas escolhas possíveis para ele. “Considero Fernanda uma das maiores atrizes de sua geração, e não só no Brasil.

Ainda Estou Aqui era diferente de tudo que Fernanda já havia feito, demandava uma atuação com base na subtração, na economia dos gestos e sentimentos, na possibilidade de dizer muito com pouco. Nanda abraçou essa ideia, confiou.”

O filme e a própria Fernanda Torres passaram a ser cotados nas shortlists do Oscar de 2025. Sem alarde, mas sem falsa modéstia, Fernanda reconhece sua grandeza. “É um ano difícil para a categoria, porque tem muitas outras performances extraordinárias. Eu acho que o filme tem grande chance de estar entre os estrangeiros e, se estiver, tenho certeza de que eu sou parte disso.”


ARTE

Homem do interior

Caipiras: das derrubadas à saudade | De 23 de novembro a 13 de abril de 2025 | Pinacoteca Luz, São Paulo (Pinacoteca São Paulo/Divulgação)

Em comemoração aos 120 anos da Pinacoteca em 2025, a mostra Caipiras: Das Derrubadas à Saudade traz 70 obras sobre a figura do caipira, partindo das pinturas de Almeida Júnior e interpretações de outros artistas ao longo do século 20.

São três salas que exploram a construção do caipira como tipo social, a iconografia do caboclo e a crítica ao desmatamento e à vida caipira como sistema cultural, refletindo o impacto da modernidade sobre o modo de vida tradicional.


LIVRO

Compilado do terror

Stanley Kubrick’s The Shining | Taschen | 125 dólares | à venda a partir de 12 de dezembro (Taschen/Divulgação)

Em 1966, Stanley Kubrick disse que gostaria de dirigir “o filme mais assustador da história”. Anos mais tarde, o diretor conseguiu amedrontar milhares de espectadores com O Iluminado. Agora, quatro décadas após a estreia do longa, a Taschen publica um compilado com centenas de horas de entrevistas inéditas com o elenco e a equipe, os bastidores do Overlook Hotel, o processo de gravação da cena com o elevador de sangue, além de centenas de fotografias nunca vistas.


SÉRIE

As curvas de Senna

Pela segunda vez, Gabriel Leone interpreta um piloto de Fórmula 1. Desta vez, o ícone brasileiro Ayrton Senna

Gabriel Leone: mergulho na pessoa para além do piloto (Netflix/Divulgação)

No início deste ano, Gabriel Leone colocava o macacão e entrava em um carro de corrida para interpretar Alfonso de Portago, piloto espanhol que representou a escuderia Ferrari e morreu durante a corrida Mille Miglia, em 1957.

Durante as gravações na Itália, Leone soube que havia passado no teste para viver a história de outro piloto, desta vez o ícone brasileiro Ayrton Senna.

A minissérie de seis episódios é a mais cara já produzida pela Netflix Brasil e apresenta não apenas as vitórias de Senna nas pistas, mas as vulnerabilidades e os medos do piloto. Em entrevista, o ator fala sobre o processo de preparação para a série.

Este é o segundo filme em que interpreta um piloto. O que levou da experiência de Ferrari para Senna?

Recebi a resposta da Netflix quando estava na Itália filmando Ferrari. Uma das últimas diárias foi em Ímola. E na hora do almoço eu consegui escapar para um parque ao redor da pista, onde fica a estátua mais bonita do Senna para mim. Fiz uma foto caracterizado como Portago e pedi a bênção para o Senna. Em Ferrari, eu pilotei carros de verdade em algumas cenas. Tivemos uma preparação longa no autódromo, foi a primeira vez que tive contato com a sensação do que é ser um piloto e do que é pilotar. Mas Senna foi o maior desafio da minha carreira, sem dúvida.

A história de Senna como piloto é mundialmente conhecida. Como foi mergulhar na história pessoal dele?

Isso é o que acho o mais legal da série. Quando você fala em Senna, as pessoas logo pensam nele como piloto, com macacão vermelho, capacete e troféu. Na série contamos como ele virou o maior piloto de todos os tempos. A trajetória, a dedicação, a resiliência, enfim, os erros e os acertos dele. Quem é o Senna sem o capacete e o macacão. Mergulhei não só na construção do piloto, mas no Senna humano. 

Senna | Com Gabriel Leone, Kaya Scodelario, Alice Wegmann Disponível em 29 de novembro, Netflix


Um lugar para comprar pôsteres...

...em Budapeste (Hungria)

A Budapest Poster Gallery, fundada por Ádám Várkonyi em 2010, é especializada em pôsteres vintage húngaros de alta qualidade e design gráfico comercial entre 1890 e 1990. A galeria oferece uma seleção exclusiva de impressos originais, incluindo comerciais, filmes, propaganda e viagens. As visitas são por agendamento.

...em Salvador (Brasil)

Agá é um estúdio de produção artística fundado por Hori Leal em janeiro de 2017, que combina arte, poesia, política, ilustração e design. Desde novembro de 2021, também funciona como loja física no bairro de Santo Antônio. As cores vibrantes e o espírito da Bahia estão estampados nas criações.

...em Nova York (Estados Unidos)

Localizado no coração de Manhattan, o Poster House é um museu dedicado a apresentar o impacto, a cultura e o design dos pôsteres. Na loja que fica no terreo há uma infinidade de itens e também pôsteres originais, como o criado por Milton Glaser, para anunciar a revista New York, apresentando quatro vistas do Empire State Building.

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