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Os relógios correm contra o tempo

Com a geração X cada vez mais habituada a ver as horas no celular, os relógios de alto luxo tentam se adaptar para manter a relevância

HD3 Slyde: o relógio high tech tenta imitar os tablets — mas é mesmo só relógio (Divulgação)

HD3 Slyde: o relógio high tech tenta imitar os tablets — mas é mesmo só relógio (Divulgação)

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Da Redação

Publicado em 1 de maio de 2011 às 11h00.

Em pleno século 21, ainda faz sentido um aparelho eletrônico — qualquer um — que desempenhe uma única função? Que não tenha sequer acesso à internet? Esse é o problema que hoje tortura os fabricantes de relógios. Apesar de as vendas globais continuarem crescendo, puxadas pelos países emergentes, o futuro da indústria relojoeira é incerto.

O perigo já é claro nos países ricos. Nos Estados Unidos, as vendas estão estagnadas, principalmente no segmento de alto luxo. A expectativa é que o mesmo aconteça no restante do mundo nos próximos anos.

“As pessoas que começam a chegar agora aos 40 anos, idade em que muitos atingem uma folga financeira e compram produtos premium, estão mais do que acostumadas a ver as horas no celular, um aparelho onipresente, ou no painel do carro”, diz Dennis Weber, analista da Evolution Securities, consultoria americana especializada no mercado de luxo.

Além dos celulares, os iPods estão rivalizando com os relógios. Há no mercado até uma pulseira para prender a menor versão do aparelho da Apple no pulso, com a óbvia vantagem de ainda armazenar e tocar 8 gigabytes de música e vídeos.

A primeira tentativa

Foi justamente pensando em conquistar a chamada geração X, pessoas nascidas entre 1965 e 1982, que a companhia francesa Hysek desenvolveu e apresentou, em janeiro, na feira Geneva Time Exhibition, o HD3 Slyde. O relógio, feito de titânio, à prova d’água e com sensor para ajustar automaticamente o brilho do visor de acordo com a luminosidade, já está sendo vendido a um preço de aproximadamente 5 800 dólares.


“O objetivo não era fazer um gadget para os viciados em tecnologia, mas trazer o relógio para a nossa era”, diz Jorg Hysek, dono e principal designer da empresa. Para alcançar o objetivo, Hysek criou uma maquininha de pulso com tela LCD sensível ao toque. Ao deslizar o dedo sobre a tela em sentido horizontal, surgem no visor as opções mais tradicionais, como cronômetro, calendário, fases da lua, fuso horário.

O movimento no sentido vertical abre o relógio para fotos, vídeos e para os aplicativos, exatamente como em um smartphone. Hysek garante que, até o final do ano, será possível sincronizar o relógio com o computador, tendo acesso a agendas telefônicas e e-mails. A ligação do relógio com o computador será feita por cabo USB — que atualmente já é usado para carregar a bateria, que dura de 15 a 30 dias.

Mesmo em edição limitada — somente 3 000 unidades por ano —, o modelo terá concorrência muito em breve. A americana Hewlett-Packard anunciou em fevereiro que está trabalhando em um protótipo de relógio com a tecnologia Bluetooth. O MetaWatch, como está sendo chamado, se comunicará sem fios com vários aparelhos, podendo dar alertas de chegada de e-mail ou de mensagens no Facebook. Tudo que um smartphone faz. Vai dar certo?

“Não sei se um sujeito de 40 anos vai gastar oito vezes o valor de um iPad em um relógio que nem chega a ter as funções do tablet”, diz John Simonian, dono da Wistman, maior distribuidora de relógios dos Estados Unidos. Para o bem da indústria de relógios, é bom que Simonian esteja errado — ou que a indústria dê logo um jeito de baratear o custo. Afinal, o tempo está contra ela.

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