A presidente eleita, Dilma Rousseff: crescimento menor e vasta coleção de desafios (Sergio Dutti/EXAME.com)
Da Redação
Publicado em 18 de fevereiro de 2011 às 11h40.
Assim que vestir a faixa presidencial, Dilma Rousseff terá sobre os ombros o peso de administrar o Brasil. Colossal, a missão da primeira mulher a liderar o país tem duas frentes. Na primeira, Dilma — que de guerrilheira na juventude converteu-se em superministra do governo Lula — vai gerir a oitava economia do planeta, uma nação pujante, mas com uma vasta coleção de desafios. O crescimento econômico próximo de 8% obtido em 2010 deve dar lugar a um ritmo mais modesto. Falta estrutura para sustentar avanço mais vigoroso, e o câmbio sobrevalorizado expõe a falta de competitividade da indústria, drenada pelo excesso de tributos, pela burocracia e pelos gargalos logísticos.
No curto prazo, há a ameaça de surto inflacionário a ser estancada. As contas públicas pioram com o inchaço da máquina sem que os serviços públicos deixem de ser indigentes em áreas como educação, saúde e segurança. Na frente política, Dilma terá de superar sua pouca vivência nesse meio para acomodar os interesses conflitantes dos dez partidos que a apoiaram e lidar com a sombra de Lula, que já avisou que não deixará a ribalta. Desde a vitória no segundo turno, para não melindrar o padrinho político, Dilma se mantém longe dos holofotes. Dele, herdará boa parte do ministério. Aceitou de Lula várias indicações, como as de manter Guido Mantega na Fazenda e Nelson Jobim na Defesa.
Ainda assim, ela tem emitido sinais que antecipam o que fará ao governar. “Dilma vai se revelar uma presidente mais operacional do que o Lula, debruçando-se sobre as questões, estabelecendo metas e cobrando resultados”, diz um dos principais assessores da presidente eleita. Partiu dela a decisão de não convidar Henrique Meirelles para continuar à frente do Banco Central, optando pelo técnico de carreira Alexandre Tombini. Na entrevista que concedeu ao jornal The Washington Post, Dilma sinalizou uma inflexão na política externa, discordando da omissão de Lula nas violações dos direitos humanos do Irã e afirmando que estreitará os laços com a Casa Branca. “Creio que o Brasil e os Estados Unidos têm de desempenhar um papel conjunto no mundo”, disse.
As palavras de Dilma são animadoras. “Ela deve adotar uma política externa pragmática, abandonando o viés antiamericanista do segundo governo Lula”, diz o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília. Por outro lado, nuvens carregadas já se formam sobre o Congresso Nacional, que em 2011 deverá ser palco de discussão das reformas tributária e política, promessas de campanha da petista. Antes mesmo da posse, ela já enfrenta a insatisfação da base aliada, resultante da disputa pelo loteamento de cargos. “Ironicamente, o maior desafio de Dilma no Congresso não será lidar com a oposição, que saiu enfraquecida das urnas, mas com sua própria coalizão”, diz o cientista político Rogério Schmitt. Sem contar com o carisma de Lula, Dilma terá de se valer de seu estilo marcado pelo método e pela disciplina — ferramentas tão escassas quanto necessárias no mundo da política e na máquina pública.