É urgente acelerar: a BR-040, em Minas Gerais, é uma das rodovias à espera de que a concessão deslanche (Divulgação/DNIT)
Da Redação
Publicado em 24 de setembro de 2013 às 13h30.
São Paulo - Não é mais segredo para ninguém que a maioria dos empresários e executivos brasileiros consegue ver, com algum grau de nitidez, uma alma estatizante por trás da figura sempre séria e vetusta da presidente Dilma Rousseff.
Dois anos e meio se passaram — mais da metade do atual mandato —, a próxima campanha eleitoral já está na rua e a presidente não conseguiu convencer o empresariado e os investidores de que, no fundo, no fundo, confia no mercado. Pode ser uma tremenda injustiça. Mas é assim que as coisas são.
E isso tem cobrado um preço alto da economia brasileira, para preocupação de ricos e pobres, de patrões e trabalhadores, gente de esquerda, de centro e de direita.
É um daqueles casos de desconfiança mútua. O governo desconfia — ou dá a entender que desconfia — que todo e qualquer empresário só está interessado em arrancar do mercado o máximo possível de lucro, não importando os métodos, num exercício cruel de mais-valia.
Quem faz negócios, ou tem capital para investir neles, desconfia que é mal-amado pelas autoridades de Brasília, que corre o risco de ser hostilizado e que, de uma hora para a outra, as regras do jogo vão mudar, transformando oportunidade em crise. É o tipo de relação que não traz bons frutos para nenhuma das partes.
Nesta altura dos acontecimentos, o governo tem poucas cartas disponíveis para mudar o jogo de realidades e percepções. Mas uma delas pode ser especialmente valiosa: a rodada de concessões de infraestrutura programada para acontecer até o fim deste ano.
De acordo com os planos divulgados, o governo espera passar para a gestão da iniciativa privada blocos de rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, além de campos de petróleo na área do pré-sal.
O pacote de concessões vem sendo discutido há um ano, sempre num clima de cabo de guerra, no qual os empresários tentam convencer as autoridades de que ninguém entra num negócio de risco sem que haja uma taxa de retorno minimamente atraente, e o governo insinua que os investidores estão tomados pela ganância.
O problema — para todo mundo — é que não há mais tempo para isso. A realização dos leilões de concessão e o sucesso do processo será fundamental para mudar o clima de fim de festa que tomou conta da economia do país. O processo de concessões pode ser também a senha para a trégua na guerra de nervos que vem sendo travada entre o governo e a iniciativa privada.
Esse é o lado, digamos, psicológico da questão. Há o lado prático, não menos importante. O Brasil precisa desesperadamente de uma infraestrutura que suporte a atual dimensão de nossa economia e que nos prepare para crescer. As filas de caminhões carregados de soja, à espera de um lugarzinho nos portos, não foram uma imagem forte o suficiente para sensibilizar parte das autoridades responsáveis.
As notícias sobre confusões em vários de nossos aeroportos terceiro-mundistas apareceram e sumiram das páginas dos jornais sem que quase nada mudasse. A coisa começou a ficar realmente feia quando, sem mais nem menos, milhões de pessoas saíram às ruas para reclamar de quase tudo o que está por aí, inclusive das péssimas condições de infraestrutura das principais cidades brasileiras. O problema saiu da mesa dos especialistas e explodiu no dia a dia do povão.
Nossos problemas, nessa área, são grandes e urgentes demais para que o Estado tenha a ilusão de que pode resolver tudo sozinho. A conta — social, política, econômica — ficou alta demais. Mais e mais gente mostra que não está disposta a pagar.
Trabalhar, com convicção e sem dogmas, para que o pacote de concessões aconteça e seja um sucesso pode se traduzir no voto de confiança de que o Brasil tanto precisa neste momento. Talvez seja nossa última grande chance, por ora, de virar um jogo que estamos perdendo.