O empresário Rubens Ometto, presidente do conselho de administração da Cosan: aposta em negócios difíceis de a concorrência imitar (Leandro Fonseca/Exame)
Mariana Desidério
Publicado em 13 de setembro de 2022 às 06h00.
A Raízen — maior empresa de etanol de cana-de-açúcar do mundo — anunciou em maio deste ano o plano de investir cerca de 2 bilhões de reais em novas usinas de etanol de segunda geração. Conhecido como E2G, esse combustível é feito com o bagaço da cana-de-açúcar e permite à companhia ampliar sua produção sem precisar plantar nem um novo pé de cana. É uma avenida com capacidade para elevar a produtividade da empresa em 50%, em um momento de maior busca por combustíveis de fontes renováveis no mundo todo.
Tamanho potencial disruptivo chegou ao colo do empresário Rubens Ometto no susto, anos atrás. Em fevereiro de 2011, apenas alguns dias antes de fechar o negócio que criaria a Raízen — uma joint venture entre a brasileira Cosan e a petroleira americana Shell —, Ometto recebeu uma ligação do então presidente da Shell dizendo que precisaria incluir no acordo um investimento milionário. Após alguma negociação, Ometto aceitou, e só depois pôde analisar o investimento com calma.
“Fomos olhar o negócio que tinha entrado de última hora e vimos uma oportunidade fantástica”, diz o empresário, fundador e presidente do conselho de administração da Cosan. Tratava-se de uma tecnologia para a produção de combustíveis de baixo carbono. A Raízen adaptou a pesquisa iniciada e a transformou em uma solução economicamente viável. Hoje ela é a única empresa no mundo a usar essa tecnologia em escala.
O investimento no E2G é um exemplo do modo como Ometto construiu a Cosan, uma das maiores empresas do país. “Se eu disser que toda essa trajetória foi planejada, estarei mentindo. O necessário é saber aproveitar as oportunidades que aparecem”, diz.
A Cosan é um conjunto de oportunidades muito bem aproveitadas. Debaixo do guarda-chuva da holding estão negócios em ramos de atuação que vão do etanol ao varejo, passando pelo gás natural e pela logística, todos eles com faturamento bilionário. Maior entre as empresas da holding, a Raízen atua na produção de etanol e açúcar, além da distribuição de combustíveis, com mais de 7.900 postos de abastecimento, e lojas de conveniência, com as redes Select e Oxxo.
A Rumo atua em transporte ferroviário e terminais, com 13.500 quilômetros de linhas ferroviárias, e é fruto da fusão com a ALL. A Compass é a empresa da Cosan para o setor de gás e inclui as distribuidoras Comgás (a maior do país), Sulgás e Commit (antiga Gaspetro). E a Moove atua na produção e venda de lubrificantes. O principal papel da Cosan é enxergar formas de fazer esse portfólio crescer ainda mais, sem perder o DNA do grupo. Tem funcionado. A companhia mais do que dobrou de tamanho nos últimos cinco anos.
Só no ano passado, o crescimento foi de mais de 50%, e a receita saltou de 75,2 bilhões de reais em 2020 para 113 bilhões de reais em 2021, incluindo aí os 50% da Raízen. Contribuiu para o resultado a abertura de capital da Raízen, em agosto do ano passado, um negócio de 6,9 bilhões de reais — o maior de 2021. Por tudo isso, a Cosan é a vencedora do prêmio de Empresa do Ano de MELHORES E MAIORES 2022. “Temos negócios que dificilmente serão replicáveis e com um trabalho enorme pela frente”, diz Ometto.
A companhia está num momento de entregas. “Todos os projetos que a gente vem prometendo para o mercado nos últimos anos se materializaram ou estão avançando”, diz Luis Henrique Guimarães, presidente da Cosan e há 11 anos no grupo.
A Raízen já tem uma planta de etanol de segunda geração em funcionamento e está construindo mais três, sendo que uma delas ficará pronta no primeiro semestre do ano que vem. Também acelerou a ampliação da rede de lojas de conveniência Oxxo — uma joint venture com a mexicana Femsa que nasceu da experiência nas lojas de conveniência dos postos de combustíveis. A meta é chegar a 309 unidades no estado de São Paulo até março de 2023.
Dono full time
Na frente logística, a Rumo acumula grandes projetos na mesa. Em 2019, venceu o leilão da malha central, um trecho de 1.537 quilômetros de ferrovias entre Tocantins e São Paulo. (Foi o primeiro do país em mais de dez anos.) Em 2020, conseguiu a renovação antecipada da concessão da malha paulista, com previsão de investimento de 5,6 bilhões de reais em melhorias. Em 2021, obteve autorização para a extensão da malha ferroviária em Mato Grosso, de Rondonópolis a Lucas do Rio Verde, um projeto que vai ajudar no escoamento da produção brasileira de grãos.
No segmento de gás, a Compass acaba de concluir a aquisição da participação da Petrobras na Gaspetro, após um ano de espera no Cade, órgão antitruste federal. Também está construindo um terminal de regaseificação em Santos, a ficar pronto no primeiro semestre de 2023.
Em lubrificantes, a Moove comprou no primeiro semestre a maior empresa de lubrificantes dos Estados Unidos, a PetroChoice, por 479 milhões de dólares. “A Cosan atua em setores com alta demanda reprimida e tem potencial muito grande para crescer ainda mais”, diz Adriano Pires, consultor do Centro Brasileiro de Infraestrutura.
A Cosan chegou até aqui sendo uma empresa de dono. Acionista de referência e presidente do conselho de administração, Rubens Ometto vai para o trabalho todos os dias e acompanha de perto o dia a dia dos negócios.
Aos 72 anos, o empresário não pensa em se aposentar, mas já definiu que o próximo presidente do conselho também terá de se dedicar integralmente ao negócio. “Estou aqui full time. Não acredito que o negócio possa ter sucesso sem o presidente do conselho acompanhando tudo”, diz. O estilo permitiu ao empresário transformar um punhado de usinas de cana-de-açúcar num conglomerado gigantesco.
O negócio teve origem na década de 1930, quando a família de Ometto adquiriu a usina Costa Pinto, em Piracicaba, interior de São Paulo. O empresário começou a atuar no negócio em 1986 e passou a adquirir outras usinas para ampliar a produção. Também foi comprando a participação de seus familiares para obter o controle da empresa.
Hoje, o olhar de dono se estende aos executivos. Cada negócio tem seu próprio CEO com autonomia, o que confere agilidade para lidar com tantas frentes de atuação. “Se eu não souber responder quem é o responsável por aquele projeto, tenho um problema”, diz Guimarães. “Meu maior pesadelo é nos tornarmos um negócio burocrático, que perde a capacidade de tomar decisões rápidas.”
Foi com essa mentalidade que a companhia criou no ano passado a Cosan Investimentos, seu braço para novos negócios. A intenção é que a Cosan possa aproveitar novas oportunidades com agilidade e sem perder o foco de seus negócios principais. Por meio dela a empresa entrou, por exemplo, no setor de mineração, com a aquisição do Porto de São Luís do Maranhão, e investiu na gestão de terras com a companhia Radar. Também investiu na fintech Payly e na plataforma Trizy, que conecta caminhoneiros a embarcadores.
Outra aposta, ainda em gestação, está na frente de educação. A ideia é criar um curso de engenharia com foco em energia e sustentabilidade, para formar mão de obra qualificada. “O Brasil pode ser uma potência verde, mas não tem gente sendo formada para isso”, diz Guimarães. O projeto ainda está sendo desenhado e deve contar com um parceiro do ramo de educação. O plano é começar em 2024. Capacidade de execução a Cosan já mostrou que tem de sobra.
Fontes: empresa, Economática e reportagem.
• COSAN - Holding que integra negócios nas áreas de energia, alimentos, lubrificantes, varejo e transporte
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