Revista Exame

O capital erótico impulsiona carreiras?

Carisma, charme, boa aparência — o mundo é dos que sabem usar o “capital erótico”

Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI: cuidado com aparência, além de boas qualificações (Martin Bureau/AFP Photo)

Christine Lagarde, diretora-gerente do FMI: cuidado com aparência, além de boas qualificações (Martin Bureau/AFP Photo)

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Da Redação

Publicado em 19 de setembro de 2011 às 06h00.

São Paulo - Com certeza não foram os olhos azuis que levaram a advogada francesa Christine Lagarde ao cargo de diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional — o posto mais alto da instituição, nunca antes ocupado por uma mulher.

Christine acumulava um currículo respeitável muito antes de substituir, em junho deste ano, o também francês Dominique Strauss-Kahn, afastado depois de suposto envolvimento em um escândalo sexual. Especialista em direito internacional, ela chefiou o braço europeu de uma prestigiada banca americana de advocacia até entrar para a política em 2005.

Em pouco mais de cinco anos, chefiou três ministérios do governo francês, incluindo o das Finanças, tornando-se, em 2007, a primeira mulher a comandar uma pasta dessa importância em um país do G8. Christine tinha todas as qualificações acadêmicas e profissionais para ocupar o cargo.

Mas nem por isso descarta a importância de outras características pessoais em suas conquistas até aqui. Entre elas a preocupação em manter uma aparência sempre impecável. Ex-integrante da seleção nacional de nado sincronizado, aos 55 anos ela admite que chega a perder horas de sono para manter a silhueta esguia, frequentemente exibida em tailleurs bem cortados.

No final do ano passado, ao ser convidada para falar em uma conferência com as 50 principais mulheres de negócios do mundo, Christine fez uma homenagem à mãe. Seus maiores ensinamentos: como vestir-se bem e como falar com as pessoas. 

O conjunto de atributos pessoais, como charme, boa aparência, estilo e carisma, é o que a socióloga inglesa Catherine Hakim chama de “capital erótico” no recém-lançado Honey Money: The Power of Erotic Capital (“O poder do capital erótico”, numa tradução livre).

No livro, a autora argumenta de que maneira a elegância de uma política como Christine Lagarde ou o sorriso bem armado de um Silvio Berlusconi podem ajudar — e muito — na trajetória de uma carreira bem-sucedida. 

Num mundo em que ativos como capital econômico (o dinheiro manda), capital humano (o que você sabe) e capital social (quem você conhece) nunca foram tão valorizados e disseminados, o capital erótico pode ser uma arma poderosa. Tome como exemplo a última eleição presidencial americana.

É de esperar que, para disputar um cargo de tamanha importância, não faltem aos candidatos qualificações tradicionais, como experiência e boa formação. É aí, segundo a autora, que o fato de Barack Obama ser considerado “bonitão, em forma e bem vestido” pode fazer a diferença (muito embora tenha concorrido com McCain, possivelmente um dos candidatos menos sexy da história).

“Beleza e charme são commodities valiosas, que têm oferta escassa em qualquer sociedade”, escreve Catherine.  No mundo das celebridades, a forma como as pessoas tiram proveito de seu capital erótico costuma ser evidente. Exemplos sobre o uso do capital erótico por um ator como George Clooney para vender cafeteiras Nespresso, da Nestlé, soam até óbvios.


Entre os comuns, porém, o uso desses atributos nem sempre é fácil de identificar. Mas que ele existe, existe, segundo a autora. Um exemplo são os estudos que mostram vantagens nos salários pagos a pes­soas consideradas atraentes, até 20% maiores para homens e 10% superiores para mulheres.

Diferenças

A tese de que há disparidade nas recompensas que homens e mulheres conseguem extrair do capital erótico é um dos pontos centrais do livro. Mulheres, em geral, possuiriam mais capital erótico do que homens. Das artes renascentistas à erotização da publicidade, o rosto e o corpo feminino sempre foram alvo de desejo.

Nada mais justo: nesse quesito, mulheres também sempre foram mais dedicadas. “Não existem mulheres feias, apenas mulheres preguiçosas”, diz uma conhecida citação de Helena Rubinstein, pioneira da indústria de cosméticos, relembrada no livro. Homens, por outro lado, demandam mais capital erótico devido a um suposto “déficit sexual”.

Isso acontece porque, de forma geral, a libido masculina cresce ao longo da vida. Nas mulheres, ao contrário, o interesse por sexo tende a diminuir após os 30 anos de idade. “Esse desequilíbrio automaticamente aumenta o valor do capital erótico feminino e daria às mulheres uma vantagem nas relações sociais com os homens — se elas percebessem isso”, escreve Catherine.

Ao final, toda a argumentação serve para conclamar as mulheres a corrigir essas diferenças. Ao contrário de outros ativos, segundo Catherine, o capital erótico pode ser desenvolvido e independe de classe ou de berço.

Enquanto em homens características como altura são aceitas como um atributo que faz com que os mais altos ganhem mais, mulheres bonitas mais bem remuneradas dificilmente são julgadas sem preconceitos.

“Em empregos em que o contato pessoal com clientes é comum (...), alto capital erótico oferece uma contribuição natural nos lucros e na satisfação e deveria ser recompensado apropriadamente”, escreve a autora. A revolução feminina, na visão de Catherine, está menos para as mulheres queimarem sutiãs e mais para valorizarem seus decotes.

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