Revista Exame

Arte de hospedar: grupo Clara Resorts construirá hotéis dentro do maior museu a céu aberto do mundo

Plano de investimentos, segundo a EXAME apurou, é de centenas de milhões de reais para os próximos anos

Bernardo Paz e Taiza Krueder: alinhamento de interesses para tirar o projeto de hotelaria do papel. (Giselle Dietze/Divulgação)

Bernardo Paz e Taiza Krueder: alinhamento de interesses para tirar o projeto de hotelaria do papel. (Giselle Dietze/Divulgação)

Lucas Amorim
Lucas Amorim

Diretor de redação da Exame

Publicado em 24 de agosto de 2023 às 06h00.

Última atualização em 24 de agosto de 2023 às 14h27.

A pouco mais de 50 quilômetros de Belo Horizonte, o Instituto Inhotim é o maior museu a céu aberto do mundo e uma joia cultural do Brasil. Mas há um problema, apontado por boa parte dos até 5.000 turistas que recebe por dia: acomodação. Falta ao museu um hotel à altura de sua relevância e do impacto que provoca em seus visitantes. Bom, faltava.

O grupo paulista Clara Resorts, dono de dois hotéis de luxo no interior de São Paulo, fechou um acordo de investimento com Inhotim para construir dois hotéis e um spa próximos ao complexo do museu até 2029. O plano de investimentos, segundo a EXAME apurou, é de centenas de milhões de reais para os próximos anos, com a ambição de fazer dos novos empreendimentos um complemento compatível com a excelência do acervo.

Os novos projetos nasceram de um relacionamento recente e de um alinhamento imediato entre Bernardo Paz, criador de Inhotim, Taiza Krueder, CEO do Clara Resorts, e Jan Krueder, fundador do hotel que deu origem à companhia. “Tudo o que escolho para cá é pensado com muito cuidado, desde uma planta até uma obra. E com o hotel não poderia ser diferente”, diz Bernardo Paz. “O Clara Resorts é um grupo sólido, que vem desenvolvendo projetos magníficos. Desde o meu primeiro encontro com Taiza eu tive uma impressão excepcional dela e de seu trabalho.”

Esse primeiro encontro aconteceu em abril deste ano, e as semanas seguintes destravaram projetos que estavam parados havia tempos. Taiza conta que conheceu Inhotim em 2015, quando visitou o museu e comprou alguns pôsteres que até hoje decoram o escritório de um de seus hotéis. Neste ano, na SP-Arte, conversou com Marina Toledo, relações públicas do instituto, e soube do projeto de um hotel inacabado há oito anos dentro do museu.

Dias depois, visitou Inhotim e conheceu Bernardo Paz. Não só fechou o compromisso para concluir o hotel que já estava 40% pronto como também convenceu o empresário a comprar outra área para construir um segundo empreendimento. Em poucas horas, conseguiu um acordo que dezenas de empresários e investidores tentavam havia anos.

“Somos experts em comprar o que ninguém consegue. Negociamos e pagamos mais do que o avaliado porque sabíamos que havia o lado emocional envolvido e queríamos deixar o Bernardo feliz”, diz Taiza. Segundo Paz, o hotel é um passo importante para o futuro de Inhotim. “O que será construído fornecerá para o visitante uma experiência única, que ainda não existe no mundo. Acordar no meio de Inhotim é uma coisa inenarrável”, diz.

Os novos empreendimentos vêm, como lembra Paz, num momento de mudanças. No ano passado ele doou para o Instituto sua coleção de 330 obras e 23 galerias, além do terreno de 140 hectares onde está o museu. Também constituiu uma diretoria executiva, encabeçada por Lucas Pessôa, que passou pelo Instituto Ricardo Brennand e pelo Masp, e Paula Azevedo, como diretora vice-presidente. Formou ainda um conselho com nomes conhecidos do mercado, como Eugênio Mattar, Roberto Setubal e Rubens Menin. “As doações, a formação do conselho e outras decisões de institucionalização que venho tomando são maneiras de garantir a perenização deste projeto”, diz o fundador.

O Clara Resorts comprou uma área de 14 hectares, equivalente a 10% de Inhotim, além de uma área vizinha de 16 hectares em uma fazenda de Paz, vizinha ao museu. O primeiro projeto será concluir o hotel de 44 quartos, o que deve acontecer em setembro do ano que vem, com o festival gastronômico de Inhotim. Depois, o plano é construir outro prédio como extensão, com mais 100 quartos e um spa, cujos projetos serão escolhidos em concurso; por fim, levantar um novo hotel, na fazenda vizinha ao museu.

Para o primeiro hotel, o plano é concluir o projeto original assinado pela arquiteta mineira Freusa Zechmeister, com bangalôs integrados à paisagem. “Bernardo e Freusa são dois grandes sonhadores. Vamos executar o projeto original, mas com atualizações e senso prático para que o sonho possa sair do papel. A ideia é curtir a jornada, erguer um hotel que transpire arte”, diz Taiza. Ela pretende aproveitar, por exemplo, as 44 banheiras esculpidas em pedra-sabão, que já estão na propriedade.

O plano da empresária é levar para Inhotim a mesma visão de serviços de seus hotéis de São Paulo. “Somos para a família. Quero que crianças tenham contato com arte desde cedo. Queremos que as pessoas degustem Inhotim aos poucos”, diz. O grupo Clara Resorts tem dois hotéis, em Ibiúna e Dourados, no interior de São Paulo, que somam 300 quartos. Em comum, reúnem instalações com opções de hospedagem para casais com filhos, e serviços que vão de berço a papinha para bebês.

Nos últimos anos, Taiza estava em busca de um terceiro investimento. Inhotim apareceu na hora certa. A ideia é não parar por aí. Ela é filha de uma família que tinha uma rede de restaurantes, em São Paulo, e cresceu atendendo clientes. Estudou administração no Brasil e fez especialização na França, onde trabalhou em lugares como o hotel Plaza Athénée, em Paris.

Em Inhotim, o plano é ter hotéis butique e de alto padrão que contem com doa-dores e patrocinadores para investir na comunidade e trazer artistas para as instalações. “Os projetos precisam ser cíclicos, sustentáveis”, diz. Assim como a arte.

Acompanhe tudo sobre:Revista EXAMEEdição 1254

Mais de Revista Exame

Borgonha 2024: a safra mais desafiadora e inesquecível da década

Maior mercado do Brasil, São Paulo mostra resiliência com alta renda e vislumbra retomada do centro

Entre luxo e baixa renda, classe média perde espaço no mercado imobiliário

A super onda do imóvel popular: como o MCMV vem impulsionando as construtoras de baixa renda