Reid Hoffman, fundador do Linkedin: a meta é criar um repositório de dados profissionais (Miguel Villagran/AFP)
Da Redação
Publicado em 7 de maio de 2011 às 08h00.
Empresas, em especial as que concorrem entre si, sempre estiveram em pé de guerra na disputa por bons profissionais. A rixa, não é novidade, ocorre em toda parte e atinge diversos segmentos de negócios. Até recentemente, porém, era possível dizer que pouco havia mudado no processo de contratação de profissionais para cargos especializados ao longo de anos de disputa por talentos.
Uma exceção à regra foi o surgimento dos headhunters, especialistas em buscar e contratar executivos. Ainda assim, algo elementar se manteve intacto no processo de contratar pessoas: fosse por receber propostas de emprego ou por participar voluntariamente de processos seletivos, candidatos a vagas estiveram sempre cientes de sua condição — a de candidatos.
Em abril de 2010 a fabricante de computadores Dell tinha em aberto uma vaga de consultor de vendas na filial de Porto Alegre. Na época, o engenheiro gaúcho Tiago Bridi, de 34 anos de idade, terminava um MBA em Madri, na Espanha. Bridi não fazia ideia, mas era forte candidato à vaga. Por meio de seu perfil na rede social LinkedIn, a equipe de recrutamento da empresa identificou que Bridi tinha as qualificações desejadas para a vaga.
No mesmo mês, o engenheiro assumiria a nova função. “Foi muito rápido”, diz ele. “Tudo aconteceu como se eu já estivesse no meio de um processo de seleção.” Bridi foi um dos cinco funcionários da Dell contratados pelo LinkedIn no ano passado. Na rede social, a empresa mantém uma página personalizada, hoje com 105 000 seguidores. “O LinkedIn mudou nossa dinâmica de contratações”, diz Paulo Amorim, diretor de RH da Dell.
Além de buscar potenciais funcionários, a companhia utiliza o canal para promover produtos e serviços e também para se ligar à sua rede de fornecedores e contatos comerciais. “Empresas que exploram o LinkedIn conseguem até mesmo despertar nas pessoas o desejo de trabalhar lá”, diz Pedro Ivo Resende, fundador da Riot, especializada em estratégias de mídias sociais.
Nos últimos meses, outras empresas no Brasil vêm seguindo caminho semelhante. Em 2010, os usuários brasileiros no LinkedIn aumentaram 428%, o crescimento mais rápido de todo o mundo. Em março, a rede social corporativa fundada pelo americano Reid Hoffman — também criador do PayPal e um dos mais respeitados investidores-anjo do mundo — alcançou 100 milhões de usuários registrados em mais de 200 países, uma marca notável para uma rede social de nicho.
Transformar o processo de recrutamento de pessoas, porém, não é a única ambição de Hoffman para o LinkedIn. Assim como o Facebook está buscando se tornar um repositório central da vida online de indivíduos, Hoffman quer fazer o mesmo, mas para as empresas. Uma de suas missões declaradas é englobar todos os aspectos possíveis do mundo corporativo e trazê-los para dentro da rede.
Diferente
A história do LinkedIn até aqui lembra pouco a de outras redes sociais. Fundada em 2003, a empresa não teve um crescimento explosivo logo de início. Diferentemente de outras redes criadas na época, como MySpace ou Orkut, o LinkedIn levou seis anos para alcançar “meros” 50 milhões de usuários registrados.
Mas, enquanto outras empreitadas ficaram no caminho, a companhia soube se manter de pé ao longo dos anos. O grande salto se deu apenas nos últimos 12 meses, quando o total de cadastrados mais que dobrou. A receita do LinkedIn cresceu de 123 milhões de dólares em 2009 para 243 milhões em 2010.
Hoje, 73 das 100 maiores companhias do mundo, segundo a revista Fortune, usam serviços da rede social para buscar pessoas ou se aproximar de sua comunidade de negócios. São empresas como a British Gas Business, do ramo de energia, que, no ano passado, usou o LinkedIn para criar um ambiente de discussão sobre eficiência energética e atraiu a atenção de alguns dos melhores profissionais do mundo na área.
Ou como a Cisco, fabricante de equipamentos de telecomunicações, que criou um prêmio em parceria com o LinkedIn para promover as melhores ações organizadas por empresas na rede social e gerou mais de 500 debates em sua página. “O LinkedIn tem um perfil único de usuários, que não necessariamente frequentam outras redes sociais, como Twitter e Facebook”, diz Sunil Gupta, professor de administração e marketing na Universidade Harvard.
Mais do que representar algo útil e diferente para os usuários, o LinkedIn se distancia de outras iniciativas online ao ser bem-sucedido também no próprio negócio — uma miragem para muitas redes sociais. É comum encontrar hoje na internet casos como o do Twitter, empresa cujo modelo de negócios ainda é nebuloso, apesar da enorme base de 200 milhões de usuários registrados.
Esse não é o caso do LinkedIn. A empresa levou anos construindo uma plataforma para atender a vários aspectos no mundo dos negócios — e hoje passa a lucrar mais com isso. A diversificação de receitas criou um modelo de negócios robusto, diferentemente de outras redes sociais, que, em geral, baseiam seu lucro em publicidade online.
Apenas em 2010, as receitas do LinkedIn com serviços de recrutamento dobraram e hoje representam 40% da arrecadação da empresa. Já as assinaturas de contas premium, que oferecem mais recursos aos usuários individuais, respondem por outros 30%.
A animação em torno do LinkedIn como negócio não deve parar por aí. Em janeiro deste ano, a empresa preencheu um pedido na Securities and Exchange Commission, órgão regulador do mercado de capitais americano, para realizar uma oferta inicial pública de ações.
O IPO do LinkedIn, previsto para sair ainda neste ano, deve ser o primeiro de uma rede social, uma experiência que poderá servir de termômetro para o apetite de investidores em empresas do segmento. As estimativas mais otimistas apontam para a arrecadação de 175 milhões de dólares, quando a companhia deverá valer algo entre 2,5 bilhões e 3 bilhões de dólares. Com a inclusão de novos recursos à plataforma, porém, esse número só deve crescer.
Com reportagem de André Faust