Como está o ESG na sua empresa?
O Pacto Global da ONU no Brasil, em parceria com a Stilingue, plataforma de monitoramento digital com Inteligência Artificial, e a consultoria Falconi, lançam o estudo ‘Como está a sua Agenda ESG?’. A iniciativa contou com a participação de 190 organizações privadas, públicas e do terceiro setor. A pesquisa, que foi realizada a partir de questionário de pesquisa e o monitoramento da temática nas redes sociais com social listening, aponta que 78,4% das respondentes afirmaram ter inserido o ESG na elaboração das suas estratégias de negócio, o que mostra o amadurecimento dessa agenda no Brasil. Entenda a seguir os detalhes da pesquisa:
Como as empresas estão atuando
Um dos objetivos do estudo foi mapear em quais etapas de gestão ESG as organizações já possuem atuação. Entre as respondentes, 78,4% afirmam já ter inserido o tema na elaboração das suas estratégias e 59,5% alocam ações ESG no orçamento. Já o mapeamento de riscos ESG é trabalhado por 50% delas.
Das empresas com maior faturamento, acima de R$ 5 bilhões, pode-se afirmar que: 91,9% inserem o ESG nas estratégias, 73% fazem mapeamento de risco ESG, 70,3% possuem gestão dedicada ao tema e 64,9% realizam o desdobramento das metas ESG ao nível operacional.
Ao serem questionadas sobre quais são os principais motivadores para sua atuação nos pilares ESG, 86,3% das organizações respondentes disseram que a preocupação com os impactos ambientais e estabelecer uma economia sustentável são seus maiores motivadores.
Impactos positivos
O estudo também fez um raio X sobre os motivadores para uma agenda ESG nas organizações. E o que mais inspira a implementação de uma agenda ESG é a preocupação com os impactos ambientais e uma economia sustentável. Mesmo assim, ainda o maior impacto efetivamente percebido por 70% das empresas que implementaram a agenda é em sua reputação e imagem.
Além disso, para 35,8% delas há nos recursos e para 34,2%, na atração e retenção de talentos. O fator menos apontado foram as exigências do consumidor, o que demonstra que na maior parte dos segmentos, incluindo Indústria, Serviços e Comércio, ainda não se percebe de maneira expressiva essa demanda.
Após o boom inicial, diz Pereira, é fundamental entender como as empresas têm lidado com o tema: quais são os assuntos discutidos, os desafios enfrentados, onde o recurso está sendo alocado e oportunidades, como as lideranças estão agindo.
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É preciso avançar mais
Contudo, ainda é necessário avançar mais, e isso é refletido também em empresas que não possuem práticas ESG, já que 67,4% delas relatam não ter sofrido impactos negativos por esse motivo, como quaisquer tipos de sanções. Além disso, 58% também nunca recusou fornecedores e/ou parceiros utilizando este tipo de critério. Porém, esse cenário pode estar mudando, uma vez que 8,9% relatam ter perdido negócios ou consumidores, 4,2% perderam valor de mercado e 3,7% tiveram dificuldade de acesso a linhas de financiamento. O impacto negativo mais perceptível, em 13,2% das empresas, foi o menor engajamento de funcionários e a dificuldade de atração de talentos.
De maneira geral, as organizações apontam que para conseguir avançar com a agenda ESG é necessário ter uma melhor estruturação das áreas de apoio para implementação (percepção de 25,7% dos respondentes), maior capacitação dos profissionais nessa agenda (17,5%), o incremento de ações para conscientização das práticas ESG (17,5%) e maior apoio da liderança (15,3%).
O apoio da liderança fica evidenciado também nas respostas das organizações em relação às dificuldades de avanço na agenda, na qual os fatores apontados indicam a dissociação da agenda ESG da estratégia da empresa, uma vez que faltam metas financeiras associadas, orçamento dedicado, conexão da agenda a ações que já acontecem dentro da empresa e conexão dos pilares E, S e G de forma transversal nas áreas e departamentos.“Apesar de as empresas ainda verem reputação e imagem como os principais valores quando falam de implementação de ESG, está claro que toda essa agenda está cada vez mais madura, sobretudo entre líderes empresarias e investidores. Já deixamos para trás o tempo em que algumas poucas áreas de uma empresa tratavam de sustentabilidade e vemos que CEOs estão cada vez mais engajados e engajadas no tema, o que é fundamental para o avanço da Agenda 2030 como um todo. E não vamos ter como voltar para trás. A sociedade está cobrando, é uma exigência de stakeholders, e a expectativa é de que esses números e essa ‘pressão’ só cresçam”, afirma Pereira.
Segmentos de destaque
A pesquisa foi realizada de forma anônima e, para a estratificação dos dados, foram considerados o faturamento, o número de colaboradores e a classificação entre 12 setores, sendo eles: agronegócio, associações e entidades de classe, comércio, comunicação e mídia, construção, consultoria, educação, energia, indústria, infraestrutura, serviços e outros.
Não à toa, um novo setor, de Tecnologia, surge nesta pesquisa que apresentamos aqui dentre os 5 mais citados em 2022, no ranking dos setores mais vinculados ao ESG no universo digital. As big techs como Microsoft, IBM e Dell entram na pauta sobre o desenvolvimento de produtos que auxiliam as empresas no atingimento de metas sustentáveis.
Além disto, a pesquisa aponta motivadores por segmento de atuação. Para serviços, por exemplo, 75% aponta o crescente foco nos valores sociais tais como inclusão, diversidade e experiência do funcionário também como fator motivador para tal atuação. Já na Indústria, Energia e Agronegócio, em segundo lugar está a transparência e confiança que demonstra uma governança bem estruturada.
Além disto, a mídia tem um papel relevante na disseminação do tema. Sendo a EXAME o veículo com maior influência na pauta ESG, seguida pela Folha de São Paulo.
As dificuldades
Já sobre as principais dificuldades para avançar com a agenda ESG, as respostas se concentraram em:
Possuir áreas responsáveis pela agenda;
- Ter metas financeiras associadas;
- Dificuldade de enxergar benefícios tangíveis e medir o impacto no negócio;
- Possuir orçamento e engajamento das pessoas;
- Conectar as ações que já acontecem dentro da empresa à agenda ESG;
- Ter o apoio das lideranças;
- Capacitação e sensibilização das pessoas
Outro ponto relevante é que as empresas ainda precisam trabalhar mais em certificações. Apenas 13,7% das organizações já possuem uma certificação, e 24,7% afirmam estar em processos preparatórios. Das que são certificadas, 45,9% possuem faturamento acima de R$1 bilhão e 13,5% são pequenas empresas, com faturamento de até R$4,8 milhões. Além disso, das organizações que estão em processos preparatórios, 40,4% se enquadram na faixa de faturamento acima de R$1 bilhão.
Cada letra da sigla
O estudo também compreende como as organizações estão trabalhando em cada um dos temas do ESG (ambiental, social e governança). “A pesquisa “Como está a sua agenda ESG?” nos revela que muitas organizações têm buscado identificar as iniciativas vigentes relacionadas a essa tríade, verificando o que pode ser feito para avançar na Agenda. Porém, essa busca não pode ser desordenada, sem responsáveis diretos ou governança, sem contar na agenda das lideranças. Muitas empresas têm dificuldade em associar ESG à estratégia e fazer a gestão efetiva do tema. Acredito que a pauta ESG seguirá cada vez mais urgente dentro das corporações”, diz Viviane Martins, CEO da Falconi.
Pilar ambiental
As iniciativas das empresas em relação ao pilar ambiental se concentram no treinamento dos colaboradores no tema e em ações como redução, reciclagem e destinação sustentável de resíduos, que são ações mais simples de serem executadas por exigirem menos recursos.Porém, é notável que as iniciativas de redução de emissões de gases de efeito estufa se tornaram muito relevantes para empresas de todos os segmentos e portes, uma vez que 62,1% têm investido em tais iniciativas, sendo o tema mais trabalhado na Indústria, Infraestrutura, Comércio e Agronegócio. Isso demonstra que mesmo sendo iniciativas que exigem mais recursos - como, por exemplo, para realizar o inventário de carbono e ter ações concretas para redução das emissões - é algo que está sendo exigido na maior parte dos negócios, seja por investidores, clientes, fornecedores ou mesmo pelo próprio impacto positivo que a organização deseja promover.
Pilar Social
O pilar social, muito associado a ações com as comunidades locais (foco de 68,4% das empresas), apresentou também força nos temas de diversidade e inclusão (68,4%) e de saúde e bem-estar (67,9%). Os segmentos de Agronegócio e de Construção, ainda considerados predominantemente masculinos, parecem encontrar maiores desafios para trabalhar ações de diversidade e inclusão, engajando-se mais em iniciativas de saúde e bem-estar.
Pilar Governança
Para as organizações pesquisadas, a agenda de governança se pauta mais fortemente em ter um Código de ética e comportamento (foco de 85,8% das organizações), trabalhar a cultura, valores e propósito (74,2%) e ter Políticas de Compliance (66,8%). O tema de sucessão de pessoas chaves é o menos trabalhado por empresas de todos os portes e segmentos.
Metodologia
O estudo foi realizado a partir da complementaridade entre um questionário de pesquisa e o monitoramento da temática nas redes sociais feito com social listening. Esse termo pode ser traduzido como “escuta social” e consiste na prática de identificar comentários e conversas relevantes para uma marca nos mais diversos ambientes digitais, desde redes sociais até fóruns, comunidades, sites especializados, entre outros. A integração dessas metodologias permite ampliar o escopo da análise, levantando um diálogo entre uma audiência específica e o público geral.
O questionário foi distribuído para os signatários do Pacto Global e clientes Falconi entre os meses de setembro e outubro de 2022, com 11 perguntas e o objetivo de mapear a aderência das organizações a iniciativas e projetos em ESG, compreendendo também as principais barreiras daqueles que buscam avançar nessa agenda e os benefícios que têm percebido com tal investimento.
A pesquisa foi realizada de forma anônima e, para a estratificação dos dados, foram considerados o faturamento, o número de colaboradores e a classificação entre 12 setores, sendo eles: agronegócio, associações e entidades de classe, comércio, comunicação e mídia, construção, consultoria, educação, energia, indústria, infraestrutura, serviços e outros.
Na etapa de social listening, foi considerada a análise das publicações voltadas para o ESG no período entre janeiro e outubro de 2022, com a abrangência de coleta em portais de notícias, na plataforma de compartilhamento de vídeos YouTube, em blogs e nas redes sociais Twitter, Instagram e Facebook. Deste modo, foi possível identificar como o tema cresce e se comporta nas conversas online.
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Créditos
Marina Filippe
Repórter de ESG
Mestre em Ciência da Comunicação pela USP. Na EXAME, desde 2016, escreveu em negócios, gestão e sustentabilidade. Foi finalista dos prêmios de Jornalismo Inclusivo e Comunique-se, e reconhecida entre os Mais Admirados da Imprensa.