O que está por trás do problema
Tracy Gardner estava com quase 50 anos quando começou a se sentir mal. Gardner, que na época era presidente da J.Crew International, lembra-se de ter sofrido intensas ondas de calor enquanto presidia reuniões lotadas de gente na sua confecção de roupas. “Me senti como se estivesse vivendo aquela cena em “Nos Bastidores da Notícia”, onde o personagem de Albert Brooks transpira incontrolavelmente, encharcando suas roupas no ar durante um segmento de notícias”, diz Gardner, agora com 59 anos, que trabalha como diretora do conselho e consultora executiva. “Foi como se da noite para o dia, tudo tivesse mudado.” A mudança foi física, mental e emocional, diz ela.
Tracy não tinha se dado conta de imediato, mas estava caminhando para a menopausa, definida como a fase após 12 meses consecutivos sem menstruação. Mais especificamente, ela estava passando pela pré-menopausa, o período que antecede o período menstrual final de uma mulher, no qual começam os sintomas frequentemente associados à menopausa.
Normalmente, começando depois da metade dos 40 anos e durando de sete a nove anos, os sintomas podem incluir:
- ondas de calor
- menstruação irregular e às vezes intensa (do tipo hemorragia)
- suores noturnos
- dores no corpo
- declínio de energia
- confusão mental
- alterações de humor
- distúrbios sexuais
- disfunção
- e interrupção significativa do sono, sintoma mais complicado para a saúde a longo prazo
Qualquer combinação desses sintomas todos pode prejudicar a autoconfiança, a memória e a saúde mental.
'Por que você está largando tudo isso?'
Até 2025, o número de mulheres na pós-menopausa em todo o mundo deve aumentar para 1,1 bilhão, de acordo com a Sociedade Norte Americana para a Menopausa. Um tabu histórico — falar sobre pré-menopausa e menopausa, especialmente no local de trabalho — bem como uma pronunciada lacuna de conhecimento na sociedade e até entre médicos significa que muitas pacientes não atribuem sua experiência a essa fase natural da vida e lutam para lidar com isso.
"Quando estava passando por esse turbilhão, ninguém falava sobre menopausa, e nem eu tinha ouvido a palavra 'pré-menopausa', mesmo em conversas mais íntimas", diz Tracy, acrescentando que, como os sintomas das pessoas podem variar em número e gravidade, era difícil decifrar o que estava acontecendo. "Mas eu sabia que não me sentia bem como antes e não gostava da pessoa exausta que eu havia me tornado para minha família no final do dia."
Para proteger sua saúde mental e estabelecer um equilíbrio melhor entre vida profissional e pessoal enquanto criava dois filhos pequenos, em meados de 2010, Gardner deixou seu cargo na J.Crew, abrindo mão de muito dinheiro e deixando muitos colegas perplexos.
"As pessoas diziam: 'Por que você está largando tudo isso?'", diz ela. "Tudo o que conseguia dizer era: 'Eu cheguei no meu limite' e precisava mudar as coisas, criar novas metas".
A menopausa geralmente ocorre quando as mulheres estão assumindo funções de liderança de alto escalão ou algum cargo executivo, ao mesmo tempo em que criam filhos, cuidam de pais idosos e, potencialmente, enfrentam o preconceito da idade.
O mundo corporativo não é o lugar mais amigável para se navegar no que pode parecer uma segunda puberdade, diz Michelle Jacobs, cofundadora e diretora de operações da Womaness, marca de produtos de higiene pessoal e suplementos destinados a aliviar os sintomas da menopausa.
"Assim como a gravidez, a menopausa pode ser difícil de lidar enquanto se trabalha em ambientes com muitos homens, onde simplesmente não se pode dizer que se está desmoronando, onde as mulheres são frequentemente eliminadas, seu trabalho se torna invisível, mesmo no final dos 40 anos", diz Jacobs.
"Não tenho nenhuma amiga na casa dos 50 anos que tenha permanecido em seus empregos corporativos. Essas são mulheres que dirigiam empresas, mas agora estão fazendo outras coisas — participando de conselhos de empresas, iniciando negócios e geralmente trabalhando em home office".
Qual é o impacto da menopausa para a economia
Nem todo mundo está em condições financeiras de mudar o ritmo dessa maneira, e aquelas que não deixam totalmente a cena corporativa por causa da pré-menopausa e dos sintomas da menopausa terão de lutar em silêncio.
Um estudo divulgado pela Clínica Mayo em abril, constatou que, das 4.400 mulheres pesquisadas de 45 a 60 anos:
- 13% enfrentaram desafios no trabalho relacionados aos sintomas da menopausa
- e cerca de 11% perderam dias de trabalho por causa desses sintomas.
Embora sejam necessárias mais pesquisas entre uma amostra mais ampla e diversificada, "a probabilidade de se obter um resultado adverso devido aos sintomas da menopausa é aproximadamente três vezes maior para as mulheres negras", diz Ekta Kapoor, diretora assistente da Clínica Mayo para a Saúde da Mulher e principal autora do relatório.
E o custo anual para a economia dos EUA de todos esses dias de trabalho perdidos? Mais de US$ 1,8 bilhão, segundo o relatório.
Outro estudo realizado pela Elektra Health, uma startup de telemedicina para cuidados com a menopausa, com sede em Nova York, descobriu que 20% das mulheres pesquisadas haviam saído ou estavam pensando em deixar o emprego por causa dos sintomas da menopausa.
Outros 18% desistiram de concorrer a promoções como consequência desses sintomas e 44% sentiram que não tinham apoio suficiente de seus empregadores.
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Como o assunto vem ganhando visibilidade
Esses estudos surgem em um momento em que há uma crescente cobertura sobre a pré-menopausa e menopausa na grande mídia.
Celebridades como Michelle Obama e Drew Barrymore vêm falando sobre suas experiências. Além disso, uma safra crescente de startups lideradas por mulheres está trabalhando para se livrar dos tabus enquanto lucra com o que está se tornando uma indústria de US$ 15 bilhões para produtos relacionados à menopausa.
Embora a narrativa possa finalmente estar mudando de forma mais ampla, a questão ainda dificilmente é discutida no local de trabalho. Isso está começando a mudar no Reino Unido, onde recentemente o governo nomeou seu primeiro Campeonato de Empregabilidade na Menopausa para gerar maior conscientização e promover os benefícios comerciais para apoiar funcionárias na menopausa que permanecem no local de trabalho.
Lee Chambers, psicólogo britânico de negócios que lidera o Essentialise Workplace Wellbeing (Tornar Essencial o Bem-Estar no Ambiente de Trabalho), assumiu como missão normalizar a menopausa nos negócios, ajudando empresas a implementar estratégias, realizar workshops e programas de treinamento de inclusão e incentivar a aliança masculina.
"É uma verdadeira jornada hormonal para a qual os homens não têm um ponto de referência, mas como o local de trabalho foi construído por homens, para homens, não há sensibilidade para essa experiência", diz Chambers.
A ideia de licença remunerada para a menopausa foi discutida no Reino Unido e na Austrália, mas alguns, incluindo os fundadores da Womaness, se perguntam se essa política poderia arriscar a estigmatizar ainda mais as que já sofrem com isso — especialmente se não houver suficiente conscientização sobre o assunto dentro de uma empresa.
"Certamente ajuda quando há mulheres no topo de uma empresa ou equipes que são abertas sobre o que estão passando, mas não é realista esperar que todos se sintam à vontade para fazer isso", diz Sally Mueller, cofundadora e diretora executiva da Womaness, que acrescenta que as mulheres precisam reconhecer melhor seus sintomas e perceber que existem produtos e terapias que podem ajuda-las.
"No local de trabalho, acho que elas precisam de compaixão, espaços seguros e flexibilidade no horário de trabalho”, diz ela. “Por menos que se faça nessa jornada isso ainda pode demorar muito tempo."
Tradução de Anna Maria Dalle Luche.
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Créditos
Bloomberg Businessweek
Bloomberg Businessweek
Conteúdo da revista de negócios Bloomberg Businessweek, dos Estados Unidos