Friends: série faz parte do catálogo da Warner (Getty Images / Handout/Getty Images)
Repórter
Publicado em 20 de novembro de 2025 às 06h01.
O futuro da Warner Bros. Discovery (WBD) pode começar a ser desenhado nesta quinta-feira, 20, com o encerramento do prazo para as propostas iniciais de aquisição da gigante do entretenimento, segundo informações da Variety. Entre os principais interessados pelo catálogo da Warner, estão a Netflix, a Paramount e a Comcast — e a briga dos titãs promete ser um capítulo imperdível no mercado do entretenimento.
A Warner, dona de franquias como Harry Potter, Friends e Gilmore Girls, está avaliada em cerca de US$ 60 bilhões e acumula uma dívida de US$ 33,5 bilhões, fruto de uma combinação de aquecimento do mercado de streaming, fusões complicadas e queda da TV tradicional.
As ofertas, ainda não vinculativas, deverão ser analisadas pelo conselho da WBD em uma reunião antes do feriado de Ação de Graças, no dia 27 de novembro. A expectativa é que o processo de avaliação das propostas seja concluído até o final deste ano.
A Warner enfrenta uma das maiores crises da história recente do setor de mídia.
Desde a fusão entre WarnerMedia e Discovery, em 2022, a companhia perdeu quase 60% de valor de mercado e viu seu braço de televisão linear — que inclui CNN, TNT e Discovery Channel — encolher diante do avanço do streaming.
Em 2024, a empresa registrou um prejuízo contábil de US$ 9,1 bilhões com desvalorização desses ativos e sofreu novo baque em 2025 com a perda dos direitos de reprodução dos jogos da liga americana de basquete, a NBA.
O cenário piorou com a queda de receitas no primeiro semestre de 2025 e o rebaixamento da nota de crédito pela agência S&P para grau especulativo. É esperado que as receitas de publicidade e TV paga continuem a cair até 2026.
Apesar da deterioração financeira, a WBD recusou três propostas de aquisição da Paramount até o momento, incluindo uma oferta final estimada em US$ 75 bilhões, que prevê a transferência da obrigação da dívida para a companhia.
Para a Warner, especialmente para o CEO David Zaslav, o valor oferecido é uma subavaliação dos ativos, e mostra uma "incompatibilidade estratégica". Há também o temor sobre riscos regulatórios com agências americanas.
Em vez de fechar a oferta com a Paramount diretamente, a empresa iniciou um processo formal de leilão, buscando atrair lances parciais de grupos como Netflix e Comcast, interessados apenas nos estúdios e na plataforma HBO Max.
Como alternativa à venda total, a WBD também estuda a divisão da empresa em duas até 2026: uma unidade com foco em streaming e produção cinematográfica, sob comando de Zaslav, e outra com os ativos de televisão linear, liderada pelo CFO Gunnar Wiedenfels. Desse modo, a Warner conseguiria vender partes separadas de sua companhia e, assim, ter mais controle sobre a aquisição.
A proposta mais agressiva para a aquisição total da Warner Bros. Discovery (WBD) é liderada por David Ellison, CEO da Paramount Skydance, que tem como objetivo consolidar a WBD em um único conglomerado de mídia.
A coalizão financeira por trás da oferta inclui potentes fundos do Oriente Médio, com Arábia Saudita, Abu Dhabi e Catar fornecendo sustentação capital. A operação conta com o forte apoio de Larry Ellison, cofundador da Oracle e um dos homens mais ricos do mundo, que se comprometeu a financiar parte significativa da oferta.
A proposta também é articulada por figuras influentes como Jeff Zucker, ex-presidente da CNN, e Turki Alalshikh, chefe da Autoridade Geral de Entretenimento da Arábia Saudita, cujos vínculos com o governo saudita garantem peso político à operação.
Fontes indicam também que o presidente Donald Trump demonstrou apoio político à proposta da Paramount, após um encontro com o príncipe herdeiro da Arábia Saudita, Mohammed bin Salman (MBS). A Paramount também está disposta a assumir a dívida da Warner para garantir a aquisição total.
A junção de ambos os grupos formaria um gigante com mais de 200 milhões de assinantes de streaming e um portfólio de conteúdo ainda mais completo, rivalizando com as maiores potências do setor, como Disney e Netflix.
Warner: crise financeira cria disputa acirrada por seus ativos (Jacek_Sopotnicki/Getty Images)
A Netflix, por sua vez, está considerando a aquisição dos estúdios Warner e da plataforma de streaming HBO Max, atraída pelo acervo de filmes e séries e pela capacidade de produção da Warner.
A proposta da gigante do streaming seria em ações, aproveitando sua capitalização superior a US$ 470 bilhões e o fluxo de caixa, o que daria à empresa a capacidade de realizar uma oferta considerável.
A transação, no entanto, enfrenta riscos regulatório, principalmente pela concentração de mercado que a união de dois grandes serviços de streaming — Netflix e HBO Max — poderia gerar, o que atrairia a atenção de autoridades antitruste, especialmente nos EUA e na Europa.
Por outro lado, a Comcast apresenta uma proposta estratégica focada na integração dos estúdios Warner aos da Universal e propõe combinar o HBO Max com o Peacock, criando um super-streaming que poderia disputar de forma mais agressiva com a Netflix e a Disney+.
A proposta exclui da negociação os canais a cabo da WBD, como CNN, TNT, Food Network e outros, já que a Comcast não tem interesse no segmento de televisão tradicional, o qual continua perdendo audiência devido à migração para o digital.