Pop

Recessão em 2025? Lady Gaga e The Office podem ser 'sinais de alerta' para crises econômicas

Cultura pop pode ser um reflexo das incertezas econômicas, com sinais de recessão já visíveis nas músicas e tendências atuais

Publicado em 27 de julho de 2025 às 07h01.

Para além das tarifas do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a cultura pop pode servir como indicador de uma possível recessão global. Com a ansiedade econômica em alta, até mesmo músicas feitas por inteligência artificial (IA) com a estética dos anos 80 podem ser um sinal

As redes sociais, como TikTok, Instagram e X (antigo Twitter), têm se tornado os principais polos de discussão sobre uma possível retração na economia mundial.  Da volta de Lady Gaga às paradas até o uso de jeans de cintura baixa, que eram símbolos de sucesso na época da Grande Recessão de 2008, tudo pode ser um indicador de que as coisas não andam tão bem. 

Em meio à crise de 2008, artistas como a própria Gaga, Ke$ha e Katy Perry despontaram. Os hits de Gaga, mais otimistas, levaram a cantora a ser questionada sobre suas motivações de lançar um álbum de dance-pop apesar do clima econômico. “Com a recessão na Irlanda e também nos EUA, que estão quase em depressão total, todos nós precisamos de um tempo para sorrir”, afirmou a cantora naquele ano ao Irish Independent. E daí nasceu o gênero musical apelidado de “pop da recessão” — capaz de prever crises.

O site especializado em música Gen Admission sugere que a necessidade de um otimismo em consumos da cultura pop podem antecipar períodos de recessão. E os sucessos musicais dos últimos anos podem servir como indícios fortes de um período conturbado. “Álbuns como Short’n’Sweet de Sabrina Carpenter e faixas como Sports Car de Tate McRae trazem temas semelhantes. À medida que as pop girls ganham destaque em 2024 e 2025, a economia dos EUA afunda”, dizem os analistas.  

Tela quebrada

The Office: série voltou a ser popular em meio às crises (The Office / CBS/Reprodução)

Outro reflexo da ansiedade econômica é o renascimento de programas e séries de TV dos anos 2000 no Brasil e no mundo. Produções como "Friends", "The Office" e "The OC" têm sido repetidamente citadas nas redes sociais como refúgios culturais durante momentos de incerteza.

No Brasil, a volta de programas antigos de TV e a popularidade de YouTube com conteúdos nostálgicos também fazem parte desse movimento. Essas referências culturais do passado servem como uma forma de escape psicológico para uma geração que, agora adulta, enfrenta um contexto de insegurança financeira e incertezas políticas.

De acordo com um estudo do The Conversation, a nostalgia de revisitar séries antigas acaba servindo como um escudo emocional em tempos de incerteza. Segundo a pesquisa, personagens e fotografias são constantemente lembrados quando as pessoas buscam um consolo de tempos mais fáceis. E as dificuldades econômicas têm afetado os mais jovens. 

Um levantamento da TransUnion mostra que os membros da geração Z (nascidos entre 1997 e 2012) estão contraindo dívidas no cartão de crédito mais cedo — e em valores maiores — do que os millennials. Em 2023, o saldo médio de crédito entre pessoas de 22 a 24 anos era de US$ 2.834 (R$ 17.144,84), já ajustado pela inflação, o que representa um salto de 26% em relação ao que os millennials deviam nessa mesma faixa etária, dez anos antes. 

Estamos em uma recessão?

Apesar dos temores, o mundo ainda não está em uma recessão. Nos Estados Unidos, de acordo com a definição do National Bureau of Economic Research (NBER), por exemplo, uma recessão acontece quando há uma contração significativa na atividade econômica, marcada por quedas no Produto Interno Bruto (PIB), emprego, renda e produção industrial ao longo de vários meses — o que ainda não aconteceu. 

O JPMorgan Chase, maior banco dos EUA, projetou uma probabilidade de 40% para uma recessão no país nos próximos 12 meses. A instituição observou que a incerteza nas tarifas comerciais e as tensões geopolíticas continuam a ser fatores significativos que alimentam o risco de desaceleração econômica, mas ainda há espaço para crescimento, embora de forma mais modesta.

Jamie Dimon, CEO do JPMorgan, afirmou que "uma recessão será provavelmente o resultado mais possível" devido ao impacto das tarifas e das tensões comerciais globais. Para Dimon, os mercados estão reagindo a essas incertezas, o que pode resultar em uma deterioração das condições econômicas, embora os Estados Unidos ainda experimentem crescimento, mesmo que limitado. Em maio, ele reiterou que "não se pode retirar a recessão da mesa".

O Goldman Sachs, por sua vez, adotou uma postura mais otimista, reduzindo suas probabilidades de recessão de 60% para 35% entre abril e julho de 2025. A instituição indicou que os dados mais recentes revelam resiliência na economia dos Estados Unidos. O desemprego permanece baixo, em torno de 4,1% no início de 2025, e o PIB dos EUA segue crescendo, ainda que a um ritmo mais moderado. Esse desaceleramento indica uma redução no ritmo do crescimento, mas não uma recessão completa.

Em termos de mercados financeiros, os spreads de crédito aumentaram, um sinal clássico de risco no mercado de dívida. O S&P 500 teve uma queda de 10% entre março e abril de 2025, refletindo a inquietação dos investidores diante da crescente incerteza comercial. Ao mesmo tempo, o Índice de Gerentes de Compras (PMI) global registrou contração na atividade industrial, especialmente nas principais economias da zona do euro e na China, pressionando a recuperação econômica global.

Enquanto isso, o Brasil também vive um cenário de incerteza. A recessão no país é comumente definida como a contração do PIB por dois trimestres consecutivos, conhecida como recessão técnica, segundo a metodologia do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Porém, para o Brasil enfrentar uma recessão profunda, é necessário que outros indicadores, como desemprego, queda na produção industrial, redução da renda das famílias e diminuição do consumo, também mostrem sinais de deterioração.

Pesquisas de diversas instituições financeiras indicam que o Brasil enfrenta alto risco de recessão em 2025. Um estudo da Genial/Quaest revelou que 58% dos analistas veem o risco do Brasil entrar em recessão em 2025, citando sinais de desaceleração do PIB, inflação alta e juros elevados como principais fatores. Já bancos como Bradesco, BV, Ativa, Monte Bravo e Tendências projetam uma contração do PIB nos dois últimos trimestres de 2025, configurando uma recessão técnica devido ao esfriamento do consumo e dos investimentos, ambos impactados pelos juros elevados. Apesar disso, o governo e o Banco Central (BC)  têm um otimismo moderado, prevendo um crescimento de 2% a 2,5% para o PIB em 2025, embora reconheçam sinais de desaceleração.

Além disso, fatores como taxa de juros elevada, inflação persistente e desaceleração do consumo devem continuar pressionando o crescimento da economia brasileira. O agronegócio, por sua vez, ainda mantém a expectativa de sustentar o crescimento, mas o impacto de um possível cenário internacional adverso, como uma crise nos Estados Unidos, poderia piorar o ambiente econômico no Brasil e confirmar todas as previsões da cultura pop. 

'Bem-vindo à parada da crise'

My Chemical Romance

My Chemical Romance se apresenta no Madison Square Garden em 2008  (Foto de Kevin Mazur/WireImage) (Kevin Mazur / Colaborador/Getty Images)

Mas essa não é a primeira vez que a cultura pop pode ajudar a prever uma mudança na economia. Em 2008, um colapso no mercado imobiliário nos Estados Unidos foi responsável por um efeito cascata no sistema financeiro de todo o mundo, que apagou US$ 2 trilhões da economia global naquele ano. 

Ao contrário do início dos anos 2000, quando os produtos cinematográficos e a moda visava uma estética otimista e romântica e com “finais felizes”, a partir de 2008 as produções retrataram uma avalanche de melancolia e perspectivas catastróficas. Para Diego Rodstein, da Faculdade Federal de São Paulo, filmes como “Wall-E” — uma animação distópica da Disney que acontece um universo pós-apocalíptico lançada naquele ano — são o retrato de uma sociedade que esperava e se preparava para o pior. 

Na moda e na música, a cultura “emo” também ajudou a dar indícios de que uma crise viria. À época, bandas como The Killers, My Chemical Romance e Paramore refletiam uma geração de jovens melancólicos e penteados de cabelo que cobriam o rosto e maquiagens sempre carregadas foram os principais pontos de identidade estética do principal grupo da recessão de quase duas décadas atrás, segundo um estudo do Instituto de Tecnologia da Moda da Universidade Estadual de Nova York.

“As tecnologias não levaram ao progresso prometido, induzindo as pessoas a mergulhar ainda mais no trabalho e no consumo, resultando em uma esfera de desilusão”, escreveu Rodstein em estudo. A ascensão da internet aprofundou essa contradição, segundo ele: ao mesmo tempo em que abriu novas possibilidades de comunicação, conhecimento e construção de comunidades, também trouxe consigo o medo constante da vigilância e do controle.

Tudo isso alimentou um imaginário melancólico, refletido na cultura pop em forma de um fatalismo que não apenas lamenta o fracasso do futuro, mas o trata, segundo o autor, como algo impossível.

Rodstein reflete que a nostalgia, nesse caso, não é só saudade do passado. É um sentimento que mistura frustração com o presente e uma certa esperança no que o futuro poderia ser. Mas, segundo ele, quando nostalgia toma conta, ela trava a ideia de progresso. Em vez de olhar para frente, a sociedade fica presa num ciclo de repetir o passado e congelar o presente, como se não fosse possível sair desse estado, nem imaginar nada. 

O pop em tempos de bonança

Mas não são só as desgraças econômicas que são previstas ou refletidas pela cultura pop. Em tempos de bonança, é comum que a indústria cultural se beneficie. Durante a década de 1950, por exemplo, a economia pós-Segunda Guerra Mundial trouxe uma onda de prosperidade, especialmente nos Estados Unidos, com um aumento no poder de compra das famílias. Esse crescimento permitiu a criação de um mercado jovem que até então era negligenciado pelas grandes marcas, gerando a ascensão de artistas como Elvis Presley e Chuck Berry, que refletiam um som dançante, característico do momento de otimismo e crescimento da época.

Nos anos 1980, o crescimento econômico foi impulsionado pela política de Reagan, e a popularização da MTV transformou a indústria musical, fazendo com que artistas como Michael Jackson e Madonna não fossem mais apenas músicos, mas também empresários e ícones globais. As novas tecnologias, como o videoclipe e os sintetizadores, criaram um novo padrão de consumo cultural, levando a música pop a novos patamares de popularidade e rentabilidade. Em 1983, o álbum Thriller de Michael Jackson, se tornou o álbum mais vendido de todos os tempos, com mais de 66 milhões de cópias vendidas globalmente.

Já nos anos 2000, a internet e a revolução digital transformaram a forma como cultura era consumida. As plataformas como MP3s e DVDs e, posteriormente, o streaming, possibilitaram que a música e o cinema chegassem a qualquer lugar, a qualquer hora. Esse foi o período em que o consumo de entretenimento se democratizou, com artistas como Beyoncé e Britney Spears se aproveitando da internet para expandir suas marcas e conectar-se diretamente com seus fãs.  

Taylor Swift e Rihanna

Rihanna e Taylor Swift: cantoras se beneficiaram no pós-crise (Foto de Lester Cohen/WireImage) (Lester Cohen / Colaborador)

Depois da crise de 2008, no começo da década de 2010, o crescimento do streaming e a ascensão das redes sociais criaram um novo ecossistema para a cultura pop. A indústria musical se beneficiou das plataformas digitais, com artistas como Taylor Swift e Rihanna utilizando o poder das redes sociais para alcançar públicos globais de maneira mais rápida e eficaz.

Em 2014, o mercado de streaming de música global atingiu US$ 1,6 bilhão em receita, com serviços como o Spotify e a Apple Music liderando a transformação. Esse aumento no consumo digital coincidiu com um crescimento no poder de gasto das pessoas, especialmente nos Estados Unidos e na Europa, onde a renda média aumentou em 3,5% entre 2013 e 2017, proporcionando mais recursos para o consumo — e a cultura também entrou na dança.

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