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Quem foi Eunice Paiva, protagonista do filme ‘Ainda Estou Aqui’?

Interpretada por Fernanda Torres, indicada ao Oscar de Melhor Atriz, Eunice foi uma das maiores ativistas contra a Ditadura no Brasil

Eunice Paiva: esposa do ex-deputado Rubens Paiva é interpretada pela atriz Fernanda Torres no filme "Ainda Estou Aqui" (Instituto Vladimir Herzog/Acervo/Reprodução)

Eunice Paiva: esposa do ex-deputado Rubens Paiva é interpretada pela atriz Fernanda Torres no filme "Ainda Estou Aqui" (Instituto Vladimir Herzog/Acervo/Reprodução)

Luiza Vilela
Luiza Vilela

Repórter de POP

Publicado em 23 de janeiro de 2025 às 16h36.

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“Ainda Estou Aqui”, filme de Walter Salles, acaba de fazer história: tornou-se o primeiro filme brasileiro a ser indicado na categoria de Melhor Filme do Oscar. O mundo se simpatizou com a protagonista da trama, Eunice Paiva, que morreu de Alzheimer em 2018.

Interpretada por Fernanda Torres, indicada ao Oscar de Melhor Atriz e vencedora do Globo de Ouro na mesma categoria em 2025, a figura de Eunice é um tanto quanto representativa para a história do país. Pela busca incessante pela Justiça, tornou-se símbolo da luta contra a ditadura militar brasileira, que durou 21 anos e assassinou seu marido, o ex-deputado Rubens Paiva, entre os dias 20 e 21 de janeiro de 1971.

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Rubens Paiva foi assassinado por militares do regime após ser espancado no DOI-CODI, reconhecido como um dos maiores centros de tortura do Rio de Janeiro durante a ditadura. Ele estava envolvido com o envio de cartas de expatriados e exilados para seus entes no Brasil.

O filme é baseado na obra de mesmo nome de Marcelo Rubens Paiva, filho de Eunice. No livro, o autor permeia as memórias da mãe e do pai em meio ao crime que assolou a própria família. E descreve a luta e o sofrimento de Eunice, mãe de cinco filhos, que se viu de repente sem o marido, sem acesso a suas contas bancárias — porque Rubens foi dado como desaparecido —, mas nunca se deixou abalar.

Eunice chegou a ser presa no mesmo local que o marido, mas não conseguiu vê-lo. Ficou em cárcere por 12 dias em uma sala escura, sem acesso à luz. Cobravam dela o reconhecimento de nomes e pessoas perseguidas pelo regime, mas não revelou nenhum. Foi levada para lá pelos militares ao lado da filha, Eliana, que na época tinha 15 anos e foi liberada no dia seguinte ao interrogatório.

A reinvenção no Direito

Antes do assassinato de Rubens Paiva, Eunice se dedicava as tarefas de casa e ao cuidado dos filhos. Era formada em Letras pela Universidade Mackenzie, falava francês e inglês com fluência e adorava ler.

Vinda de família italiana, tinha todas as tradições que os imigrantes trouxeram ao Brasil: a macarronada no almoço de domingo com a família, o jeito de falar alto. Tinha prazer em cuidar do lar.

Mas quando perdeu o marido para a ditadura e reconheceu tantas outras vítimas de tortura, viu-se num beco sem saída. Sem dinheiro e em busca por Justiça, passou a se dedicar aos estudos de Direito. Voltou a Universidade Mackenzie aos 42 anos e se formou aos 47.

Uma vez advogada, teve uma luta ativa em defesa dos Direitos Humanos e defendeu inúmeros casos de “desaparecimento” relacionados à ditadura brasileira. Foi a principal responsável pela condenação e investigação do caso do marido também.

Em busca da reconstrução da democracia brasileira, Eunice também atuou como consultora, em 1988, da Assembleia Nacional Constituinte, que promulgou a Constituição Federal Brasileira.

Está entre as principais responsáveis pela criação da Lei 9.140/95, que reconhece como mortas as pessoas desaparecidas durante a ditadura militar. Foi a única parente de uma vítima do regime a acompanhar a assinatura da Lei, feita pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso.

Só em 1996, depois de muita luta na Justiça, recebeu do Estado brasileiro oficialmente o atestado de óbito de Rubens Paiva.

Direito dos indígenas

Para além da defesa das vítimas da Ditadura, Eunice também é reconhecida até hoje pela luta dos povos indígenas. Advogou para expropriação indevida de terras e foi responsável pela mudança de algumas das leis para proteção dos povos originários.

Em outubro de 1983, chegou a assinar com Manuela Carneiro da Cunha, um artigo na Folha de São Paulo com o título "Defendam os pataxós". O texto foi um marco na luta indígena brasileira e serviu de modelo para outros povos indígenas, inclusive africanos, americanos e esquimós.

Memória e esquecimento

Após anos de ativismo e com cinco filhos já adultos constituindo suas próprias famílias, ao final da vida, Eunice foi acometida pelo Mal de Alzheimer.

Ficou anos com a memória comprometida e morreu, em decorrência da doença, em 13 de dezembro de 2018, aos 89 anos.

Onde assistir ‘Ainda Estou Aqui’?

O filme está em cartaz nos cinemas desde 7 de novembro. Será disponibilizado em breve na Globoplay.

‘Ainda Estou Aqui’ no Oscar

O filme de Walter Salles recebeu 3 indicações ao Oscar de 2025, nas categorias de Melhor Atriz, Melhor Filme Internacional e Melhor Filme. A cerimônia será realizada no dia 2 de março, no teatro Dolby, a partir das 21h (horário de Brasília).

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