Veja o que achamos do filme "Oppenheimer" (Universal Studios/ Oppenheimer/Divulgação)
Repórter de POP
Publicado em 19 de julho de 2023 às 13h48.
Última atualização em 9 de março de 2024 às 21h29.
Em julho de 2023 chegou aos cinemas o tão aguardado "Oppenheimer", novo filme de Christopher Nolan, lançado no mesmo dia da produção de Greta Gerwig,"Barbie". Indicado a 13 categorias do Oscar, o filme faturou um total de US$ 951 milhões em bilheteria e conquistou o uma verdadeira coleção de prêmios.
A Exame já assistiu ao novo filme da Barbie, leia a crítica e saiba o que esperar da produção.
O longa-metragem, 12º da carreira de Nolan, conta a história do 'pai' da primeira bomba atômica, J. Robert Oppenheimer. O foco é a criação do Projeto Manhattan, no Teste Trinity, e detonação da bomba no Novo México em 1945, meses antes do ataque à Hiroshima e Nagazaki — que deixou um total de mais de 110 mil pessoas mortas nas duas cidades.
Baseado na biografia vencedora do Prêmio Pulitzer, "American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer" (Oppenheimer: o triunfo e a tragédia do Prometheu americano), de Kai Bird e Martin Sherwin, o filme não só aborda uma das maiores problemáticas sobre o envolvimento dos Estados Unidos na Segunda Guerra Mundial, como também a explora através de um elenco brilhante.
Mas será que vale a pena ver no cinema? A EXAME Pop assistiu ao filme com antecedência e traz uma visão de público comum para saber se vale a pena ou não investir na bilheteria. Confira:
O mais novo filme de Nolan foi uma jogada arriscada, mas proposital. Ao trazer à tona a vida e história de Oppenheimer, o diretor ousou relembrar um dos momentos mais problemáticos da história norte-americana, questionado não só pela criação da primeira arma nuclear, como também por todas as consequências de sua existência.
O conflito interno da concepção da bomba, que representava o avanço da história ao mesmo tempo em que poderia condená-la (e assim o fez), fica estampado na face de Cilian Murphy — que pode ter interpretado um dos melhores papéis em toda a sua carreira, ainda mais elaborado do que o inesquecível Thomas Shelby de "Peaky Blinders". O peso da história fica todo concentrado no olhar dele, em suas expressões marcantes e frases não ditas.
No plano e tão presente quanto Murphy está a elaboração da bomba, que desde sua primeira teoria até a icônica explosão, é o ônus e o bônus da prova em todos os minutos do filme: uma moral esticada, amassada, contrastada e explorada para opinião do espectador.
Em outras palavras, o novo "Oppenheimer" tem em suas três horas de duração uma chama acesa e muito bem abastecida de carvão: são várias teorias abertas, morais questionadas, sentimentos remexidos que acrescentam ao filme uma densidade desigual, mais pesada no estômago do que qualquer outro filme já produzido por Nolan. Mais do que somente a a problemática da bomba, o longa revive o momento caótico e frágil do fim da Guerra.
Para compor o cenário caótico no qual o Projeto Manhattan foi inserido, da mesma forma como toda a pressão depositada em Oppenheimer, o filme faz uso de cenas fortes, por vezes psicologicamente violentas. Não à toa, foi classificado para maiores de 18 anos: há tomadas de sexo e nudez explícita, conteúdo sensível.
Nesse aspecto, Nolan também ressalta sua consagração do cinema: há duas cenas que são bem difíceis de se assistir, uma delas envolve Emily Blunt (Kitty) e Florence Pugh (Jean), outra está disposta em um dos discursos do protagonista. Não porque são violentas, mas porque são expositórias.
Quem deseja assistir a "Oppenheimer", portanto, precisa "ter estômago": a duração é longa, os diálogos são densos e as cenas são fortes.
No roteiro, Nolan mistura bem os sentimentos conflitantes de todo o Projeto Manhattam, deixado nas mãos de Oppenheimer e dos demais físicos envolvidos no desenvolvimento da bomba. A beleza da Física, das descobertas químicas do processo e do brilho no olho de quem reinventa a história da humanidade se choca constantemente ao intenso processo jurídico que se desenrolou após a explosão, das articulações geopolíticas do fim da Segunda Guerra Mundial e do sentimento norte-americano apavorado pela ameaça comunista.
Esse contraste de sentimentos tem um destaque especial, porque a todo momento em que a moral do protagonista é posta à prova, a elegância da explosão das partículas, das chamas, da fumaça, do impacto e da descoberta, a acompanha. Os sentimentos de Oppenheimer, combinados uma brilhante trilha sonora e mixagem de som, criam o nó na garganta do espectado. Fica a sensação ruim de participar de algo errado, mas ver certa beleza naquilo.
A carga intensa dessas sensações também se mistura a um "julgamento" que intercala cenas coloridas e em preto e branco. A densidade do jogo político envolvido ali, das decisões do júri e provocações de advogados, complementa um sentimento tão explosivo quanto a própria bomba: a necessidade de saber a verdadeira opinião de Oppenheimer sobre a criação. E ela não vem.
Junto da polêmica parte física da elaboração do Projeto Manhattan está o envolvimento geopolítico que Oppenheimer representou durante todo o processo. Simpatizante aos movimentos de esquerda da época, sua aproximação com a arma mais letal do planeta a uma ideologia oposta a dos Estados Unidos é posta a prova em todas as etapas da criação da bomba. Mais tarde no filme, ela também o condena.
Embora não seja de tão simples compreensão — é difícil que nós, brasileiros, consigamos sentir o impacto da bomba, da tensão geopolítica da Segunda Guerra Mundial e do medo comunista vindo da Rússia da mesma forma como entendem os norte-americanos —, essa faceta do entorno político comprime a cidade de Los Alamos como uma cobra prestes a sufocar sua presa pela constrição. E adiciona ao filme uma densidade que pode ser difícil de sustentar em toda a sua longa duração.
Se Oppenheimer for indicado ao Oscar — e acredite, há uma boa possibilidade —, é possível que vença a categoria de melhor mixagem de som. A presença dele é tão integrante do filme quanto os personagens, e acrescenta uma densidade a cada uma das cenas inigualável.
Se deixar sentir pelo momento da explosão da bomba, um dos melhores do filme, ou pela tensão do julgamento ao fundo das cenas nas quais Cilian Murphy aparece em foco, traz toda uma nova experiência à produção de Nolan.
É evidente que assistir a um filme é uma atividade que pode ser feita, hoje, em qualquer dispositivo. Mas no caso de "Oppenheimer", a experiência do cinema acaba entregando mais para o espectador. Isso porque a mixagem de som é um dos aspectos mais importantes do filme, e a qualidade dele pode interferir nos sentimentos que ele pretende causar.
A quem tiver o interesse de pagar o ingresso, vale a pena investir um pouco mais para entrar no IMAX. E nesse ponto, é verdadeira a propaganda: você pode ver um filme, ou fazer parte dele.
"Oppenheimer" não é um filme para qualquer um. Ainda que embebido nas famosas assinaturas de Nolan, esse talvez seja o primeiro longa que traz novos aspectos às produções do diretor, tem uma duração mais longa do que o comum e exige concentração do início ao fim.
Dito isso, "Oppenheimer" configura no top 5 dos melhores filmes do diretor. Não é bom o suficiente para desbancar "A Origem", "Interestellar" e "Amnésia" do pódio, mas sem dúvidas é um dos maiores lançamentos do ano para o cinema. E vale cada centavo do ingresso.
"Oppenheimer" é o 12º filme de Christopher Nolan. Ele conta a história de J. Robert Oppenheimer, físico conhecido como o 'pai da bomba atômica', responsável pela criação do Projeto Manhattan, que culminou na criação da explosão nuclear do mundo, detonada em 1945, no Novo México.
O longa é baseado na vida de "Oppenheimer", descrita na biografia American Prometheus: The Triumph and Tragedy of J. Robert Oppenheimer" (Oppenheimer: o triunfo e a tragédia do Prometheu americano), de Kai Bird e Martin Sherwin, publicada em 2006 e vencedora do Prêmio Pulitzer.
O filme estreia no dia 20 de julho nos cinemas brasileiros.
"Oppenheimer" recebeu classificação indicativa para maiores de 18 anos no Brasil.