Denise Fraga: atriz eternizou as mãos na calçada da fama de Gramado (Edison Vara/Ag.Pressphoto)
Repórter de POP
Publicado em 21 de agosto de 2025 às 16h57.
Última atualização em 21 de agosto de 2025 às 17h01.
Gramado (RS)* - A inteligência artificial vem auxiliando — e ameaçando — uma das principais indústrias do mundo: a do audiovisual. Mas para Denise Fraga, a presença da tecnologia é só mais um adereço para a indústria do cinema. E não vai conseguir superar o humano quando o assunto é atuação.
"O que eu faço como atriz a IA não consegue fazer", disse a atriz em entrevista à EXAME, durante estreia de seu filme no 53º Festival de Cinema de Gramado.
"Aquele brilho do olhar do Mastroianni, eles não vão conseguir fazer. A IA não vai dar conta daquele negócio que a gente sente e não sabe muito bem o que foi, mas te faz ficar com o olho cheio de água. Vão sentir falta de nós: atores".
Denise Fraga esteve no Festival de Gramado na última quarta-feira, 20, para estreia do filme "Sonhar com Leões", que compete ao principal prêmio do evento. Por lá, ela destacou os desafios que a IA representa para o cinema mundial e a importância da presença humana para gerar conexão com o público.
"É incrível, é uma maravilha esse negócio. Mas, meu filho me mostrou um vídeo de uma menina andando na Times Square, e era tudo IA, aquela menina não existe, não é uma atriz. Tem um diretor de teatro que fala uma coisa que eu adoro, que é: 'o público continua indo ao teatro na grande esperança de ver um ator morrer em cena'. E eu só pensava no fato de saber que ela não pode morrer na cena, enquanto ela estava andando", disse a atriz.
Quer a classe artista queira ou não, a ascensão da IA no cinema já é uma realidade. Na edição de 2025 no Oscar, por exemplo, estava em vários dos filmes que concorreram à premiação — "O Brutalista" e "Emilia Pérez" entre eles.
A própria Academia de Artes e Ciências Cinematográficas, que compõe o júri do Oscar, se pronunciou sobre o uso dela na criação de filmes, tema que tem gerado intensos debates em Hollywood.
Em nota, no início do ano, a entidade destacou que a presença da IA em filmes não vai ajudar nem prejudicar as chances de uma produção ser indicada ou premiada. Não será um critério de desqualificação nem de preferência, mas a presença humana no processo de criação continua a ser fundamental para o reconhecimento da Academia.
Fora dos tapetes vermelhos da Academia, outros festivais melhores de cinema começam a mudar suas diretrizes para incluir produções feitas inteiramente com a tecnologia. É o caso do AI Film Festival em Nova York, que reuniu 10 curtas-metragens criados inteiramente com IA. A iniciativa é apoiada pela Runway, uma empresa que oferece recursos como geradores de imagens e vídeos e que já firmou parcerias com o estúdio Lionsgate para treinar modelos com base eu seu acervo.
A Runway permite que os usuários criem personagens, cenários e até filmes inteiros com a ferramenta inteligente. O apoio ao festival tem como objetivo dar legitimidade a esses conteúdos, mostrando que a tecnologia pode gerar obras criativas e não apenas "desperdício" visual (chamados de “AI slop”), como muitos críticos afirmam.
O próprio festival de Gramado, do qual Denise Fraga participa, abriu uma exceção nas regras para reconhecer os filmes que utilizam a tecnologia. Pela primeira vez neste ano, o evento passou a premiar filmes gerados com inteligência artificial.
Quatro obras foram geradas com modelos de processamento inteligente, estarão disponíveis até esta quinta-feira, 21, de graça, no site do festival. Na próxima sexta-feira, 22, haverá uma sessão presencial no às 14h, no Teatro Elisabeth Rosenfeld, e uma votação popular decidirá qual é a melhor produção.
*A repórter viajou a convite da Gramado Parks para a cobertura do 53º Festival de Cinema de Gramado